Para gregos e troianos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Texto e fotos: Marcelo Gimenes

marcelo@gimenes.eu

 

É muito bom poder experimentar pelo menos uma vez na vida o significado da expressão ‘carta branca’. É com um misto de orgulho e vaidade que admito ser uma das experiências mais excepcionais que até hoje tive. Imagine poder escolher, decidir, modificar, transformar, reinventar, demolir e construir sem limitações. Não no que diz respeito a dinheiro, visto este ser tão comum e vulgar, mas sim, total liberdade, confiança e respeito na capacidade do profissional.

 

Sinto-me mais que privilegiado. Tudo começou com uma herança inesperada. O casal de empresários - ele diretor de uma empresa de grande visibilidade na Europa e América do Sul, e ela uma designer de jóias mais que respeitada - recebeu uma daquelas surpresas que só mesmo no Velho Continente parecem possíveis.

 

Um telefonema inusitado dos advogados da família informava a existência de uma propriedade abandonada nas periferias de uma cidade de grande porte na Holanda (por motivos de privacidade é tudo o que posso escrever). Essa propriedade, localizada num terreno de proporções feudais, contendo um jardim abandonado, porém exuberante, e uma piscina tomada pelo tempo e pelo clima, havia sido totalmente esquecida pela família.

 

Um presente de grego, como diria minha mãe, visto o abandono do imóvel e a impossibilidade de restauro. Mas esses são daqueles cavalos de Tróia que se montam mesmo a pêlo. Na primeira vistoria, ficou claro que o imóvel seria totalmente reconstruído e adaptado às exigências atuais e que seria usado pela família como residência de Verão. Sem limites de tempo ou valores, o pedido dos proprietários foi simples: crie um espaço com personalidade própria e com clima de férias.

 

O primeiro passo foi a escolha dos materiais a serem usados no imóvel. A decoração é homogênea e tem caráter de casa de praia. As cores se limitam aos tons de palha e verde-água tanto no interior como na fachada. A madeira de carvalho protagoniza em quase todos os ambientes e os banheiros e a piscina foram revestidos com pastilhas de vidro da italiana Bisazza, em tons de verde. No piso superior, a área dos dormitórios é prática e funcional; no piso térreo o efeito loft cria um espaço leve de cores claras e tons naturais. O piso em epóxi reveste todos os andares, criando uma sensação de espaço e liberdade. O mesmo piso se estende nos terraços e na área da piscina com tratamento especial antiderrapante. A antiga escada foi revestida com madeira de carvalho e se tornou o ponto central da casa. O processo de revestimento durou mais de cinco meses, mas o resultado valeu cada minuto de atenção

e cada centavo gasto.

 

Os móveis têm um caráter informal. As cadeiras de fibra de vidro da sala de jantar são dos americanos Ray e Charles Eams; a mesa e todos os armários foram feitos à mão, sob medida, em madeira de carvalho seguindo o exemplo da escada. As luminárias em cobre laqueado são do inglês Tom Dixon. A cozinha planejada é também obra do carpinteiro que passou mais de um ano trabalhando no projeto. O sofá da Living Divani é modular e, na parte mais longa, tem mais de dez metros de comprimento. As poltronas em veludo de seda são da italiana Arflex. Já as poltronas Pelikan do espaço de leitura são do designer finlandês Finn Juhl e foram editadas pela primeira vez, em 1939. Os tapetes da área de televisão e lareira são em seda e lã e foram feitos sob medida pela empresa belga Casalis. 

 

As cortinas de linho puro são da francesa Pierre Frey e ‘arrastam’ cinco centímetros dando um ar displicente ao ambiente. Para completar a decoração, as almofadas personalizadas da holandesa Snijder&Co foram inspiradas nas obras de arte, criando assim um ambiente harmonioso. Remodelada, a casa agora hiberna Inverno adentro num longo processo de espera

pelos primeiros raios de sol da Primavera, anunciando assim o retorno da família para mais um Verão sempre inesquecível.