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Cozinha em evolução

Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 04ª Edição | Outubro | 2012
Foto: Divulgação

“Escondida” por muito tempo, cozinha ganha status de principal lugar da casa

Sem a menor dúvida, a cozinha vem contando a história da evolução humana. Na pré-história, em 4000 a.C., o espaço reduzia-se a uma simples fogueira para cozinhar uma carne e afastar os animais maiores. Encarada como um local sujo e braçal até o século 18, ela foi parar perto das acomodações da criadagem, em porões afastados do olfato da burguesia. E, ao passar pela Revolução Industrial, na segunda metade do século 19, a cozinha começa a ser pensada como uma linha de produção. E assim surge a aplicação da lógica à cozinha para, somente no século passado, na década de 20, absorver conceitos otimizadores do espaço.

O renascimento do espaço começou pela arquiteta vienense Margarete Schütte Lihotzky. Ela desenvolveu o conceito da Cozinha de Frankfurt em 1926. Em parceria com o arquiteto Ernest May, de Frankfurt/Main – responsável pela urbanização de Frankfurt – surgiu um programa de construções de residências progressivo, por meio do qual as áreas de mobília de moradias deveriam ser equipadas de forma mais racional.

A Cozinha de Frankfurt foi inspirada nas cozinhas dos navios de guerra alemães. Nestas embarcações produziam-se enormes quantidades de comida em espaços relativamente pequenos. Assim, iniciaram-se os primeiros estudos da tarefa doméstica no campo da ergonomia aplicada ao projeto arquitetônico, conta André Luiz Souza Barbosa, em sua dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo).

O projeto técnico daquela época para cozinhas orientou-se pelo taylorismo dos anos 20, que maximizava desempenhos do trabalhador em determinados espaços. Por esta veia, percursos de trabalho e ciclos de movimento foram examinados com fita métrica e cronômetro, e revertidos ao conceito da cozinha.

E surgia a cozinha embutida, que economizava trabalho e foi instalada em mais de 10 mil moradias durante a implantação do plano diretor da cidade de Frankfurt, na Alemanha. Após a Segunda Guerra Mundial, este modelo de cozinha se estabeleceu na Europa e nos Estados Unidos como padrão de arquitetura. Por fim, este conceito pôde ser visto como protótipo para uma unificação considerável do design de cozinhas em países industriais.

 

MAIS UM PASSO

Em 1922, nos Estados Unidos, Christine Fredericks Mary Pattison já havia realizado um estudo que considerava as linhas de circulação da cozinha (estudo do fio). Ela examinou os movimentos conforme a distribuição certa ou errada dos móveis da cozinha. O resultado deixou claro que a disposição da mobília da cozinha surtia um grande efeito em vencer os percursos e, com isso, também o tempo necessário de trabalho no local.

Em 1927, e ainda na Alemanha, o arquiteto Adolf Gustav Schneck tentou dimensionar a cozinha planejada às mercadorias de estoque. Suas reflexões em relação ao armazenamento de alimentos também consideravam a combinação de aparelhos de cozinha para pequenos domicílios, o que contribuiu como ponto de partida para planejamentos dessas áreas.

Passando à década de 50, um estudo sobre o triângulo de trabalho foi desenvolvido na Universidade de Cornell (EUA). O modelo que se imaginava para uma relação conveniente dos percursos entre os principais pequenos espaços na cozinha descreve um triângulo entre despensa, preparação com pia e área de fogão.

 

HOJE

Nos séculos 18 e 19, foram realizadas pesquisas e lançados princípios de ideias que, em sua maioria, caíram no esquecimento até os dias de hoje. Pensando em utilizar mais afinadamente esses nortes, a Todeschini – uma das maiores empresas em mobiliários planejados no Brasil – associou-se à austríaca Blum para otimizar a cozinha.

Chamado de Dynamic Space, o conceito visa a aproveitar novamente algumas das antigas e convenientes sugestões históricas por meio de diretivas de desenvolvimento, pontos de partida, altura de trabalho, percursos curtos, detalhes da cozinha de Frankfurt e outros.

Com o Dynamic Space implantado, a Todeschini passou a oferecer planejamentos contendo as considerações básicas de ciclos otimizados, menores percursos, espaço disponível suficiente em espaços mais estreitos – até mesmo acima da porta –, possibilidades de organização – divisão interna para talheres em geral, sistema a granel para gêneros já abertos, escorredor para pratos –, acomodação ideal para utensílios e detalhes bem elaborados como escorredor de pia inclinado, escorredor no armário para panelas, aberturas de ventilação e armários.

A Todeschini também leva em conta a altura de trabalho para diferentes estaturas de pessoas e o chamado triângulo de trabalho, que orienta sobre a distribuição ideal dos setores de trabalho – para pessoas destras no sentido dos ponteiros do relógio e para as canhotas, ao contrário.

Setorizar a cozinha foi outro passo absorvido no Dynamic Space. Dividida em cinco setores – despensa, armazenagem (copos, louças e talheres), área de pia, preparação (principal setor, onde fica o balcão para preparação dos alimentos e guardam-se os objetos mais utilizado como a tábua de carne), cozinhar e assar (área do fogão e forno e demais equipamentos como micro-ondas, assadeiras e frigideiras) –, tudo fica à mão.

Para completar e fechar um projeto contemporâneo de cozinha, a união da Todeschini com a Blum proporciona a previsão dos espaços disponíveis por meio do planejador eletrônico de setores – disponível no site Dynamic Space – e oferece gavetas e extensões para armários inferiores a fim de melhorar o acesso e a visão geral do espaço baixo com base na ergonomia.

O diretor comercial da Todeschini, em Piracicaba, Celso Braga Junior, destaca que hoje em dia a cozinha tornou-se um ambiente de extrema relevância em um projeto residencial com foco no bem viver. “É fato que os espaços gourmet são cada vez mais privilegiados nos lançamentos imobiliários. Cozinhar em casa passou a ser entendido como uma forma de lazer, de agregar família e amigos e de fugir do trânsito e da violência fora dos portões.”

Fechando o assunto, a historiadora e professora de história moderna Laura de Mello e Souza, disse recentemente em artigo publicado na revista Lindenberg & Life: “O passar dos anos fez com que o espaço da cozinha mudasse de natureza e se insinuasse mais e mais, atraindo como ímã a sociabilidade que antes ocorria na sala. [...] As visitas chegavam e iam para a cozinha, louvando o apuro com que estavam dispostos o frasco de flor de sal, os azeites perfumados, as réstias lustrosas de cebola, os panos de pratos da Provença, sem falar nos potes de cerâmica, nos enfeites e em muito do que antes ornamentava as salas”, sendo este último parágrafo um registro acerca da evolução do espaço, experiência pela qual ela mesma passou. (por Cristiane Bonin)

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