Café com singeleza

 

Quando o assunto é mostra de arquitetura e decoração, Celso Laetano pode ser considerado um veterano. Ele coleciona mais de dez brilhantes participações ao longo de sua prestigiada carreira, sempre marcadas pelo requinte, sofisticação e contemporaneidade que caracterizam seu estilo inconfundível.

 

Entretanto, no Village Arte Decor, mostra que acontece no bairro Monte Alegre até 13 de dezembro, o arquiteto usou no Café UMA o que poderíamos chamar de ‘ousadia reversa’: o projeto do ambiente foi pautado pela discrição e singeleza, com os mesmos bom gosto e talento de sempre. “De todos os trabalhos que fiz para mostras, este é o mais diferente. Tenho o maior carinho por ele”, declara.

 

Antiga cancha de bocha da Usina Monte Alegre, Celso diz que se identificou com o espaço imediatamente. “Percebi que aquele lugar tinha potencial para desenvolver uma coisa bacana e estava certo”, conta, destacando que se trata do único ambiente ‘aquário’ da mostra. “Achei interessante deixar de lado o vidro temperado (uma linguagem recorrente na mostra) e usar vidro assentado com massa, com caixilhos de ferro, bem à moda antiga”, explica. O resultado, segundo ele, faz lembrar uma estufa e mantém um simpático ar retrô.

 

Sobre o piso de guaiuvira de demolição da Indusparquet, de forte presença, Celso combinou elementos de forma surpreendente. O mobiliário tem linguagem vintage com cadeiras pretas Tolix (criadas no período da Segunda Guerra e que voltaram a ser produzidas) e confortáveis poltronas de madeira e tecido. Um grande e convidativo sofá em tecido bege tem à sua frente dois cubos de azulejo bem contemporâneos (uma homenagem do arquiteto ao pintor e escultor brasileiro Athos Bulcão), acomodados sobre um tapete de couro de vaca.

 

“Pensei num lounge onde as pessoas pudessem bater papo confortavelmente e o uso da madeira no projeto traz esse aconchego”, completa Celso. Outro recurso utilizado pelo arquiteto para ampliar o clima de conforto foi a iluminação. “Explorei o rebatimento do teto com calhas de LED”, explica.

Merecem destaque, ainda, o trabalho do designer Tadeu Rodrigues, que usou lettering na parede atrás do balcão do café, e os bancos de peroba de demolição, desenhados pelo próprio Laetano e executados pela Rustika.

 

Espaço convidativo para se degustar um bom café Morro Grande e as delícias da Pasticceria, o Café UMA é a grande contribuição de Celso Laetano neste início do processo de revitalização do bairro. “O Monte Alegre é um grande desafio. Tem que preservar, ocupar e criar uma forma do local subsistir, e é necessário o suporte da iniciativa privada para isso”, finaliza o arquiteto.