Elevada carga tributária, encargos trabalhistas, inadimplência, juros bancários, greves de órgãos públicos... Inúmeros são os percalços que o empresariado administra em suas atividades cotidianas, e a essa lista tão exaustiva acrescentamos mais uma ocorrência que desafia os gestores de entidades de todos os portes: as fraudes corporativas. No Brasil, a corrupção é sempre associada à malversação de dinheiro público e conluios capitaneados por políticos desonestos, mas episódios envolvendo irregularidades internas nas empresas crescem a cada ano, abalando o patrimônio moral e material das instituições envolvidas.
Escândalos como o da Master Blenders, antiga Sara Lee, maior empresa de café do mundo, repetem um padrão em que a manipulação de dados e a falta de controles estão sempre presentes, estimulando operações simuladas ou vendas falsamente aumentadas que fazem brilhar os olhos de acionistas e do mercado, garantindo bônus e elogios para os envolvidos, mas que terminam em prejuízos milionários assim que constatado que os balanços escondiam números mentirosos. Segundo a revista Exame, edição de 19 de setembro do ano passado, foram apuradas perdas diretas de R$ 250 milhões na filial brasileira da Master Blenders, com queda de 7% no valor das ações da empresa, graças a um esquema que registrava vendas inexistentes. Ainda que uma apuração rigorosa tenha sido deflagrada na ocasião, sempre subsiste o receio de que os prejuízos constatados na ocasião podem ser maiores que o esperado.
Empresas de menor porte não estão a salvo de sofrer danos em operações fraudulentas, mesmo que em escala reduzida. Longe da sofisticação dos malabarismos contábeis utilizados pelos bancos Panamericano, Morada e Cruzeiro do Sul em fraudes desmascaradas nos últimos tempos, pequenas e médias empresas são vitimadas geralmente pelo excesso de confiança de proprietários ou administradores em pessoas próximas, que se aproveitam da negligência – total ou parcial – dos responsáveis na verificação dos negócios da empresa. Manipulando o pagamento de contas e entrega de mercadorias, ou desviando pequenas quantias do caixa ou da conta corrente, dentre outras práticas, os prejuízos podem se acumular ao longo de meses e anos até serem descobertos.
Uma correta divisão de tarefas dentro da empresa, evitando a concentração de poderes em poucas pessoas, o acompanhamento constante do giro dos negócios, a adoção de medidas de fiscalização e de controles e a realização de auditorias pontuais são instrumentos que podem diminuir a incidência de irregularidades. Para os interessados pelo tema, a Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo, oferece programa de pós-graduação que aborda a prevenção e o enfrentamento de fraudes corporativas, e obras como a elaborada pelo delegado Weser Ferreira Neto (Fraudes Empresariais, Editora Fórum, 2011) também fornecem subsídios relevantes para uma maior compreensão do assunto.