Piracicaba parece ter nascido predestinada ao pioneirismo nas mais diversas áreas de atuação humana. Desenvolvendo-se à margem das grandes rodovias modernas – e sendo ponto final de estradas férreas – acabou, em meu entender, por criar um sistema próprio de sustentabilidade e de criação, movido por sua gente pioneira.
Ainda sem ser povoação, já fora notada pela qualidade de suas terras e madeiras, tendo, por assim dizer, uma “indústria de canoas” anotada pelo capitão-mór de Porto Feliz, em seu livro Viagens pelo Brasil (1817/1820). Eram embarcações feitas “num só tronco de peroba ou timbúva”, com 50 pés de comprimento e cinco e meio de largura.
O pioneirismo urbano de Piracicaba se comprova no final do século 19: iluminação elétrica, 1893; abastecimento de energia, 1887; serviço de esgotos, 1898. Figura proeminente, visionária, foi a de Luiz de Queiroz, que implantou a energia elétrica em nossa cidade antes mesmo de São Paulo tê-la (1889). Apenas Campos (RJ) nos antecedeu.
Pioneirismo e ousadia, também, foi a implantação da Navegação Fluvial Paulista, por decreto de D.Pedro II, a João Luiz Germano Brühns, em 1873. O primeiro navio a vapor foi o Explorador, lançado às águas em 1874.
Na política, avulta a figura do ituano Prudente de Moraes, que, passando a residir ainda adolescente em Piracicaba, forma-se em direito, passa a advogar ainda no Império, torna-se vereador, preside a Câmara Municipal e, na República, assume, primeiro, o Governo de São Paulo e, em seguida, é eleito primeiro presidente civil da República.
Prudente de Moraes impõe, a São Paulo, o modelo de educação que fora implantado em Piracicaba pela missionária estadunidense Miss Martha Watts, na criação do mais do que centenário Colégio Piracicabano. E, na educação, Piracicaba se impõe ainda em fins do século 20 com o colégio dos metodistas, com o Colégio Assunção, de freiras católicas, e com o sonho visionário de Luiz de Queiroz, criando a Escola Agrícola, hoje Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). É a Esalq que se tornará uma das fundadoras da USP (Universidade de São Paulo), ao lado da Filosofia, da Politécnica e da Faculdade de Medicina.
Graças a Thales de Andrade e a Sud Mennucci, Piracicaba foi a primeira cidade brasileira a ter uma Escola Normal Rural.
A primeira Igreja Adventista do Estado de São Paulo foi instalada em Piracicaba, em 1895; a Igreja Metodista é a terceira mais longeva do Brasil. Ainda quanto à religiosidade, a Festa do Divino – com a folia na água – é a mais antiga que se conhece, datada de 1826.
É, nesse espaço, impossível relacionar as iniciativas pioneiras, em São Paulo e no Brasil, mas há que se destacar; a primeira indústria paulista, dos Krahenbühll; a máquina de descascar café dos Englelberg; a criação do Banco de Piracicaba em 1890, ao lado de mais sete cidades paulistas; o Engenho Central criado pelo Barão de Rezende com autorização do Imperador; a criação do primeiro sanatório brasileiro, para tuberculosos, por Lydia de Rezende, em 1903. E, em especial, a agroindústria açucareira, liderada a partir dos 1920 por empresários do porte de Mário Dedini, Pedro Morganti e Pedro Ometto.
E que não se esqueçam os esportes: o E.C. XV de Novembro de Piracicaba foi o primeiro time de futebol do Interior a ingressar, em 1949, na Primeira Divisão da federação futebolítisca de São Paulo. E, no basquete, o XV foi campeão sul-americano e mundial, tanto no masculino como no feminino, nos 1950/60. Trata-se, pois, de um destino de pioneirismo. Ou não?