Feito à mão

 

Você não tem, muitas vezes, a sensação de que chegamos ao ápice do desenvolvimento tecnológico e que parece ser impossível que novas invenções apareçam para ‘facilitar’ a vida da gente? Pois é. Desde a invenção da roda, o cérebro humano não parou mais de criar e, pelo jeito, não vai parar jamais.

 

Porém, tanta tecnologia (e toda sua parafernália padronizadora de processos e de produtos) acabou provocando nas pessoas um desejo de retorno às origens e uma necessidade por tudo aquilo que é exclusivo. É aí que surge com força a tendência do handmade, palavra inglesa que signifi ca ‘feito à mão’. Vamos a um exemplo. Grandes fabricantes de revestimentos cerâmicos produzem algo em torno de 700 mil metros quadrados desses produtos em um único mês.

 

Em Araras, há 40 anos, há uma fábrica que produz mensalmente, em média, 10 mil metros quadrados de revestimentos cerâmicos... só que pintados à mão. Adivinha qual dos produtos tem maior valor agregado e o charme de ser exclusivo? A Antígua Revestimentos Artesanais tem hoje 135 butiques espalhadas pelo Brasil, onde seus produtos podem ser encontrados. Um deles é a Spazio Pisos e Revestimentos, em Piracicaba. ´´Vendo produtos Antígua há 22 anos. Comecei nesse ramo comercializando apenas os produtos da marca e foi um verdadeiro sucesso´´, conta Márcia Ferrante, proprietária da loja. Ela salienta que é preciso saber trabalhar com o produto que tem inúmeras especifi cidades. ´´São mais de 5.000 itens catalogados. É preciso ter paixão pelo produto e conhecimentos técnicos, pois a orientação no momento da venda é fundamen- tal. Requer paginações e orientações aliadas ao bom-senso e bom gosto também´´, relata.

 

Os produtos da Antígua, de acordo com Márcia, são voltados para um nicho de mercado que valoriza a beleza, a arte e o bom gosto. ´´Os revestimentos conferem aos ambientes um

diferencial, pois são personalizados e, com isso, trazem o resgate do aconchego para sua casa´´, afirma. As arquitetas Kátia Marques e Joceli Bortolai enaltecem a qualidade e a atemporalidade das peças. ´´Uso há 20 anos nos meus projetos. Há 18 anos tenho em minha casa. As peças, além de continuarem superatuais, trazem uma boa energia porque foram feitas por artistas, por gente que ama o que faz´´, diz Kátia. ´´A tecnologia atende ao mercado de forma universal. O artesanal traz o resgate histórico, cultural, além da exclusividade´´, comenta Joceli. O arquiteto Gustavo Rocha destaca a versatilidade do produto. ´´Ele nos permite criar o que quisermos´´.

 

A Antígua foi fundada há 40 anos por Jens Peter Chrestesen e o sócio americano Rudolf Krepinsky. Na época, eles detectaram que o mercado americano carecia de qualidade nos revestimentos cerâmicos. Por muitos anos, a empresa destinou 80% de sua produção ao mercado externo. Depois da crise internacional de 2008, esse quadro se inverteu. Quem mais absorve os produtos é o mercado interno. ´´Hoje atendemos Europa, Estados Unidos, Japão, Canadá, Caribe e Oriente Médio´´, conta Wilson Freitas Rabelo, diretor administrativo da fábrica.

 

A delicadeza do trabalho exige mão de obra feminina que, atualmente, representa mais de 65% do efetivo da empresa. Vinte delas se dedicam à pintura manual das peças. Frederico Chrestesen, diretor e filho do fundador da Antígua, conta que a inspiração para a concepção das peças e coleções vem de todos os lugares. ´´Sempre pensamos em coisas que uma máquina não pode fazer. Tem que ser algo que ninguém tenha´´, explica.

 

Para se ter uma ideia da exclusividade e do valor artístico do produto, uma peça branca e lisa da Antígua passa pelas mãos de 18 pessoas até fi car pronta. Uma peça mais trabalhada, pintada à mão, passa por 30 a 40 pessoas. O resultado final é incomparável e dá a certeza de que este tipo de investimento foi fundamental para o conceito e beleza de sua casa. Um sonho realizado.