Nostalgia - Ai, que saudade me dá!
Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 13ª Edição | Abril | 2014
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Foto: Alessandro Maschio
Por Ronaldo Victoria
Da usina, do clube, da Teixeirada, da igreja, da praça... Quem morou no Monte Alegre, ou ainda está lá, sabe muito bem o que é saudade. O bairro, um dos mais tradicionais da cidade, passa por muitas transformações, mas ainda conserva aquele jeito do passado, com as casas antigas e as ruas de paralelepípedo. Para os moradores, não importa o tamanho da saudade, há também a certeza de estar num lugar especial.
Rose Odete da Silva, 43, cozinheira: “Eu tenho saudade do tempo em que a igreja ficava aberta e a gente podia também ficar naquela praça bonita. Apesar de eu não poder ir muito à missa, porque de domingo eu fico sempre ocupada. Trabalho há 17 anos no restaurante Paulino e de fim de semana o movimento é muito grande. Adoro meu trabalho e o bairro onde moro. Estou aqui há três anos, antes eu morava no Santa Rita e não me arrependo da mudança.”
Letícia Bianca Morgado, 19, estudante: “Eu gostava do meu tempo de infância quando eu vinha para cá e a gente ia à pracinha dar comida para os patos do lago. Era muito gostoso. Agora moro aqui, gosto bastante, mas sinto falta de mais coisas para pessoas da minha idade. Por isso, geralmente eu vou à casa de uma amiga na Vila Sônia.”
Marcos Souza, 40 anos, comerciante: “Praticamente nasci aqui, pois vim com meus pais da Fazenda Varginha, em Rio das Pedras, quando eu tinha só dez meses de idade. A minha maior saudade é do Clube Monte Alegre. Era um tempo em que a gente tinha muita atividade. Truco, bocha e baile no sábado. Tinha a cada 15 dias e a maioria dos casamentos daquela época começou durante o bailinho. Tinha também baile de Carnaval, mas o último aconteceu há quase 20 anos. E o clube acabou fechando as portas por volta de 2005. Foi uma tristeza.”
Geraldo Souza, 77, aposentado: “Eu estou no Monte Alegre há 40 anos e sinto falta do tempo em que tinha usina. Eu trabalhei na lavoura para a usina Monte Alegre, por onde me aposentei. Outra coisa que me dá muita saudade é a Teixeirada, onde sempre aconteciam umas reuniões gostosas aos domingos, e todas as famílias do bairro aproveitavam.”
Rayelle Didone, 17, estudante: “Eu nasci aqui e tenho saudade do tempo em que eu era pequena. A gente podia ficar solta pelas ruas, saía de casa e os pais nem se preocupavam porque sabiam que estava em segurança. Hoje não é mais assim, mesmo que o bairro ainda seja calmo. Então, sinto falta de um tempo que não volta.”
Teresinha Colletti, 58, cozinheira: “Eu estou aqui no bairro há 37 anos. Vim desde que me casei e quem tem saudade mesmo é meu marido, Antonio Carlos, que trabalhava na usina. Mas sinto falta da escola onde meus filhos estudaram. O menino fez até a oitava série, mas a menina parou e teve de ir estudar na cidade. Lembro também das festas que sempre aconteciam por aqui.”
Lúcia Rando, 51, confeiteira: “Eu nasci aqui e tinha tanta coisa boa! Tinha a Teixeirada e o clube. Nas festas, a gente gostava daquela brincadeira de quebra-moringa. O pessoal ficava de olhos vendados e tentava, com um cabo de vassoura, quebrar a moringa que tinha prêmios. Sinto falta de um tempo em que aqui tudo era mais animado. Quando eu era menina, ia levar marmita todos os dias, às 11h, para o meu pai, que trabalhava na usina. Era um tempo diferente, todo mundo tinha amizade. Era uma época em que a gente não precisava de muito dinheiro. No quintal da minha casa tinha pomar que dava laranja, chuchu, abobrinha, goiaba, jabuticaba e até sapoti. Ninguém se preocupava com ‘mistura’ na hora de comer, porque tinha tudo em casa.”
Graziela Cristina Silva, 42, comerciante: “Moro aqui desde os 15 anos. Fiquei dez anos fora, no Bairro Alto, mas voltei porque não existe lugar como aqui. Os bailes do Clube Monte Alegre eram bons demais. Tenho saudade também da escola, naquele prédio lindo, onde terminei o segundo grau. Hoje eu não posso reclamar de morar aqui, mas sinto falta de mais opções de lazer.”
Ninfa Zamprogna Barreiros, funcionária pública federal aposentada: “Tenho saudade dos amigos que lá fiz, da biblioteca onde li meu primeiro livro (por empréstimo) da madame Delly, do sorvete da dona Donata, dos bailes de Carnaval, da cadeira do cinema, de passear no jardim, de brincar na rua com as minhas amigas, do melhor pão-doce, de andar de carrinho de rolimã, das festas da Teixeirada e das matinês de Carnaval.”
Maria Conceição Levandovsky, 66, dona de casa: “Morei no Monte Alegre quando eu era criança. Quando mudei de lá, eu estava com 14 anos de idade. Tenho saudades das amizades, das pessoas que também moravam lá. Da minha querida escola e da professora Ester de Campos Neves. Da minha querida capelinha. Do cheiro de melaço da usina quando a cana era moída, e que se misturava com o badalar do sino da igrejinha aos domingos. Enfim, fui muito feliz naquela época. Quando falo de Monte Alegre, eu viajo no tempo”.
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