Mostra marca início da revitalização de bairro histórico
Publicado em 15 de Abril de 2015.
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Foto: Alessandro Maschio
Village Arte Decor acontecerá de setembro a novembro no Monte Alegre, em Piracicaba
O processo efetivo de revitalização do Monte Alegre, um dos bairros mais antigos e tradicionais de Piracicaba, começa com o Village Arte Decor, que teve concorrido lançamento nesta terça-feira (14), no Monte Alegre, palco do evento. Quem afirma é o prefeito da cidade, Gabriel Ferrato (PSDB), presente ao lançamento. ´´É o primeiro passo concreto desse processo de revitalização do Monte Alegre´´, afirma.
De acordo com Ferrato, a questão vem sendo analisada há algum tempo em sua administração e por isso não disfarça o otimismo com o evento. ´´Vejo o projeto com muito otimismo. O Monte Alegre é um espaço privilegiado para a cidade, que precisa voltar novamente os seus olhos para o bairro. Por isso a importância desse projeto´´, afirma o prefeito.
Organizado pelos empresários Bruno Chamochumbi (MBM Escritório de Ideias) e Eduardo Pelaes (PublicArt), o Village Arte Decor tem como slogan Grandes Transformações Começam com Grandes Sonhos. A programação, que acontece entre 25 de setembro e 8 de novembro, terá como cenários barracões desativados e antigas casas de operários da Usina Monte Alegre, num espaço de 4.000 metros quadrados dividido em 27 ambientes internos e externos. Inclui palestras e workshops, gastronomia, música, artes plásticas e história.
´´O evento quer valorizar as manifestações artísticas e culturais do Estado de São Paulo, em patrimônios importantes de outras cidades paulsitas, onde a mostra deverá acontecer nos próximos anos´´, afirma Chamochumbi. Isso porque a mostra não deve acontecer apenas em Piracicaba. ´´A ideia é inovar, reciclar o conceito de mostra. Não será algo estático. Permite interação com o público e, para isso, a sede ser no Monte Alegre é muito importante. É um espaço significativo, e estamos reforçando a questão da sua revitalização. O carisma do bairro ajuda a deixar as pessoas mais interessadas´´, reforça Pelaes.
O empresário Wilson Guidotti Junior, o Balu, um dos proprietários da área, também está otimista. ´´É fundamental para o Monte Alegre. A ideia é que o evento tenha continuidade e que traga frutos. Há um público grande que não conhece o espaço. Se você considerar que a usina foi desativada há quase 40 anos, há duas gerações que têm curiosidade em conhecê-la´´, afirma.
O acesso será feito por bilheteria e portaria únicas, organizadas para oferecer ao público uma visita com fluxo orientado e visualização de todos os ambientes. Às terças-feiras, parte do valor da entrada (ainda a ser definido) será revertido para o Fundo Social de Solidariedade de Piracicaba.
MONTE ALEGRE
O Monte Alegre tem uma rica história em que se misturam personagens como os barões do açúcar de São Paulo, o romancista José de Alencar, o pintor Alfredo Volpi e o usineiro italiano Pedro Morganti. No início do século 19, era uma fazenda Monte Alegre, que sediou um engenho de açúcar dos mais produtivos, comandado por José da Costa Carvalho, o Marquês de Monte Alegre.
Com a morte do marquês, a administração passa para Antonio da Costa Pinto, novo marido da viúva, Maria Isabel. O local passa a receber visitantes ilustres, como José de Alencar, considerado criador do romance brasileiro. Ele escreve Til, publicado em 1872, inspirado no ambiente rural do Monte Alegre. O título teria sido inspirado nas curvas do Rio Piracicaba, que Alencar achava parecidas com o sinal gráfico.
Chamado de Conselheiro Costa Pinto, Costa Carvalho morre em 1887. A partir daí Monte Alegre passa por diversas mãos, sempre tendo como bases a monocultura da cana-de-açúcar e a mão-de-obra escrava. No início do século 20, o Engenho do Monte Alegre tem uma produção anual de 5.000 sacas de açúcar, de 60 quilos cada uma. Porém, só a partir de 1910, quando é adquirido por Pedro Morganti, que irá se tornar referência brasileira na produção açucareira.
Nascido na Itália, em 1876, Morganti cria a União de Refinadores, em 1916, e transforma o engenho em Usina Monte Alegre. Pouco antes da Segunda Guerra Mundial, amplia a área das propriedades rurais e, em conseqüência, sua produção. Em 1938, a Usina Monte Alegre era formada por enormes propriedades que se espalhavam por Piracicaba, Limeira e Rio das Pedras.
O bairro tinha 3.000 habitantes, a maioria absoluta formada por funcionários da usina que contavam, além das vilas operárias, com educação de primeira qualidade (o Grupo Escolar Monte Alegre), armazém, farmácia, padaria, torrefação de café, bar, cinema e clubes recreativos. A igreja, a Capela de São Pedro, exigência de Morganti por conta de seu fervor católico, foi construída nos moldes dos templos italianos e decorada pelo jovem pintor Alfredo Volpi.
As terras do Monte Alegre, somadas a pequenos sítios, tinha mais de 5.000 hectares. Com a morte de Morganti, nos anos 50, o império foi aos poucos se desfazendo e em 1971 a Refinadora Paulista passa a pertencer à família Silva Gordo. Em 1980 a razão social fica Indústria de Papel Piracicaba. A partir daí a configuração do bairro como vila operária deixa de ter razão de ser. Agora, a riqueza cultural e histórica do Monte Alegre aguarda um novo caminho. E o Village Arte Decor tem tudo para ser o primeiro passo.