Experimente pedir a alguém, de Piracicaba ou não, que cante o hino do XV. É quase certo que a pessoa comece assim: “Cáxara de fórfe, cúspere de grilo...” Pois bem, este não é o hino do XV. Pelo menos não o oficial. O verdadeiro hino (sem desmerecer o outro, que surgiu por meio de uma brincadeira) foi composto no final dos anos 50, por Jorge Chaddad e Anuar Kraide.
Com uma melodia pomposa, estilo marcha mesmo, típica dos hinos, tem também uma letra tradicional, que louva as conquistas do clube: “Salve XV de Novembro/ Glorioso esquadrão/ Na vitória ou na derrota/ Está em nosso coração.”
Só mesmo o XV para ter dois hinos. Mas o Cáxara de Fórfe, como ficou conhecido, tem uma estranha particularidade. Até hoje ninguém sabe quem é seu ‘pai’, ou seja, o verdadeiro criador. “Ele é atribuído aos estudantes da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), nos anos 60, época em que o time estava num bom momento. É claramente satírico, e mostra como os alunos de fora que vieram estudar em Piracicaba viam o sotaque dos moradores da cidade”, conta Rui Kleiner, formado em música pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
É satírico? Claro. Mas, na visão de Kleiner, não tem uma intenção de deboche, de crítica. É carinhoso mesmo, tanto que os piracicabanos da gema o assumiram e não veem problema nenhum na sua letra jocosa.
É chamado de hino popular do XV. E a popularidade aumentou bastante no You Tube, com vários vídeos, incluindo um com uma dublagem do falecido Michael Jackson. Só que, explica Kleiner, nunca foi cantado pela torcida durante uma partida do XV. Por quê? Dá azar? Nada disso, explica o músico. “É porque cada um tem uma letra do hino. Não existe uma letra formal, até porque isso ele nunca foi”, diz. A ‘cáxara de fórfe’ é o primeiro elemento, que não pode faltar, e a partir daí cada um tem sua receita. Outro detalhe: não há uma gravação tradicional.
Bem diferente do hino oficial, gravado pela primeira vez em 1960, pelo seresteiro Pedro Alexandrino. “Jorge Chaddad me contou que ele e Anuar Kraide tiveram a ideia de fazer um hino para o time nos anos 50, depois de assistirem a um jogo vencido pelo time de Piracicaba. E ter essa música estava fazendo falta”, lembra Kleiner.
Isso porque o primeiro hino, composto no longínquo ano de 1914, por Pousa Godinho, tinha o ritmo de valsa e já estava totalmente anacrônico. O hino foi regravado em 1995, mas Kleiner lembra que na época o patrocinador do time era a companhia aérea TAM, que até mudou as cores da camisa para vermelho e azul. “O presidente, Rolim Amaro, queria mexer na letra, fazendo menções à empresa, mas nós demos um jeito, na hora da gravação, de tirar essas mudanças”, lembra. Um típico drible de músico. Agora, a boa notícia é que o hino vai receber outra gravação, mais atualizada e moderna, segundo Kleiner. O XVzão merece. (por Ronaldo Victoria)
Autores: Anuar Kraide e Jorge Chaddad
Salve o XV de Novembro
Glorioso esquadrão
Na vitória ou na derrota
Está em nosso coração
No basquete e futebol
É motivo de vaidade
Pioneiro da lei do acesso
Engrandece nossa cidade
Vamos XV para a frente
Outra vitória conquistar
Destemido e valente
Só nos pode orgulhar
Vamos XV para a frente
Outra vitória conquistar
A torcida está presente
Para sempre incentivar
XV! XV! XV!
(Domínio popular)
Cáxara de fórfe
Cúspere de grilo
Bícaro de pato
Asara de barata
Nhéque de porteira
Já que tá que fique!
Suvaco de cobra
Sem óio de breque
Ócros de raibã
Carcanhá de bode
Tocera de grama
Já que tá que fique!
XV, XV, crá, crá, crá!