Cena 1 – O caminhão perdido
“A gente sempre faz de tudo para oferecer o melhor, para levar o espetáculo onde o público está, plagiando um pouco o Milton Nascimento. Adoro estar no interior de São Paulo porque as pessoas vêm nos ver porque gostam do teatro. Em outros lugares, como no Rio de Janeiro, elas querem se divertir apenas. Mas temos de respeitar isso também. Eu só fico chateada ao ver que no meio da tarde, não sabemos onde está o caminhão com figurinos e cenários (da peça que ela iria apresentar). A transportadora responsável, se é que se pode chamar assim, não dá mais explicação. Vamos ter de cancelar a sessão de sexta. Coisas da vida de artista!”
Cena 2 – O convite
“Eu não estava pensando neste espetáculo, tinha outro projeto. Mas todo mundo me dizia que eu tinha de comemorar os 80 anos de idade e 60 de carreira. Aí chega o Elcio, que eu chamo de um enlouquecido pelo teatro, com essa peça nas mãos, Azul Resplendor. A personagem principal é uma atriz famosa que há muitos anos está longe dos palcos. E o espetáculo inteiro fala do teatro, do nosso mundo, de gente que vive de atuar. Pensei: não posso recusar!”
Cena 3 – Alô Doçura
“Eu comecei, em 1953, fazendo uma peça de teatro, Uma Mulher e Três Palhaços, dirigida pelo Zé Renato. Fiz três filmes, um atrás do outro: Uma Pulga na Balança, o Craque e O Homem dos Papagaios. E logo comecei na TV Tupi. Sempre brinco que comecei com tudo de uma vez. Mas o que me marcou foi o seriado Alô, Doçura, que no começo eu fiz com Mário Sérgio, e depois com Johnny Herbert, meu primeiro marido. O texto, do Cassiano Gabus Mendes, que sabia tudo de televisão, era muito leve, mas com o tempo eu comecei com uma coisa que se chama ansiedade de atriz. A gente quer fazer coisas mais densas, sabe?”
Cena 4 – O mestre do suspense
“Eu fiz um teste com o diretor Alfred Hitchcock para um filme dele, Topázio. Aconteceu por causa da minha atuação na peça Black Out, que tinha sido um filme com a Audrey Hepburn, e fez muito sucesso no Brasil. Chegando lá, nos estúdios da Universal, eu nervosa, começaram a me colocar tudo postiço, seios, cabelos, e eu achei esquisito. Mas o maquiador me disse: ‘Meu bem, a Audrey Hepburn só teve direito de usar o próprio peito depois de dois anos!’. Então, tudo bem. Então, eu lá esperando e, de repente, ele aparece. No ato, todo mundo começou a aplaudir. Até eu. Ele começou a me perguntar da minha vida, até que isso me cansou. Não é fácil você falar de sua vida em outra língua. Então ele me disse: ‘Fale na sua língua!’. Não sei, esperei um tempo, a resposta que não veio. Depois soube que a personagem, uma cubana chamada Juanita de Córdoba, ficou com uma alemã, Karin Dor. E o filme foi um dos maiores fracassos de Hitchcock.”
Cena 5 – Laranja-lima ao vivo
“Na minha fase da Tupi, fiz muitas novelas de Ivani Ribeiro, que era uma mestra e uma escritora totalmente sem afetação. A primeira foi Meu Pé de Laranja Lima, baseada no livro de José Mauro de Vasconcellos, em que eu fazia a irmã mais velha do menino, o Zezé. Naquele tempo, não havia esse conceito de rede. Então, em Belo Horizonte, o capítulo passava um dia depois de São Paulo e Rio de Janeiro. O prefeito de BH, na época, nos contratou para encenar o último capítulo ao vivo, num teatro. Foi emocionante, a primeira vez que fiz novela no teatro.”
Cena 6 – Nossa Senhora de Lourdes
“A novela que me marcou mesmo foi Mulheres de Areia. Ruth e Raquel são lembradas até hoje. Foi uma ousadia a gente fazer o encontro das gêmeas com tão poucos recursos técnicos, mas a gente se arriscava. As gravações eram uma delícia, em Itanhaém. A casa de Ruth e Raquel, na praia, virou atração turística. Lembro que uma vez, eu estava numa gravação com o Guarnieri (Gianfrancesco), que fazia o Tonho da Lua, e veio tanta gente falar comigo que ele disparou: ‘Tenho a impressão de que estou com a Nossa Senhora de Lourdes!”
Cena 7 – No sofá com Mário Fofoca
“Quando vim para a Globo, nos anos 80, após a falência da Tupi, trabalhava muito com o Cassiano. O talento do Cassiano era de tirar o chapéu. Em Elas por Elas, eu contracenava com o Luiz Gustavo, que fazia o Mário Fofoca, um personagem inesquecível. A minha personagem, Dona Márcia, dava em cima dele o tempo todo, até que um dia ela dá um agarrão nele. Caímos os dois do sofá. E foi ao ar assim mesmo.” (por Ronaldo Victoria)