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Espaço pra bike

Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 20ª Edição | Junho | 2015
Foto: Acervo pessoal

Por Cristiane Bonin

 
Cada vez com mais adeptos, bicicletas começam a conquistar seu lugar nos condomínios
 
Lazer, esporte e condução polêmica. No século 21, as bicicletas tornaram- -se emblemáticas na discussão sobre mobilidade urbana e um trunfo para tirar as crianças, jovens e adultos do sedentarismo. Nos condomínios, há ainda outra vertente de discussão sobre a ‘magrela’. A falta de infraestrutura ou abrigo e o trânsito da bike no elevador, por exemplo, que pode gerar mal-estar entre os condôminos e até multa.
 
Na falta de um bicicletário, a bike tem sido colocada na vaga de estacionamento. Mas pode? Os Tribunais de Justiça estaduais têm decidido pela resposta positiva. Sim, o condômino pode usar a sua vaga para deixar a ‘magrela’ desde que não ultrapasse os limites da demarcação do espaço.
 
Para não chegar a uma briga judicial, o especialista em direito imobiliário, o advogado Rodrigo Karpat sugere a realização de um acordo entre a administração do condomínio, proprietários, inquilinos e demais usuários para evitar futuros transtornos. “A utilização incorreta de outros espaços (que não seja o bicicletário) para guardar as bicicletas, como abrigá-las na sacada do prédio, é uma prática proibida em muitos regimentos internos, mas que, muitas vezes, é desrespeitada. Se houver ciclistas no edifício, cabe ao síndico orientar os condôminos e buscar soluções. Sempre sem esquecer que o incentivo ao uso das bicicletas é também um incentivo à cidadania.”
 
Bem localizado, anexo ao portão de acesso principal, o bicicletário do Conjunto Residencial Vila Real, no bairro Nova América, faz parte da fachada do condomínio e dá o exemplo de infraestrutura ideal. O síndico Marcio Cesar Camargo conta que os usuários das bikes são as crianças e jovens. “Eles andam no pátio ou na rua mesmo.”
 
No Conjunto Residencial Vila Rica, localizado no Parque Prezotto, o síndico e advogado Augusto Cesar Rocha conta que a reforma do bicicletário do condomínio já está nos planos
para 2015. “Eu sou um dos que usa a bicicleta com bastante frequência. Com a melhoria do espaço, pretendo incentivar os outros moradores também a ter este hábito”, diz Rocha.
 
Ele utiliza a bike para lazer nos fins de semana, quando pedala até 50 quilômetros. Apaixonado declarado por motocicletas, até por conta da facilidade proporcionada pelo veículo para
fugir do trânsito pesado, ele classifica como difícil a mobilidade urbana em Piracicaba. “Para usar bike em Piracicaba tem que ‘ter perna’, pois há muitas subidas. Além disso, muitos motoristas são mal educados e mal preparados para dirigir. Não respeitam as bicicletas.
 
Eu, inclusive, como motorista, ‘guerreava’ com as bikes no trânsito, mas aprendi a respeitá-las quando me tornei também um ciclista, que sente na pele o perigo do trânsito nas ruas e estradas”, conta o síndico do Vila Rica.
 
Em relação às possíveis melhorias quanto à mobilidade municipal, Rocha exemplifica como nível ideal a ciclovia da cidade da Praia Grande (SP). “Lá, sim, os pedestres e ciclistas são respeitados. Há ciclovias e ciclofaixas pela cidade inteira e seu uso é maximizado porque a topografia local é plana. Mas a mobilidade urbana em Piracicaba tem que mudar. E para melhor”, conclui Rocha.
 
LEI MUNICIPAL
Em Piracicaba, não há legislação para obrigar os condomínios a construírem bicicletários – diferente de São Paulo, que exige que as novas construções e reformas de prédios residenciais e comerciais na cidade a reservarem até 10% das vagas para estacionamento de bicicletas O Plano Diretor de Mobilidade de Piracicaba (lei complementar nº 187, de 2006) prevê estudos para um Sistema Cicloviário Municipal, composto por ciclofaixas, bicicletários de acesso livre e pontos de apoio ao ciclista. Na mesma legislação, a prefeitura também objetiva medidas quanto à infraestrutura para a reestruturação do transporte coletivo e particular e, para que a bike possa ser usada, indica a implantação de estacionamentos próximos aos terminais de integração.
 
Um ano antes do Plano Diretor de Mobilidade, a prefeitura publicou uma proposta para a rede cicloviária de Piracicaba. A Tutti procurou o presidente do Ipplap (Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba), Lauro Pinotti; o titular da Semuttran (Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes), Jorge Akira Kobayaski; e o diretor do Centro de Comunicação Social
da prefeitura, Carlos Eduardo Luccas Castro, para levantar os principais pontos da proposta da rede cicloviária; o link na web para consulta do plano na íntegra; e uma avaliação sobre mobilidade e a situação do ciclista utilitário, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.
 
POLÍTICAS PÚBLICAS
Mirian Rother, doutoranda em ecologia aplicada pela USP (Universidade de São Paulo), é uma das principais ativistas pela mobilidade urbana em Piracicaba. Em entrevista à Tutti, ela
pontua o seguinte cenário sobre a assunto: estatísticas crescentes do uso da bicicleta como meio de transporte para os deslocamentos urbanos, inclusive no Brasil; necessidade de
formatar os municípios em cidades sustentáveis; inclusão da bicicleta como modalidade de transporte regular no conceito de Mobilidade Urbana Sustentável.
 
Piracicaba também estaciona seus ciclistas. Hoje contamos apenas com 11,6 km de ciclovias e ciclofaixas na cidade (desconsiderando as existentes no interior de parques) – em Sorocaba há 115 km e, em Rio Claro, menor que Piracicaba, já tem 20 km, informa Mirian. “Infelizmente continua existindo, em Piracicaba, por parte de gestores públicos e técnicos, um
imenso descaso pelo ciclismo utilitário (uso da bicicleta como meio de transporte e não para fins de esporte ou lazer) na cidade. São três gestões que vêm ignorando sistematicamente
a crescente demanda por infraestrutura para utilitário viável e segura”, comenta Mirian. O caminho para a mobilidade em Piracicaba passa, para Mirian, pelo diálogo entre gestores e cidadãos. Além do entrosamento entre política e sociedade, a ativista aponta a importância de um mapeamento que dimensione e qualifique a prática do ciclismo utilitário na cidade, incluindo itens como a identificação do perfil social, econômico e cultural do ciclista utilitário; conhecer e interpretar quais os significados que a prática do ciclismo utilitário; conhecer as condições ambientais que mais afetam a prática do ciclismo utilitário na cidade.

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