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Senhor XV

Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 07ª Edição | Maio | 2013
Foto: Alessandro Maschio / MBM Ideias
Aos 83 anos, Rubens Leite do Canto Braga acredita no poder do esporte. E não é da boca pra fora, pois até hoje joga suas partidas de basquete com os amigos no Clube de Campo. E essa consciência vem desde outros tempos, quando decidiu se dedicar à educação física, carreira que não era vista como algo promissor.

Desde o começo, Rubens Braga (que foi também vereador por dois mandatos em Piracicaba) conviveu nos meios esportivos da cidade, principalmente do XV de Piracicaba, atuando mais nas categorias de base. Trabalhou não apenas com o time de futebol, do qual foi técnico e presidente, mas também com o basquete masculino e feminino, ao lado de Wlamir Marques e Pecente, Maria Helena e Heleninha, entre outras feras do esporte.

 

Tutti Condomínios - Desde quando vem a ligação do senhor com o XV?

Rubens Braga - Desde criança sou fanático por esporte. Quando jogava futebol de botão, meu time era o XV. Depois, quando comecei a assistir aos jogos, com campeonato amador, o XV tinha um adversário dificílimo, que era a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz).

Era o grande rival?

O que me parece é que as duas equipes que se uniram para formar o XV eram para enfrentar a Luiz de Queiroz. As duas equipes, uma era da família Guerrini, outra dos Pousa.

O senhor jogava?

Eu não jogava. Era muito garoto e com 18 anos fui fazer escola de educação física em São Paulo, só tinha lá na USP (Universidade de São Paulo). Eu só não joguei no juvenil do XV porque eu formei o juvenil da Luiz de Queiroz.

Como foi sua experiência em São Paulo?

Fiquei dez anos lá, fiquei campeão universitário de futebol pela Escola de Educação Física. Mas não quis ser profissional de futebol.

Por quê?

Porque minhas chances apareceram em outros esportes: futebol de salão e voleibol. Eu tinha jeito para todas as modalidades.

Voltou quando para Piracicaba?

Em 1958. Poderia ter ficado lá, mas minha família é daqui e estava louco para voltar para cá. E apareceu a chance quando foi criada aqui a Delegacia Regional de Esporte. Vim como delegado regional.

Decidido a mudar o esporte na cidade?

Nossa, naquele tempo o esporte era visto de forma bem amadora. E a organização naquele tempo, ainou outros eventos. Mas eu movimentei a cidade com uma série de campeonatos, de pedestrianismo, fiz voltar a travessia do rio Piracicaba a nado, ciclismo. Sempre gostei e recebi muita ajuda. Não há quem não goste de esporte. Só precisa ter alguém que fomente.

O senhor era dirigente da fase de ouro do basquete do XV. Como foi esse tempo?

Sempre trabalhei. Mesmo em São Paulo, era o representante do XV lá. Foi nesse período que voltei e sugeri que trouxessem dois garotos de São Vicente, que vi jogar e fiquei impressionado.

Wlamir Marques e Pecente?

Eram. Fui encarregado de ir à casa do Wlamir Marques conversar com os pais dele. Os pais não estavam querendo. Mas eu me utilizei de uma facilidade para tentar convencê-los. Eu disse: “Ele vai ficar interno no Colégio Piracicabano, o único problema é que lá é metodista”. Mas eu sabia que a família era metodista.

Foi bem "malandro", então?

Pois é, e com isso eles acabaram deixando. E o engraçado é que não senti pressão dos dirigentes para que eles não viessem. Talvez São Vicente não lhes desse tanto valor.

E os meninos causaram uma revolução...

Nossa! Os dois eram jogadores extraordinários. Mas o Wlamir chamava mais atenção porque era finalista, um ala mais agressivo, enquanto o Pecente era mais armador.

E o basquete feminino?

Também fui diretor e, às vezes, técnico. Era o tempo de Maria Helena, Heleninha, Zilah, Delci, Leonésia, Neusinha, Élide.

A cantora Simone também jogou?

A Simone passou um período por Piracicaba. Cantava muito bem, mas não era uma jogadora boa.

E no futebol profissional, foi dirigente e técnico?

Fui diversas vezes técnico. Fui com vários presidentes, com o (Romeu Ítalo) Rípoli, o comendador Romano, José Luiz Guidotti.

Como era trabalhar com o Rípoli?

Não era fácil, mas ele era um homem superinteligente. Para ser dirigente, do futebol principalmente, onde tem malandro pra burro, ele ganhava de todo mundo nesse aspecto. Quando fui candidato contra ele para presidente, meus amigos falavam: “Você pode ser melhor, mas, para dirigir futebol vou votar no Rípoli”. E perdi a eleição.

O senhor diria que o futebol do XV lhe deu mais alegrias ou decepções?

Ah, mais alegrias. Mas eu não me conformo com uma série de coisas que acontecem no campo. Defendo a tese de que o esporte serve para educar. Exemplo para mim é tudo.

Qual a maior alegria que o XV lhe deu?

Toda vez que o XV volta à divisão especial é uma festa. Em compensação quando cai é uma tristeza.

O time não tem muitos altos e baixos?

É. Porque, infelizmente, o que prevalece hoje é o dinheiro. Se você tiver dinheiro, tem equipe. Se não, nada feito. Você é prejudicado em tudo, porque se você não tem dinheiro, até o juiz quer o dele.

Então, ser quinzista é ser sofredor?

Torcer para uma equipe menor tem disso. Você vê Corinthians, Santos, a maneira como eles ganham os jogos. Todo jogo equilibrado eles ganham. O juiz dá um pênalti, acha um jeito. Agora, com a gente é o contrário.

E o que se pode fazer?

Não tem como lutar contra isso. A luta do XV no Campeonato Paulista, na verdade, é para não cair. Não temos condições de disputar o título. O torcedor tem de ser realista, ficar numa luta intermediária. Só se for campeão das equipes do Interior, como já fomos diversas vezes. Porque não dá para enfrentar um Corinthians, um Santos. Um é campeão mundial, outro tem um dos melhores jogadores do mundo. (por Ronaldo Victoria)

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