Comida crua
Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 15ª Edição | Agosto | 2014
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Foto: Shutterstock
Por Ronaldo Victoria
Pesquisadora avalia dieta crudívora e propõe cardápio balanceado
As dietas crudívoras, aquelas que contam apenas com alimentos crus e sem nenhum acréscimo de carne, vêm ganhando adeptos. Apesar disso, ainda persiste certa desinformação e preconceito por parte daqueles que ainda consideram essa escolha radical. O tema acabou ganhando o interesse de Carolina Bonfanti Fiori, aluna do curso de nutrição da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). Com apoio da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), ela apresentou, em julho, dissertação de mestrado sobre a dieta vegetariana.
´´Cheguei à conclusão de que essa dieta atinge as necessidades diárias de calorias, em uma refeição, seja almoço ou jantar´´, afirma Carolina. O projeto, orientado pela professora Solange Caniatti Brazaca, do Departamento de Agorindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq, combinou um cardápio que envolve batata com casca, tomate cru, couve crua, suco de limão, lentilha germinada e amendoim germinado. ´´Uma refeição com esse cardápio atende às recomendações nutricionais referentes a uma única refeição, pois contém aproximadamente 400 calorias´´, destaca a pesquisadora. Para garantir a dose recomendada, salienta, os adeptos dessa dieta devem aderir a quantidades maiores e em intervalos menores de tempo, para ter a nutrição recomendada.
Durante o trabalho, aluna e professora acrescentaram à dieta-base, composta apenas por vegetais crus, grãos germinados de lentilha e amendoim. Em laboratório, foram submetidas a tratamento térmico, nas temperaturas de 40ºC e 80ºC. ´´Se os crudívoros executarem um planejamento nutricional adequado e seleção de alimentos apropriados, podem suprir as necessidades diárias e evitar deficiências nutricionais. Porém, é muito importante o acompanhamento de profissionais da área de saúde para orientar as quantidades de alimentos nas refeições diárias´´, enfatiza Carolina.
A formanda, que mora em Araras, acrescenta que ainda existe muito preconceito contra a dieta crudívora, também chamada de vegana. Mas ela acredita que isso se deve à falta de informação, base de todo o preconceito. ´´Eu mesma reconheço que não sabia muita coisa. E, depois de todo esse estudo, confesso que levei para minha alimentação muitos preceitos do crudivorismo, embora não possa ser considerada uma adepta´´, diz. O principal fator positivo é facilitar uma conscientização sobre o cuidado com o exagero nos produtos industrializados, principalmente nesses tempos corridos que vivemos.
´´O hábito de incluir alimentos crus ou na forma natural e integral tem diminuído nos últimos anos frente aos produtos industrializados, de rápida preparação, por serem acessíveis e, até mesmo, por alguns serem econômicos. Assim, esse projeto está vinculado à ideia de incentivar, acima de tudo, uma alimentação saudável, por meio de preparações criativas e saborosas´´, destaca Carolina. Ela acrescenta que os adeptos ainda encontram dificuldades por causa da adesão reduzida. Em muitas cidades do interior ainda não existe um restaurante especializado, o que força os crudívoros a levarem a comida para o trabalho. Por outro lado, o fato de serem alimentos crus facilita esse transporte. E não é verdade, como acreditam alguns, que se consomem alimentos sem tempero. ´´O que existe é um cuidado especial, com baixa utilização de sal e também de ervas. E se usa muito limão para temperar´´, afirma.
Porém, os crudívoros têm de ser muito regrados e resistir aos apelos do consumo fácil de alimentos industrializados. ´´É difícil sim, mas hoje em dia cresce também a visão da indústria para esse tipo de consumidor, com o lançamento de alguns leites vegetais. E, para ter certeza de que os alimentos são seguros, é fundamental ficar atento à higienização, manipulação e condições de armazenamento, pois esses fatores reduzem a concentração de micro-organismos´´, conclui.
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