Inquietos anos 80

Os anos 80 foram chamados de ‘a década perdida’ por conta da estagnação econômica que marcou os países da América Latina naquele período. Se, por um lado, a crise financeira foi ‘feia’, por outro, muita coisa bacana aconteceu naquela época na ciência e tecnologia, nos esportes, no entretenimento, no comportamento, nas artes e na cultura de uma maneira geral.

 

Foi uma década memorável. Enquanto o piloto brasileiro de Fórmula 1 Nelson Piquet conquistava o bicampeonato mundial, em 1983, a Apple lançava o computador Macintosh. No Brasil, em 1984, nascia o primeiro bebê de proveta e o povo enchia as ruas do país pedindo ‘Diretas Já’, ou seja, eleições diretas para presidente e o fim da ditadura militar. O cantor norte- mericano Michael Jackson lançava, em 1982, o álbum Thriller, e se consagrava como o ‘rei do pop’. No Brasil, a música ganhava novas bandas como Blitz, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Legião Urbana, Barão Vermelho, Titãs e tantas outras, que mudaram o cenário da música brasileira.

 

Foi a década dos planos econômicos que tentavam acabar com a hiperinflação que assombrava a economia brasileira. Em 1989, aconteciam as primeiras eleições diretas para presidente da República, no Brasil. No cinema, eram produzidos clássicos como E.T. O Extraterrestre (1982), Blade Runner - Caçador de Andróides (1982), a trilogia Karatê Kid (1984, 1986 e 1989), a trilogia Indiana Jones (1981, 1984 e 1989), Os Caça-Fantasmas (1984), Viagem Insólita (1987) e mais algumas dezenas de sucessos que marcaram época. Foi a década da Aids e das mudanças que ela provocaria no comportamento sexual dos jovens no mundo todo.

 

E, o mais importante: os anos 80 produziram a famosa geração Y. Conhecida também como ‘geração do milênio’ e ‘geração da internet’, ela não só testemunhou, como também desfrutou dos avanços tecnológicos que transformaram o mundo. É conhecida por ter grande ambição, por ser exigente e sempre antenada em novas tecnologias e produtos. Outra marca é a sua preocupação com o meio ambiente, muito maior que a de seus pais.

 

Nesta reportagem, mostramos como são e o que pensam representantes da geração Y que ocupam hoje lugar de destaque no cenário piracicabano. Eles falam da infância, da família e da sua trajetória profissional. Inquietos e arrojados, eles demonstram segurança em relação ao futuro e sabem onde querem chegar. 

 

A série Anos Incríveis era a sua predileta na telinha. Quando criança, assistiu a O Pestinha no videocassete por três vezes seguidas. Antes dos 15 anos, começou a tocar contrabaixo, época em que conheceu o rock’n roll ‘de verdade’ com o Led Zeppelin. Aos quatro anos, seus pais se separaram, uma situação que poderia ser adversa, mas que, ao contrário, preparou Ivan Romanini para a sua profissão de publicitário e empresário.

 

“A separação me permitiu conhecer muito mais gente e, consequentemente, viver um mundo mais amplo do que a maioria das pessoas ao meu redor naquele momento – e talvez até hoje. Acabei tendo mais do que duas famílias e sempre estive cercado de pessoas queridas, com personalidades, idades, origens e estilos variados. Isso faz muita diferença em minha vida e no meu trabalho, pois o publicitário tem que ser receptivo à pluralidade e, principalmente, conhecer a essência e o comportamento das pessoas”, diz Ivan, proprietário da Sim Propaganda.

 

Formado em 2004 pela Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), ele montou sua própria agência em 2007, aos 23 anos. No currículo de Ivan ainda consta especialização em planejamento de comunicação, pela Miami AdDchool; ele também foi professor no curso de publicidade e propaganda da Faculdade Anhanguera; e ao longo de sua trajetória atendeu clientes como Nike, Nestlé, Johnson & Johnson, Levi’s, Centauro, Yahoo!, Accor Hotels, Prevent Senior, entre outros.

 

Sua empresa recebeu o selo Gold Social Media Professional, a única certificação para excelência em mídias sociais reconhecida pela ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico). Ivan revela alguns passos que acredita que o ajudaram a construir uma carreira sólida: estudar, trabalhar desde cedo e morar na capital.

 

“Levar a graduação a sério e começar a estagiar no início do curso superior me ajudou a entender a dinâmica da profissão e da rotina de trabalho. Morar sozinho e trabalhar em São Paulo também são ótimas experiências, que me prepararam para voltar a Piracicaba mais completo. Em todos estes caminhos conheci muitas pessoas que me marcaram profissionalmente. Com todos eles aprendi muito e sou grato pelas experiências e amizade”, diz Ivan, que nasceu em 1983.

 

Em meio a tantos fatos marcantes, Ivan conta que só uma coisa não mudou: “Quando era criança, o que eu mais gostava era jogar videogame com meu irmão e estar com meus amigos numa rodinha de violão. E estes são ainda meus passatempos preferidos!”. 

 

 

 

 ARTISTA PRECOCE

 

 

Se você nasceu na década de 80, certamente vai se lembrar que ostentação em sala de aula era ter aquele estojo de madeira enorme da Faber Castell. “Aos 10 anos, meu sonho de consumo era aquele estojo. Tinha mais de 15 compartimentos contendo tudo o que você poderia imaginar, desde lápis de todas as cores até giz de cera e pastel. Era vendido na antiga Libral e, toda vez que eu voltava pra casa da escola, eu parava ali para sonhar com ele”, conta o arquiteto e paisagista Gustavo Rocha, nascido em 1984.

 

O gosto pela arte veio cedo. ‘Culpa’ da mãe que percebeu a aptidão do menino para as artes logo na infância. Aos três anos ele já desenhava e, aos 10, ganhou o primeiro prêmio nacional num concurso interescolar de desenhos promovido pelo Lions Internacional. “Isso me deixou tão feliz a ponto de querer me dedicar quase que integralmente ao desenho e à pintura. Dos 10 aos 16 anos, me dediquei à profissão de artista plástico, estudando, pintando muito e participando de diversas exposições”, diz.

 

O tênis de mesa no clube; Kill Bill, de Tarantino, na telona; Extreme Makeover Reconstrução Total na telinha; e Jovem Pan no rádio também fazem parte das boas lembranças de Gustavo na pré-adolescência.

 

Também marcou o jovem a primeira viagem ao exterior, aos 14 anos. Foi tão inesquecível que ele repetiu a dose após a graduação. “Passei um ano na Europa e posso dizer que esta viagem foi um grande divisor de águas, pois me proporcionou amadurecimento e aumento de repertório muito grande. Pude aprimorar meus conhecimentos em cursos na área de arquitetura, paisagismo e design, além de estar cara a cara com os grandes monumentos ícones da arquitetura, que eu sempre admirei e estudei”.

 

Formado em arquitetura e urbanismo e especialista em paisagismo, Gustavo também trabalha com design de interiores. Antenado, está sempre acompanhando cursos, palestras, workshops e mostras do setor. Projetos com estética e funcionalidade, sustentabilidade e economia são as óticas profissionais do arquiteto e paisagista. Recebeu prêmios na Casa Cor 2013 e Village Arte Decor 2015.

 

A excelência profissional tem origem na aptidão de Gustavo, mas duas mulheres são seus pilares: “Minha mãe foi e ainda é a minha grande incentivadora. Sempre muito amorosa e dedicada, lutou com toda a força e garra para cuidar de mim e do meu irmão. Ela é meu exemplo maior de coragem, que me proporcionou tudo o eu precisei para me tornar quem eu sou. Para completar, o meu casamento me deu um braço direito no trabalho e uma eterna companheira”.

 

 

A música e a natureza são elementos presentes na vida do produtor cultural e ambientalista Marcio Sartório. Diretor-executivo da Empório Produções Culturais desde 2010, o empresário ainda guarda dentro de si o menino nascido em 1976, na Ilha Solteira (SP). Antes de chegar a Piracicaba, em 1997, para cursar gestão ambiental na Esalq, o passatempo preferido de Marcio era pedalar até a represa e assistir Quem Sabe, Sabe e Repórter Eco, programas da TV Cultura. 

 

Filho de professora e pai projetista técnico nas usinas hidrelétricas da cidade, Marcio aponta como um fato marcante o fim do salto das Sete Quedas pela barragem da usina hidrelétrica de Itaipu. “É minha primeira memória ambientalista. Assistia às reportagens e não me conformava com o impacto que aquilo gerava. Isso me emociona até hoje.”

 

Na pré-adolescência, Marcio teve as primeiras aulas de violão. Na faculdade, tudo se misturou com sucesso tremendo: seu primeiro projeto cultural, o Canta Pra Mim, Piracicamirim, teve um álbum gravado pelo grupo Corda de Barro. “Com esta banda circulamos por eventos nacionais e fomos à Espanha”. Na sequência, veio um projeto de resgate e preservação da cultura caiçara na Ilha do Cardoso (SP).

 

Fundador da banda Maracangalha (1998), Márcio destaca que “trabalhar com arte e meio ambiente é gratificante, mas pode ser frustrante se não estiver preparado para a falsa devoção do mundo”. E garante: “É preciso muito estudo, dedicação e perseverança”. 

 

 

 

 

 

 

Uma piracicabana que ganhou o mundo das artes de presente da mãe. Esta é a vida de Juliana Pavanelli, filha de Vera, sua mentora nas artes plásticas. Sua vida de menina transitou pelos salões de artes, acompanhando os bastidores do universo artístico, com montagem, júris, seleções e premiações. Juliana abraçou as artes, formou-se na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) e se especializou em xilogravura na Escola Massana (Barcelona). Nascida em abril de 1981, na juventude participou de salões de arte conceituados, quando recebeu diversos prêmios. Juliana tem trabalhos em acervos de museus e exposições no Brasil, Portugal, Espanha, Itália, Suécia, Finlândia, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França e Japão. A artista tem também trabalhos em catálogos da Espanha, Portugal, Itália, Finlândia, Estados Unidos e Japão. Neste ano, a sede da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, recebeu a sua mais recente exposição.

 

Os fins de semana da jovem que sempre se interessou pelo diferente foram marcados por visitas à capital para ver bienais, o planetário e shows. Xuxa na TV, Jovem Pan na rádio, Família Adams no cinema e as férias na chácara da avó também não são menos relevantes na vida da artista plástica porque, nas palavras dela, “tudo o que vivenciamos, mesmo que pequeno, tem reflexo no futuro pessoal e profissional”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Relacionamento é a palavra marcante na vida dos publicitários Mateus Piffer Junior e Carlos Macedo, sócios na empresa especializada em marketing digital, a Neurônio Adicional, carinhosamente conhecida como NA+. Craques no que há de mais novo em comunicação, a web, ambos tiveram a sociabilização muito presente desde novos – do futebol na rua a receber os amigos em casa –, característica que resultou numa amizade de faculdade que dá base à confiança na gestão conjunta dos negócios.

 

Na pré-adolescência, Mateus queria mesmo era ter uma camionete e uma chácara com piscina para reunir os amigos. “Hoje, não tenho exatamente uma chácara, mas um espaço confortável pra reunir família e amigos”, conta. Quem conhece o currículo do publicitário imagina-o como um workaholic: pós-graduado em marketing digital e negócios interativos; fotógrafo profissional; formado em apresentações no estado da arte (Soap). Antes do fim da graduação, ocupou a presidência do Centro Acadêmico de Comunicação e da Atlética de Comunicação da Unimep; deu aulas de inglês; fotografou eventos; e colecionou estágios.

 

“As experiências na faculdade me permitiram aprender muito sobre administração e liderança, não só nos centros acadêmicos, mas fazendo todos os estágios possíveis desde o primeiro semestre. Numa oportunidade no Sebrae, adquiri o conhecimento e entusiasmo necessários para abrir minha primeira empresa, a Ziil Propaganda. Também aproveitei todas as oportunidades profissionais que a vida me deu, antes mesmo de entrar na graduação, como professor de inglês em uma ONG”, relata. Aos 32 anos, o publicitário é prova de que estudar e aproveitar todas as oportunidades são caminhos para consolidar a vida profissional.

 

Mas, ele mesmo faz um alerta: é preciso valorizar o tempo livre e ter qualidade de vida. Amigos e parceiros não por acaso, Carlos, com 36 anos, trilhou o mesmo caminho de busca profissional (aos 14 anos já trabalhava numa quitanda) para, atualmente, defender que a qualidade de vida é a melhor meta a ser perseguida. Pós-graduado na mesma área que seu sócio, teve uma experiência de 15 anos no setor financeiro, atendendo empresas de todos os portes. “O trabalho no banco me deu uma bagagem importantíssima para atuar com administração de empresas, comunicação e marketing”, afirma Carlos, que também fez consultorias privadas para empresas locais, é palestrante sobre marketing digital e diretor de uma ONG de proteção animal da cidade.

 

O grande encontro dos dois colegas de faculdade está na sintonia da qualidade de vida após experimentar diversos universos e sorver muita informação: Carlos resolveu por fim ao estressante no trabalho no setor financeiro e Mateus quis abrir uma agência com foco em um segmento inovador e dividir as responsabilidades com um verdadeiro amigo. Assim, nasceu a Neurônio Adicional, em 2012, e dois publicitários realizados, com grandes afinidades entre si. 

 

 

A arte sempre fez parte da vida do arquiteto Djansen Grecco, piracicabano nascido em 1981. Na adolescência, o fato marcante foi sua primeira visita ao Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói (RJ). “Depois de muito insistir com os meus pais, pude, finalmente, conhecer a grande ‘nave espacial’”, conta. Junto da experiência de ver de perto o prédio criado por Oscar Niemeyer sobre o Mirante da Boa Viagem, Djansen tem outra recordação memorável: “Aprender a tocar instrumentos musicais e ter ganhado uma guitarra também foi inesquecível, pois até hoje é um dos meus hobbies preferidos”.

 

A criança que cresceu ouvindo de Jovem Guarda a Beatles teve o incentivo para a música despertado pela família. Ele não destaca nenhum programa de TV da época, mas sim a recordação de participar, desde pequeno, dos programas de rádio com o pai, Djansen Granado de Lima.

 

Além da guitarra e do rádio, mais um presente marcou a vida do arquiteto. Entre seus lazeres preferidos entre 10 e 15 anos de idade estava tocar em banda de rock e um programa de desenho para computador, um presente do pai. “Já criava casas, edifícios, boas lembranças de um grande amor pela arquitetura”. Na mesma fase, o maior desejo de menino era o de “viajar, se aventurando pelo mundo, conhecendo novas culturas e os grandes edifícios referências da arquitetura”.

 

Foi também na pré-adolescência que Djansen começou a trabalhar, acompanhando o pai na imobiliária da família. Tudo sem traumas, sem pular fases e com muito carinho. “Meus pais sempre foram muito presentes e muito companheiros. Todo amor que eles me deram, hoje reflete tanto na minha vida pessoal, quanto profissional”.

 

Nada poderia ser diferente na vida de adulto. Sobre o episódio mais marcante em sua carreira, a família se mistura a tudo: “O período profissional que mais me fortaleceu foi quando formei minha família. Minha esposa e eu passamos a trabalhar juntos com amor e muita dedicação. E tudo se completou com o nascimento da minha filha”.

 

Djansen se formou em 2004 e hoje tem um escritório premiado (Village Arte Decor), a DGL Arquitetura, há 11 anos no mercado. Com projetos em São Paulo, Piracicaba e região, Djansen trabalha sob o formato de linguagem e conceitos diferenciados e extremo rigor na execução. “Para quem está começando, a dica é fazer com amor, seriedade e muito profissionalismo. A arquitetura é uma área muito valiosa, pois cuida da realização dos sonhos das pessoas”, diz. 

 

 

Romântica e independente. Se por um lado ela fazia balé desde pequena e amava os filmes como Ghost, do Outro Lado da Vida, do outro, trabalhou desde cedo e construiu a vida sozinha na dura São Paulo. Rose Massaruto, nascida em agosto de 1980, é secretária municipal de Turismo e sócia-fundadora da Ecult Educação, Arte e Cultura.

 

Na adolescência, o curso técnico em nutrição, junto com o ensino médio, colocou Rose no mercado de trabalho. De manhã, os estudos, e à tarde, estágio. À noite, cursinho preparatório para o vestibular. Após a graduação em turismo veio o segundo desafio: dar aulas. “Foi marcante o primeiro dia em que entrei na sala de aula, uma mistura de medo e dúvida, e a pergunta: será que daria conta de ensinar? Mas, me senti realizada com a possibilidade de aprender. E como aprendi! Acredito que aprendi mais do que ensinei, e descobri que a vida profissional é uma eterna troca de conhecimentos”, conta ela sobre a profissão que exerceu por dez anos no Senac.

 

Rose é especialista em planejamento urbano, mestre em hospitalidade e tem MBA em gestão de marketing. É empreendedora, consultora técnica e palestrante em empresas públicas e privadas nas áreas de turismo, hotelaria, marketing e eventos. “Acredito na construção de competências e, principalmente, em ter metas, não sonhos, metas que defino como e onde chegar. Competências são fundamentais para você conseguir entrar e permanecer no mercado de trabalho, mas nem todos têm a capacidade de ser um bom profissional, o que significa estar aberto a aprender e estar disposto a ensinar”, conclui.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma infância repleta de amigos e esportes na maior modalidade que existia para os nascidos nos anos 80: a rua. O que era diversão na infância sofreu um racha na fase adulta. Graduado em educação física e envolvido com a promoção de eventos desde a faculdade, o atual proprietário de um dos bares com música ao vivo mais tradicionais de Piracicaba, o Estação Cultural, se viu dividido entre duas paixões.

 

Durante a faculdade, André Neder Morato, que nasceu em 1979, trabalhou em projetos sociais em bairros de baixa renda. “Adorava estar no meio da comunidade”. Na mesma época, entrou no DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Unimep e começou a promover eventos – o primeiro ‘estourou’ com um público de 1.000 pessoas quando eram esperadas 200, acendendo uma paixão pela área.

 

O curso acabou e Neder saía do bar às cinco da madrugada para trabalhar como educador físico na escola às 7h. “Não estava 100% em nenhuma das funções. Foi difícil escolher, mas apostei no que me dá mais tesão: a satisfação de ouvir ‘fui no seu bar ontem e estava demais’”. Tomada a decisão e com base em casas noturnas que frequentou, Neder assumiu o bar que, de início, era comandado por três sócios. 

 

O sucesso do Estação, que já tem 11 anos, está na pesquisa musical, bom atendimento e segurança. “Meus clientes são amigos e chamam meus funcionários e a mim pelo nome”, conta o empresário, que recebe 700 pessoas em sua casa de quinta-feira a domingo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Num heliponto de um prédio, em São Paulo, ele produziu todo cenário para a gravação do DVD de 2015 da Banda Eva – tarefa árdua de três dias para levar para ao último andar todo equipamento por elevador. O Carnaval de Salvador (BA), também já passou por suas mãos. Nascido em dezembro de 1981, aos 15 anos de idade, Rafael Popin já colecionava cases de sucesso em eventos locais. Naquela época, para o público escolar, ele criou baladas teen de sucesso, como o Cala a Boca e Me Beija, Noite do Semáforo e Uma Noite em Porto Seguro; no bar Quiosque Havaiano fez a primeira festa à fantasia – naquela época surgia a marca Popin Eventos.

 

Aos 18 anos, um conflito profissional abriu as portas para o mercado nacional. Um choque de agenda entre o evento que ele promovia e um segundo, que trazia à Piracicaba uma banda bem popular, colocou Popin em contato com seu futuro melhor amigo e padrinho de casamento. “Houve um embate de datas, mas acabei sendo convidado pelo produtor do outro evento para montar toda a iluminação da banda Chiclete com Banana e, assim, viajei pelo Brasil por dois anos e meio. Foi um momento de expansão e de risco porque o investimento foi alto e eu não sabia daria certo”, conta o empresário do setor de eventos sobre sua amizade com o atual produtor da Banda Eva.

 

O que é hoje profissão sempre esteve no seu dia a dia. Desde criança, Popin colecionava livros e reportagens sobre o maior festival de bandas no Brasil, o Rock in Rio. “Lembro que os equipamentos vinham em containers, de avião. Aquele universo me abriu os olhos para o mundo dos shows. Se eu pudesse me ver agora com a idade que eu tinha, ficaria bem animado com o que eu já consegui nesta mesma área”.

 

A chave do sucesso é a dedicação, afirma Popin. O trabalho na área de entretenimento não tem fim de semana e nem horário comercial. O mundo VIP também não é exatamente o lugar do profissional de eventos. “Viajo horas de caminhão para levar equipamentos. Depois vem a etapa de conferir toda a montagem. Tudo vale à pena não pelo dinheiro, mas pelo feedback que recebo. Eu trabalho com sonhos de outras pessoas e tenho que prestar muita atenção sobre o perfil de cada um, por isso faço eu mesmo o atendimento ao cliente”, diz Popin, que também realiza todo tipo de eventos sociais e corporativos.

 

 

Um Super Nintendo e o carrinho de rolimã são lembranças da infância, mas disputaram espaço com a responsabilidade profissional e, em seguida, a disciplina do esporte. Nascido em 1984, Gustavo Junqueira, sócio-diretor da imobiliária que leva o sobrenome da família, iniciou nos negócios do pai ainda bem jovem. “No dia que fiz 10 anos, meu pai me disse que eu já não era mais um menino, que estava me tornando um homem e precisava começar a trabalhar. Naquela época, eu vinha para a imobiliária e ficava brincando, desenhando... Depois, passei pelas mais diversas funções na empresa, iniciando com tarefas simples como organizar fichas, até trabalhar em outras áreas como caixa, cobrança, recepção”.

 

Os planos do pai não agradaram muito ao menino, que via os amigos com tempo livre e ele, não. “Trabalhar cedo foi marcante para mim. Eu não gostava. Enquanto meus amigos brincavam depois da aula, eu tinha que ir ao trabalho com meu pai. Porém, vejo que essa imposição foi fundamental na minha formação”. 

 

A disciplina conquistada levou Gustavo a um histórico de medalhas no esporte. Com 15 anos, ele iniciou no jiu-jtsu e entrou para as competições. “Em 2007, após me graduar em administração, tive um grande dilema: a imobiliária ou a vida de atleta. Para evoluir no esporte era preciso sair da cidade, um sonho que não tinha como ser adiado. Assim, naquele ano fui para São Paulo para treinar na melhor equipe de jiu-jitsu do mundo, mas não me afastei completamente da imobiliária: voltava toda semana e, mesmo à distância, cuidava do financeiro e do marketing da empresa”.

 

O jovem empresário, administrador e desportista coleciona vitórias e tem mais de 100 títulos no jiu-jitsu: foi tetracampeão paulista, tricampeão brasileiro, campeão pan-americano e europeu e vice-campeão mundial.

 

Graduado em administração e credenciado no Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci), Gustavo está à frente dos negócios da família ao lado da irmã Luíza. “Procuramos retribuir essa confiança que ele (o pai) depositou em nós, e acredito que estamos no caminho certo. Mesmo após meu pai se afastar dos negócios, continuamos a crescer nos segmentos de locação, revenda e lançamentos de imóveis”. Para a vida, Gustavo guarda o ensinamento de resiliência: “As coisas, provavelmente, podem dar errado antes de começar a dar certo”.

 

 

O pai como referência de incentivo e empreendedorismo. Roberto Diehl marcou a vida dos irmãos Matheus e Guilherme Ferrari Diehl, proprietários da Aço Artefatos. “A criação da empresa foi o momento profissional mais importante na minha adolescência. Quando eu tinha 15 anos, meu pai deixou o emprego para se aventurar em algo novo. Estive com ele desde o começo. Aquela época me traz ótimas lembranças. Apesar das dificuldades, a esperança e determinação do meu pai sempre prevaleceram”, conta Guilherme, nascido em 1985.

 

A parceria entre pai e filho resistiu à morte de Roberto, em 2014, outro episódio que impactou a vida de Guilherme. “Naquele momento, senti que deveria continuar forte e prosseguir o que havíamos começado”.

 

A sintonia no trabalho era a extensão do ambiente familiar. “Minha relação com meus pais sempre foi harmoniosa e de muito amor”, afirma Guilherme. “Eles eram tranquilos e nos incentivavam a fazer as coisas das quais gostávamos. Sou muito grato por terem me ensinado sobre valores e princípios, educação e respeito. Nunca tivemos limites impostos, sabíamos até onde podíamos ir”, conta Matheus, nascido em 1983.

 

O incentivo dentro de casa foi decisivo para a carreira de Matheus. Graduado em comércio exterior, teve a oportunidade de conhecer países da África a trabalho e viver na Austrália, assim como seu irmão mais novo, que concretizou seu maior desejo, o de conhecer outros países.

 

Guilherme, formado em propaganda e marketing, seguiu a experiência do pai e continuou inovando: há dois anos cursou gastronomia e criou o Mesa para Amigos (mesaparaamigos.com.br). “Foi uma forma de conciliar a paixão por cozinhar com a possibilidade de iniciar um novo negócio”, afirma.

 

O que não mudou entre os dois irmãos é a paixão pela música. Ambos tocam instrumento de cordas desde a adolescência. “Tocar baixo e guitarra até hoje são meus passatempos preferidos”, afirma Guilherme. “Ter uma guitarra Gibson Les Paul continua sendo meu sonho de consumo até hoje”, diz Matheus. Do alto dos trinta e poucos anos, o mais novo dos Diehl defende: “Devemos ser persistentes e criativos para não desistir diante das dificuldades e encontrar uma boa saída para quando ela surgir”. Para Matheus “é preciso trabalhar a visão periférica, não se prender a padrões e absorver todo tipo de informação e ser crítico ao usá-las. E ousar, sempre”.

 

 

Calma, paciente e responsável, a menina que tinha como desejo conseguir executar movimentos de dança e passar em exames da arte, graduou-se em nutrição pela Unimep. Foi quando uma operação no joelho a separou das sapatilhas. “Quando inaugurei meu consultório, em julho de 2011, abri mão de todo e qualquer movimento profissional ligado ao balé clássico. Precisei optar por apenas um caminho para que ele fosse vitorioso. Naquele momento, entendi que minha adolescência havia passado e que as minhas decisões e problemas já não eram de responsabilidade dos meus pais. Ainda que eu tivesse todo o apoio deles para qualquer decisão, sabia que as consequências dos meus atos e escolhas deveriam ser exclusivamente minhas”, conta Marcela Mello, especialista em saúde integral.

 

E ela agarrou seu futuro! Pós-graduada em nutrição esportiva, funcional, ortomolecular, epigenética e naturopatia, além de mestranda em medicina chinesa, Marcela investiu firme em sua carreira de nutricionista e também fez cursos de bioquímica, radiestesia e hipnose clínica. Para ela, a vida é paciência, perseverança e foco. “Se arrisque e não tenha medo de inovar”, afirma.

 

O desafio de ter um negócio próprio ganhou apoio da família e o empenho de Marcela, base que garantiu o sucesso da profissional múltipla que é hoje. “Quando partimos para abrir um consultório, para sermos autônomos, a satisfação financeira não vem no próximo quinto dia útil! É infinitamente mais desafiador, tem inúmeros obstáculos, leva-se tempo para conquistar uma agenda satisfatória. No entanto, o céu é nosso limite.

 

Depois de conquistados os primeiros objetivos, mais e mais virão. São ideias sem fim em que o sucesso de cada projeto só depende do profissional”. Quando jovem, Marcela, nascida em setembro de 1987, não tinha um ator ou programa de TV preferidos. A sua referência era nada mais nada menos que a própria mãe, Kitty Gorga Mello. “Eu sempre admirei muito minha mãe e a forma como ela conquistou tudo. Pensava: Quero ser como ela quando crescer”. Filha de bailarina clássica, Marcela foi de aluna a professora de dança, demonstrando sua aptidão pelo profissionalismo já na adolescência.

 

Paralelo à dança, Marcela tinha outras atividades como inglês, hipismo e ginástica olímpica. Entre 12 e 13 anos, dedicou-se ao balé e ao sapateado, e outras atividades de suporte à dança. “A fase dos 14 anos, invariavelmente, marca a primeira paixão, o primeiro beijo, a mudança do período escolar, mas, para mim, foi mesmo o início da minha vida profissional. Comecei dar aulas de balé e sapateado na escola da minha mãe, e aí já assumia responsabilidades.”

 

 

 

 

Apenas três anos separam os irmãos Danilo, de 1983, e Diogo Bonazzi Dressano, de 1986. Parceiros desde crianças, eles dividiram momentos como uma banda de colégio e campeonatos de vídeogame. “Descobri o rock adolescente por influência do meu irmão. Elegi o Red Hot Chili Peppers como minha banda preferida. Ingressei na aula de contrabaixo, querendo tocar como o baixista do Red Hot, o Flea!”, conta Diogo.

 

A paixão pelo rock juntou irmãos e amigos para formar a banda Coalas Cegos. “Nossos ensaios eram meu melhor passatempo! Tocamos em muitos colégios nosso rock’n roll, quando, na época, a moda era o reggae. Foi divertido ‘ir contra o sistema’. Meus pais logicamente me impuseram alguns limites, porém, sempre foram tranquilos e confiaram em nós”, lembra Diogo, que estudou, junto com o irmão, no Dom Bosco Assunção.

 

Danilo também investiu na música e começou com as aulas de guitarra na adolescência. “Naquela época, meu lazer preferido era tocar guitarra e a leitura, principalmente livros da coleção Vagalume. Lembro-me muito bem de assistir à Fórmula 1 na TV nas manhãs de domingo, sempre torcendo pelo Ayrton Senna e, à tarde, ouvir os jogos do XV de Piracicaba com meu pai pelo rádio”.

 

Na fase adulta, a parceria entre os irmãos não poderia ser diferente: ambos seguiram a profissão do pai, de cirurgião-dentista. “Sempre admirei aqueles que se dedicam a ajudar as pessoas, tendo como modelo meu pai. Também sempre fui muito próximo dos meus amigos e aberto a novas amizades, característica que herdei da minha mãe. No momento em que defini cursar odontologia, ponderei todas essas características por acreditar estar unindo meu modo de ser à profissão. Após terminar a faculdade e iniciar na vida profissional, tive a certeza de que havia escolhido a carreira certa, conciliando minha afinidade por pessoas à capacidade de ajudá-las”, conta Danilo.

 

Piracicabanos que foram longe: Danilo concluiu mestrado em anatomia e especialização em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-faciais, área que o levou a realizar trabalhos junto ao grupo de pesquisas da Universidade Mcgill, em Montreal (Canadá), e possibilitou a troca de conhecimentos com professores das universidades de Boston e Harvard; Diogo está concluindo o doutorado e optou pela área de dentística estética restauradora e, com a profissionalização, recebeu convites para dar aulas e escrever publicações internacionais. “É gratificante ter nosso trabalho reconhecido”, diz Diogo.

 

Danilo, além de aulas e do expediente na Santa Casa de Misericórdia local, mantém com seu pai o consultório. Nesta retrospectiva, Diogo defende: “Seja grato sempre a seus pais e aproveite mais seus avós. Profissionalmente, nunca perca sua vontade de conhecimento!”.

 

 

Como diz a música do Gonzaguinha, “eu acredito é na rapaziada, que segue em frente e segura o rojão... Eu ponho fé é na fé da moçada, que não foge da fera e enfrenta o leão”.

 

Além dos versos, estou certo de que as portas de novos tempos e novas formas de fazer negócios se abrem para nós, que fomos criados nos anos 80. Uma nova ordem em que o mundo, apesar de ultra-conectado, pede uma dose generosa de humanidade e multidisciplinaridade.

 

Nossa geração não sabe, não consegue e não quer viver só com as frias ferramentas digitais. Ao contrário de nossos filhos, não conhecemos o computador desde que nascemos. Ele surgiu e evoluiu com a gente, antes da internet, que chegou depois.

 

O fato de termos um pé no analógico e outro no digital nos deu a vantagem de mantermos vivos o calor do abraço, do olho no olho e das palavras gentis. Isso, cada vez mais, faz a diferença nos negócios.

 

Nós conhecemos o vinil, a fita K7, o CD, o DVD e o pendrive. Nossa música de ninar veio na voz dos grandes nomes da MPB. Nós construímos nossos parâmetros profissionais, vivenciado as mudanças tecnológicas e aplicando-as em nossos trabalhos.

 

Nesta matéria, convidamos alguns jovens profissionais que empreendem, contagiam e são referências para toda uma geração. Gente que vai à luta, que não corre da raia a troco de nada.

 

Após mais de 15 anos de trabalho, tentativas, erros e acertos, mais que um bom currículo, tenho preparo para assumir a liderança. Isso é necessário, é nossa hora. “É por isso que eu vou no bloco dessa mocidade, que não tá na saudade e constrói a manhã desejada”.