Entrevista - O Brasil é um grande empório
Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 26ª Edição | Agosto | 2016
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Foto: Pierre Yves Refalo
Ele é a cara da vida no interior. Rolando Boldrin é um ícone brasileiro quando o assunto é colocar a música regional e a MPB na grande mídia. Um contador de histórias de mão (ou boca) cheia, o músico, ator e apresentador saiu, sozinho, aos 16 anos de sua cidade natal, São Joaquim da Barra, para ´garrar´ a vida em São Paulo. Em busca de trabalho, ele chegou à capital com certa expertise em viola e palco porque frequentava o ambiente artístico desde os sete anos, quando formava, com seu irmão, a dupla Boy e Formiga. Também estrelou novelas de sucesso na antiga TV Tupi como A Viagem e Mulheres de Areia. Simpático, ele aceitou prontamente ao convite da Revista Tutti para uma entrevista, que encontrou neste Sr. Brasil o personagem do interior ideal para homenagear o aniversário da caipira Piracicaba, que completou 249 anos em 1º. de agosto.
Revista Tutti – Qual foi sua maior dificuldade no começo de carreira? Chegar a São Paulo de carona aos 16 anos ou optar pela vida de artista?
Rolando Boldrin - A opção pela vida artística fora feita desde criança. E como tudo na vida não tem seu começo fácil, foi muita luta no início. E durante muito tempo também. Vida de artista brasileiro nunca é fácil. Mas valeu a pena!
O seu programa traz músicos brasileiros que estão fora da mídia ou apresenta os mais famosos em um formato diferente. Como funciona esta seleção de artistas?
Este programa é uma criação minha. Sou eu que seleciono os artistas. Pura intuição para a escolha.
O senhor costuma usar de improvisos, nos palcos e na TV. Para isso, é preciso mais técnica ou mais experiência mesmo? Ou uma mistura dos dois?
O improviso é estimulante, desde os tempos de início da carreira, quando não existia videotape. Era tudo ao vivo. Em preto e branco. E muita coisa era improvisada. Daí a experiência neste sentido.
O cenário do Sr. Brasil é tão múltiplo quanto os artistas que recebe. Patrícia, sua esposa, é responsável pela montagem e escolha dos itens. Quantos são e qual é o mais especial?
Neste assunto, só mesmo a Patrícia, criadora do cenário, pode te informar. Patricia Maia Boldrin – O Sr. Brasil, da TV Cultura, é o primeiro programa de televisão da América Latina a ter seu cenário certificado FSC®. O selo é um atestado da origem responsável, considerando os aspectos sociais e ambientais do manejo, ou extração, na floresta para a madeira usada na construção do cenário. Assim, o palco agrega valores socioambientais e culturais ao projeto de divulgação dos artesãos brasileiros e suas obras, todos relacionados em www.artesanatosustentavel.com.br.
Para quem já viajou por todo o Brasil e conhece grande parte da nossa cultura, o que mais te marcou nessas andanças?
A aceitação total do nosso trabalho pelo grande público e sua emoção depois das minhas apresentações.
Como a cultura popular pode sobreviver ao minguante número de festivais de música?
Pelo que eu saiba, existem muitos festivais de música pelo Brasil afora. Coisa que não reflete em São Paulo ou Rio. Existe um trabalho de ´formiguinhas cantadoiras´ pelo Brasil afora. Isso é que importa.
O espaço limitado que a grande mídia, TV e rádio, concedem à música caipira e regional é um caminho sem volta? Por quê?
Ainda bem que existem as ´formiguinhas´ que falei há pouco.
Quais são as características de um caipira? O caipira piracicabano tem algum traço ou característica específica em sua opinião?
Não sou um entendido de forma profunda no universo caipira. Quem o estudou muito foi o escritor de Tietê, Cornélio Pires. Este era um catedrádico sobre o caipira paulista. Eu falo sempre de forma generalizada sobre o homem simples do interior do Brasil. Eu os trato sempre com o nome carinhoso de caboclo.
Conta pra Tutti qual é a música que mais toca seu coração. Tem algum ´causo´ pra contar sobre ela?
O tema do meu programa, Vide Vida Marvada, que já tem 35 anos. Foi composto por mim em dez minutos e considero uma mensagem muito séria e espiritual sobre o que sinto em relação à nossa gente.
Qual é sua definição de Brasil?
O Brasil é um grande empório, tem de tudo!
Em 1990, quando estrelou a campanha do banco Bamerindus sobre a creditação no país, o senhor foi sensibilizado pelo clima de descrença no Brasil. No momento atual, quase que um déjà-vu de 90, o que tem passado por sua cabeça? Qual é o seu sentimento de brasileiro? Se pudesse fazer uma propaganda agora ou falar de forma direta para a nação, o que diria?
Eu sempre acreditei no povo do meu país. Daí a campanha institucional que criei em ´1989, ´Credite no Brasil´. E continuo acreditando ou creditando.
Há alguma novidade no programa Sr. Brasil ou na sua carreira que possa contar para o nosso leitor?
Depois de dez anos sem gravar, estou com novo trabalho em disco, o CD Lambendo a Colher, lançado pelo selo Sesc.
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