‘Tenho medo do medo’
Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 23ª Edição | Dezembro | 2015
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Foto: Steinberger
Por Cristiane Bonin
Elke Maravilha é uma mulher de múltiplos talentos. Além da beleza clássica e da personalidade marcante que a fizeram brilhar como modelo nas mais prestigiadas passarelas da moda, fala fluentemente oito idiomas; é atriz com passagens marcantes pelo cinema, teatro e TV; e foi jurada dos programas de auditório de dois gênios da televisão brasileira (Chacrinha e Silvio Santos), onde conquistou sua popularidade.
Com uma vitalidade invejável, ela está em cartaz com o espetáculo Elke Canta e Conta, que celebra seus 70 anos de idade, e estreou recentemente o quadro O Grande Plano, no
programa Fantástico, da Rede Globo.
Nesta entrevista exclusiva, dada por telefone, Elke fala sobre trabalho, sucesso, Brasil, fé, saudade, e diz que o medo é o maior problema do ser humano.
Revista Tutti - O quadro O Grande Plano, que você estreou recentemente no Fantástico, ao lado de Berta Loran e Vilma Nascimento, já é um sucesso. Aos 70 anos de idade, você diria que ouviu mais ou deu mais conselhos ao longo da sua vida?
Elke Maravilha - Eu não dei e não dou conselhos. Nem filho eu tive! Não, não sei dar conselho não!
E tem algum conselho que você ouviu e te marcou?
Sim. Meu pai me dizia que eu tinha que prestar atenção à ‘mamãe’ natureza, porque ela nos ensina tudo. E eu prestei atenção!
Se a Elke de hoje pudesse mandar um recado ou conselho pra Elke aos 25 ou 30 anos de idade, o que diria?
Não tenha juízo, não se comporte, mas se cuide!
Sucesso é um conceito que varia de pessoa para pessoa. O que é sucesso para você?
Eu acredito que o sucesso é evoluir.
Quando o assunto é trabalho, o que você realmente ama fazer?
Eu gosto de fazer o meu trabalho, como o espetáculo Elke Canta & Conta (espetáculo que comemora os 70 anos da artista, dirigido por Rubens Curi). Eu gosto muito de trabalhar.
Você tem outros trabalhos em andamento ou em perspectiva?
Estou fazendo Elke Canta e Conta e tem alguns filmes meus para serem lançados. Vem muita coisa por aí!
Há quem diga que as pessoas que passam pela nossa vida levam um pouco de nós consigo, e deixam um pouco de si com a gente. O que a estilista Zuzu Angel e Chacrinha, dois personagens importantes em sua vida, deixaram em você?
O Chacrinha foi um gênio. Ele me ensinou tudo (risos). E a Zuzu também. Nós somos 7 bilhões de pessoas no mundo, mas no fundo somos um só. Então, na realidade, até pessoas que eu não conheci me ensinaram porque eu sou elas também. Então todas as pessoas ensinam. É claro que o Chacrinha, Zuzu, Nise da Silveira, Garrincha, muitas pessoas nos ensinaram muita coisa.
O que te deixa feliz?
A felicidade das pessoas. Eu não estou num momento feliz porque no Brasil, do jeito que está, ninguém pode ficar feliz. Estamos num mar de lama, literalmente.
Ainda mais com o desastre ambiental que aconteceu em Mariana, Minas Gerais.
Tudo é ambiental. A cabeça das pessoas é ambiental porque elas fazem parte da Terra. E olha a cabeça como é que está! Olha a ladroagem! As pessoas falam sobre o que aconteceu na França. O que aqui acontece todo dia? Nós temos terrorismo todo dia, mas ninguém liga. O pobre que se exploda.
A sociedade está muito voltada para seu próprio umbigo.
Não estamos voltados para nada, se fosse para o próprio umbigo estaríamos evoluindo. Só o que interessa é dinheiro. Só usam o tempo para ter, e ainda querem ter o dinheiro dos outros. E isso é claro que me aborrece.
Você fez parte do mundo da moda e fez história nele. Quem deste universo tem a sua admiração?
Muita gente, como Ronaldo Fraga, Alexander McQueen (estilista britânico falecido em 2010). Eles são brilhantes e não fazem simplesmente moda. Moda não é usar uma roupinha. Moda tem que ter algo por trás. Moda tem uma razão de ser. Eu não gosto de uniformes, e sim do criativo, do cultural. Moda é cultura, e quando não é, você usa e joga fora como papel higiênico.
Você fala com Deus?
Muitos deuses! Eu sou de muitos deuses. Aquela frase de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, foi feita para mim: “Ergo em cada canto de minha alma um altar a um Deus diferente”. Gosto de muitos (deuses)!
De quem e do quê você sente saudade?
Eu tenho saudades do futuro. O passado eu já vivi. É claro que as pessoas que fizeram parte da minha vida me deixaram impregnada delas. Então, eu tenho saudades do futuro.
Você tem medo de alguma coisa?
De ter medo. O grande problema do ser humano é o medo. As pessoas só matam por causa de medo. As pessoas só roubam por causa de medo. As pessoas só ‘puxam o tapete’ do outro por causa de medo. Medo é o único problema do ser humano. Eu tenho medo dele, do medo.
O que está faltando e o que está sobrando no Brasil?
Estão faltando ética e honra. Não tem nada sobrando não!
Você teve alguma passagem por Piracicaba?
Muitas, umas 20 ou 30. Já fui com espetáculo, já dei palestra, já fiz muita coisa por aí. Eu gosto muito da cidade, que é muito hospitaleira, muito gostosa. Já tive até um marido que era filho de uma piracicabana, o Roberto Lazzuri.
O que é Natal para você?
Natal para a cultura viking é a vitória da vida sobre a morte, da luz sobre as trevas, da verdade sobre a mentira, da sabedoria sobre a ignorância e da coragem sobre o medo. Eu nasci na Rússia e trago descendência viking. Elke significa alce, que é um dos animais sagrados dos vikings.
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