Coragem de inovar
Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 16ª Edição | Outubro | 2014
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Foto: Acervo - Grupo LDI
Por Ronaldo Victoria
Aos 90 anos, Adolpho Lindenberg comemora as seis décadas de fundação de sua empresa, reconhecida nacionalmente como a ‘grife’ do mercado imobiliário
Otimismo sempre foi a palavra de ordem de Adolpho Lindenberg. Para o arquiteto, de 90 anos, isso é o que marca os 60 anos da construtora que leva seu nome, comemorados agora em outubro. Lindenberg, que hoje não está mais à frente da empresa, mas faz parte do conselho, lembra nesta entrevista exclusiva essa trajetória de sucesso e inovação.
Respeito ao cliente. Inovação. Investimento em qualidade. Valorização do profissional. Estes são alguns dos pilares que sustentam a empresa nessas seis décadas. Tudo começou em 1954, o ano em que São Paulo comemorava seu quarto centenário e, ao mesmo tempo, a sua transformação em metrópole. ´´As famílias abastadas começaram a sair de suas casas e a se mudar para apartamentos. A construtora pegou exatamente essa transformação e ofereceu a essas famílias apartamentos de luxo em que poderiam morar, sem perder o conforto e o requinte proporcionados pelas mansões´´, destaca Lindenberg.
Visionário, como sempre foi, Lindenberg logo percebeu que essas famílias, que moravam antes em grandes casas, não estavam acostumadas com a padronização dos edifícios. E começou outra revolução que marca a construtora: a personalização. ´´Tivemos prédios com apartamentos que tinham a possibilidade de ter sete quartos ou apenas três. Para cada prédio havia mais arquitetos que engenheiros trabalhando. Fazíamos apartamentos sob medida para as necessidades de cada família´´.
Porém, o empresário afirma que mais importante que os prédios, foi a equipe harmônica que conseguiu formar durante todo esse tempo. ´´São mais amigos do que empregados. Temos funcionários aqui com mais de 40 anos de casa e eu sou amigo deles. Acho que esse relacionamento é o ponto alto da construtora. Há esse orgulho de ser da empresa, de pertencer à mesma família´´, assinala Lindenberg.
Do alto de sua experiência, o empresário ensina que o contato pessoal com funcionários é que faz com que se estabeleçam relações. E isso vale para todas as funções, especialmente para os mestres-de-obra. ´´Mais importante que o engenheiro é o mestre-de-obras. Se o mestre-de-obras for ruim, o engenheiro pode ser ótimo, mas não adianta, a obra fica péssima. Se o mestre for bom e o engenheiro ruim, a obra tem possibilidade de mesmo assim ficar boa. O mestre tem contato com o pessoal, ele é que dá vida à obra. O engenheiro pode dar técnica, mas a vida é dada pelo mestre. Uma das coisas de que me orgulho é de ter a melhor equipe de mestres-de-obra de São Paulo´´.
Luta
A trajetória da empresa não teve linha reta, e envolveu altos e baixos durante esses anos. Chegou a abrir concordata nos anos 80, mas logo se recuperou. ´´Tivemos problemas
durante a crise do petróleo e por causa da inflação alta, que gerou uma situação de concordata, num período de dois anos. Mas conseguimos nos recuperar e voltar com o mesmo entusiasmo´´, lembra.
A luta para seguir em frente, conta Lindenberg, é dura. Os governos, e nesse ponto ele não diferencia partidos, não vêem a classe empresarial como aliada. ´´A luta do empresário é uma luta contra o Estado. Há uma dicotomia aqui no Brasil. O Estado acha que o progresso do Brasil deve ser feito à custa dos empresários que dão emprego o povo. Nós achamos que beneficiar o povo é beneficiar os empresários, dando emprego ao povo. Então, todos os empresários lutam conta impostos altíssimos, uma burocracia estatal, leis pouco claras, concorrência do próprio Estado, demoras absurdas do aparelho burocrático estatal para aprovar os projetos. Para aprovar um loteamento numa cidade demoram vários anos. Na China se aprova loteamento em seis meses. O resultado é aumento de favelas, por impossibilidade de fazer loteamentos. Onde é que o povo vai
morar se não tem loteamentos?´´, questiona.
Entusiasta das inovações, Lindenberg vê com bons olhos uma mudança de conceito em relação ao urbanismo. ´´Há uns 20 anos,a ideia era fazer bairros específicos, residenciais como o Jardins, industrial como o ABC, comercial como o Centro, e outros bairros de serviço. Esse conceito vem sendo alterado. Os urbanistas modernos pensam em evitar a locomoção. Surgem bairros mistos, para que a pessoa possa ir para o trabalho a pé ou de bicicleta. São espaços onde você tem casas, comércios e escritórios. Acho uma ideia genial´´, explica.
Se for deixar um conselho, Lindenberg, do alto de seus 90 anos, diz que o importante é ser sempre aberto aos novos tempos. ´´A pessoa sendo bem disposta, quer se abrir. Eu viajo muito. Para mim, o grande modo de aprender as coisas é viajando, não apenas na faculdade. É isso que eu sempre recomendo para os estudantes de engenharia e arquitetura. Nas férias, dê um jeito, mochila nas costas, vá a pé, de bicicleta. Hoje se pode viajar pela Europa praticamente de graça. Vá conhecer. Aí você aprende o que é obra, o que é o mundo.´´
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