O guardião da memória de Chico
Publicado na Revista Tutti Vida & Estilo | 27ª Edição | Novembro | 2016
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Foto: Divulgação
por Cristiane Bonin
Mais do que ser biógrafo de Chico Xavier, o mineiro Geraldo Lemos Neto é responsável por preservar a memória do médium de renome internacional, dedicando-se a divulgar o conhecimento de Chico e a consolidar as instituições espíritas. Como toda mudança de ano nos provoca reflexões, e por ocasião dos 15 anos da morte de Chico Xavier, a serem completados em 2017, a Revista Tutti entrevistou o escritor e amigo do médium, que fala, entre outras coisas, sobre o momento de transição pelo qual a Terra estaria passando até 2019.
Revista Tutti - Em 2017, completam-se 15 anos da morte de Chico Xavier. O senhor é um dos responsáveis por manter viva a memória deste, que é considerado um dos maiores (se não o maior) médium da história. Como vem realizando este trabalho?
Geraldo Lemos Neto - Conheci pessoalmente Chico Xavier em outubro de 1981 e, desde que nos tornamos amigos, em Uberaba (MG), passei a me interessar pelas mensagens ainda inéditas de sua abençoada psicografia. Sendo integrante de uma numerosa família, os Machado, de Pedro Leopoldo (MG), que por largos anos conviveram com Chico, a princípio me dediquei a reunir um acervo dentro desta relação de amizade, dando-lhe a necessária e útil divulgação. Após a desencarnação de Chico Xavier, abrimos, em abril de 2006, a casa de Chico, em Pedro Leopoldo, como um centro de referência à vida e obra dele. Somos também idealizadores dos Encontros Nacionais dos Amigos de Chico Xavier e sua Obra que, desde 2008, vem se realizando anualmente em diversas cidades do Brasil, inclusive com edição internacional em Portugal. Além disso, presidimos a Fundação Cultural Chico Xavier de Pedro Leopoldo, participando em seminários e encontros fraternos pelo Brasil e pelo mundo. Participamos também da direção do Portal Saber Espiritismo (saberespiritismo.com), um grupo de 20 amigos que gravam semanalmente programas publicados gratuitamente na internet com a função de divulgar os ensinamentos espíritas cristãos e vida e obra de Chico Xavier.
Sabemos que Chico destinou toda renda dos milhões de livros psicografados vendidos para obras de caridade. Para onde vai esta arrecadação hoje em dia?
O Chico doou em vida todos os direitos autorais sobre os livros dele, psicografados ou de entrevistas, para as editoras que os publicaram a fim da manutenção de suas atividades educativas e assistenciais, sendo que a maioria delas cumpre um grande papel na divulgação da Doutrina dos Espíritos e em atividades caritativas.
Para quem quer conhecer melhor a figura humana e/ou a obra de Chico Xavier, que livros indicaria?
Nós já catalogamos na Casa de Chico Xavier de Pedro Leopoldo mais de 300 obras biográficas ou que se referem à vida e obra de Chico Xavier. O departamento editorial da Casa de Chico Xavier de Pedro Leopoldo já editou algumas delas tais como de Jhon Harley, O Voo da Garça e Nas Trilhas da Garça; de Carlos Baccelli, Chico Xavier - o Médium dos Pés Descalços e Chico Xavier com Você; da portuguesa Julieta Marques, a biografia infantil Chiquito´. Eu também escrevi duas obras biográficas: Chico Xavier Mandato de Amor e Pedro Leopoldo Vista por Chico Xavier.
Quais foram os momentos marcantes ao lado de Chico Xavier e o que ele o ensinou de mais precioso?
Um momento muito marcante ocorreu em 1986, quando conversamos abertamente e durante muitas horas sobre o futuro da humanidade terrestre, os dois caminhos que ela poderia percorrer caso optasse pelo guerra ou pela paz. O conteúdo principal dessa conversa foi enfeixado em diversas entrevistas publicadas pela Folha Espírita de São Paulo, em 2011, depois transformadas em livro e em DVD de título Não Será em 2012, que mais tarde vieram a inspirar o documentário Data Limite Segundo Chico Xavier. O que Chico Xavier ensinou de mais precioso, e que tem relação direta com o tema destes trabalhos mencionados, é que cada um de nós, seres humanos encarnados ou desencarnados vivendo nos planos de vida terrestres, temos uma responsabilidade e um compromisso muito importante para com a evolução de nosso planeta neste momento de transição planetária. Estamos deixando de ser um mundo de expiações e de provas a caminho de uma regeneração planetária. Acontece que esta regeneração virá mais rápida ou mais demoradamente, a depender da ação individual ou coletiva de todos nós. Cabe-nos assim escolher o caminho da paz para seguirmos mais rapidamente e com mais segurança rumo acima.
Chico Xavier relatou que, após o homem ter pisado na Lua (1969), foi dado um prazo de 50 anos para que a humanidade não entrasse em uma guerra de extermínio e, desta forma, mostrasse que estaria no caminho da paz. O senhor vem ministrando palestra sobre esta transição planetária. Explique-nos um pouco mais sobre o assunto.
Não estamos entregues à fatalidade nem pré-determinados ao sofrimento, mas, diante de uma encruzilhada do destino coletivo que nos une à nossa casa planetária, aqui na Terra. Temos diante de nós dois caminhos a seguir. O caminho do amor e da sabedoria nos levará a mais rápida ascensão espiritual coletiva. O caminho do ódio e da ignorância acarretar-nos-á mais amplo dispêndio de séculos na reconstrução material e espiritual de nossas coletividades. Chico Xavier nos revelou sobre a data-limite do Velho Mundo, em julho de 2019, ou seja, o prazo limite dentro do qual nós, como humanidade, não poderíamos nos entregar a uma guerra nuclear de consequências devastadoras e imprevisíveis. Tudo então vai depender de nós, de nossas escolhas como indivíduos e como nações. Até agora, a pouco menos de três anos do prazo limite, temos conseguido manter a paz geral, muito embora a ‘trancos e barrancos. Pedimos a Deus que nos sustente assim neste caminho de paz e trabalho, a fim de que venhamos a superar todos os desafios da vida comunitária, e mais especialmente os desafios atuais no Oriente Médio, na Síria, no Iraque, no Irã, na Turquia, em Israel, para que não venhamos a ser reprovados no grande teste. Afinal, estamos em período probatório e precisamos vencê-lo em paz para prosseguirmos a alcançar novos horizontes de nossa jornada evolutiva na direção do conhecimento de que somos uma grande família universal.
O programa de entrevistas Pinga Fogo, transmitido pela TV Tupi, que recebeu Chico Xavier como convidado, em 1971, notoriamente tinha a intenção de colocá-lo em ‘maus lençóis´. Como está o nível de aceitação social dos espíritas no Brasil e no mundo?
Não creio que atualmente tenhamos na Doutrina dos Espíritos um alvo do preconceito. A sua aceitação no Brasil é muito grande justamente pelo reconhecimento dos brasileiros à figura humana excepcional que foi Chico Xavier. Fazendo um retrospecto no tempo, sem dúvida alguma a reportagem do jornalista Clementino de Alencar (jornal O Globo) inaugurou a divulgação da mediunidade e dos exemplos de Chico Xavier perante o grande público. Depois, as entrevistas com o repórter Saulo Gomes e os dois espetaculares programas Pinga Fogo com Chico Xavier mobilizaram o Brasil inteiro. Depois veio a novela A Viagem, que se baseou nas obras de André Luiz. Em 2010, em pleno centenário, o filme Chico Xavier, de Daniel Filho (Globo Filmes), e outros baseados em sua obra psicográfica, como o Nosso Lar, levaram ainda mais ao conhecimento das massas populares a mensagem do consolador, que Chico Xavier tão bem representou. Então, os espíritas desfrutam de um certo respeito perante a coletividade, conquistado a duras penas pelos nossos ilustres antecessores, sendo que Chico Xavier foi e continua sendo o principal deles.
Na sua avaliação, quais seriam hoje os grandes desafios da doutrina espírita no Brasil e no mundo?
O grande desafio da Doutrina dos Espíritos hoje é ser confirmada em seus postulados ou princípios fundamentais pelas descobertas efetivas das ciências terrestres, fato que forçosamente mudará paradigmas da coletividade humana. Como exemplo desses princípios fundamentais eu cito a sobrevivência do espírito após a morte do corpo; a mediunidade; a influência dos espíritos desencarnados em nós; a reencarnação; a pluralidade das vidas sucessivas; e a pluralidade dos mundos habitados.
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