O maior luxo é o conforto
Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 16ª Edição | Outubro | 2014
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Foto: Divulgação
Por Ronaldo Victoria
O arquiteto Celso Laetano celebra 33 anos de carreira com um livro onde estão alguns de seus principais projetos
Morar bem é privilégio de quem tem muito dinheiro? Não. E quem garante é o arquiteto Celso Laetano, sempre identificado pela elegância dos ambientes que projeta. ´´O maior investimento que você faz, quando o assunto é morar, é no conforto. Em vez de você ter uma casa com materiais caros, você pode apostar muito mais num bom fogão, numa boa geladeira, num ar-condicionado, numa janela que te protege, num sofá bacana, num chuveiro excelente. Esses são os itens do bem morar´´, afirma.
Palavra de quem tem 33 anos de carreira (formou-se em 1981 pela PUC de Campinas), resumida de forma luxuosa no livro Celso Laetano – Arquitetura e Interiores. Na obra, lançada no dia 23 de setembro, Laetano detalha sua experiência em três vertentes: residencial, comercial e as exposições das quais participou.
Em relação à experiência residencial, Laetano reforça que a intimidade virou a referência principal. E que hoje os ambientes ficaram todos misturados. ´´Comer, divertir-se, lazer e
conviver ficou uma coisa praticamente única. A cozinha virou espaço gourmet e, para mim, isso é um resgate da qualidade de vida. Porque mesmo que você não tenha um histórico de curtir e preparar comida, isso traz de volta a vida em família e com amigos. Ficou mais íntimo, mais descontraído, ficou menos formal. Você deixa de marcar os seus encontros fora e traz os amigos para dentro de casa. É um convite à intimidade´´.
Na parte comercial, o arquiteto lembra que seu trabalho é fazer o cliente entender que o alvo são os seus consumidores. ´´O cliente opina, mas ele não pode transformar aquilo numa
casa. Ele tem de saber quem vai atingir´´, resume. Mas ele deixa um toque: ambientes muito frios, mesmo sendo elegantes, inibem o consumidor. ´´Coisas muito frias, muito escravas do design, afastam o público. Você precisa ter um meio-termo nessa história. Tem de ter a boa elaboração do desenho, uma qualidade visual bacana, mas não pode ter nada impessoal hoje em dia. Não dá.´´
A terceira parte do livro faz um inventário das participações de Laetano em mostras e exposições não apenas em Piracicaba, mas também em São Paulo e Campinas. Nascido em Araraquara, de onde veio cedo, Laetano descobriu-se inclinado para a arquitetura aos 15 anos, quando o pai, Aparecido, começou a construir uma casa, que ainda existe na rua Samuel
Neves, em frente à escola estaudal Mello Ayres. ´´Comecei a palpitar na escolha dos acabamentos, a me envolver na obra, fui escolher todos os azulejos, desenhei a fachada da casa´´,
lembra. Logo sentiu que era seu caminho. Entrou primeiro na faculdade, no Rio de Janeiro, mas depois se transferiu para Campinas, onde ter-minou os estudos. Abriu um escritório até hoje dos mais concorridos em Piracicaba. A sede fica na Vila Sucrèrie, e o imóvel, tombado pelo patrimônio histórico, foi um presente do pai, em
1989. ´´Fiquei dois anos reformando a casa, mas preservando o estilo original. Era nesta casa que moravam os franceses do Engenho Central´´, conta. O espaço virou sua marca registrada e lá também funciona uma loja de móveis e antiguidades, boa parte adquirida durante suas viagens.
Cultura e arte
Por falar nisso, Laetano acredita que arquiteto não pode ficar parado. Nos dois sentidos. Além de conhecer outras culturas, precisa estar ligado a várias expressões artísticas. ´´Todo arquiteto tem um pouco de veia artística. Uns enveredam pelo teatro, outros pelas artes gráficas, alguns até pela dança´´, lembra. No caso dele, o teatro exerceu grande fascínio.
A proposta de publicar o livro, apresentada pela Mix Editores, especialista em obras sobre arquitetura, trouxe como consequência inevitável o balanço da carreira. E ele destaca que a
maturidade só trouxe coisas boas. ´´Nesse momento atual da minha vida, me sinto privilegiado nessa conquista. Acho isso uma coisa importante. Porque não é o trabalho em si. Em todo o trabalho você tem dois caminhos: o seu e o de volta, do cliente. Esse respeito mútuo, essa cumplicidade, se transformar em um trabalho de qualidade. Isso eu prezo muito”, afirma.
Ao mesmo tempo, Laetano diz que seu trabalho não pode ficar preso num rótulo. Com mais de 30 anos de projetos, ele conta que atua tanto no estilo clássico (com o qual chega a ser mais identificado), como também no contemporâneo. ´´Não sou totalmente contemporâneo nem apenas clássico. Houve uma época em que fiquei mais conhecido pelo lado clássico por causa das restaurações em imóveis para serem transformados em restaurantes e lojas´´.
Porém, ele se confessa bastante influenciado pelo jeito dos anos 50, que define como os ‘anos dourados’ também para a arquitetura. ´´O que está em alta hoje é o resgate de uma arquitetura presente nos anos 50 e 60. E que está retornando com uma linguagem bem revigorada. A espacialidade, os vãos, o uso de materiais naturais como pedra e madeira, a utilização de elementos de vedação. É uma releitura, mas está virando uma coisa nova. É uma tendência. Os anos 50 são para mim a década de ouro. É a mais elegante, a mais glamurosa. Não vivi, nasci no final dos anos 50, mas tenho a referência de leitura, de filmes. Sempre está presente´´, diz. Laetano marcou seu nome em Piracicaba e região e conta que, às vezes, o questionam por que não seguiu carreira em centros maiores. ´´Já me perguntaram isso, mas eu gosto muito da qualidade de vida que tenho aqui. Se você tem um trabalho que é reconhecido, que tem um feedback, não há necessidade“. E se declara realizado com a escolha profissional. ´´O mais legal de ser arquiteto é estar envolvido o tempo todo por um exercício entre funcionalidade e estética. Esse é o nosso grande desafio´´, conclui.
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