O interesse por gastronomia deixou de ser visto como um modismo há algum tempo. É terapia, descoberta de novos caminhos profissionais, preocupação com qualidade de vida. “É um mercado que vem crescendo cada vez mais, e que sempre atrai mais pessoas”, conta Jill Guidotti, coordenadora do Espaço Nutriz, que divide há dois anos com a irmã, a diretora Tatiana Guidotti.
O local, um amplo sobrado na rua Floriano Peixoto, fica repleto numa fria noite de quinta-feira, no final de setembro. São mulheres de várias idades (os homens ainda são minoria) que frequentam o curso de cupcake, orientado pela professora Tatiane Santos. “A maioria dos nossos cursos é livre. E não exigem nenhum pré-requisito. Por isso, temos um público bem abrangente, desde o pessoal que já trabalha na área, até quem faz por hobby ou está à procura de uma carreira”, conta Jill.
A coordenadora lembra que a gastronomia, além do prazer de servir – “não tem muita graça cozinhar só para a gente, o bom é compartilhar”, afirma - permite o aperfeiçoamento do paladar e também uma vida mais saudável, diminuindo o consumo de comida industrializada.
Para a professora convidada, a gaúcha Tatiane, psicóloga de formação e chef por escolha (formada pelo Senac de São Pedro), a aula é uma mistura de suas duas vocações. “É muito legal a troca que permite, por conhecer também a história e as expectativas dessas pessoas”, revela. Durante o curso, ela conta a origem do cupcake, que nasceu nos Estados Unidos, e cujo nome está ligado à xícara (cup em inglês) e há duas teorias sobre isso: ou a falta de formas há dois séculos ou a opção por medidas menores.
Independente disso, Fernanda Macedo, que uniu a atividade de auxiliar administrativa com a de doceira, cupcake é sempre uma delícia. “Eu trabalho no escritório de dia e à noite faço doce, há quatro anos”, conta. A experiência vem dando muito certo, garante, e às vezes ela tem de dividir as encomendas com algumas amigas. Até mesmo o marido, Leandro, passou a ajudar na produção. “Ele diz que o brigadeiro dele é melhor que o meu”.
Viviane Munhoz de Andrade descobriu que sabia fazer doce há apenas um mês, quando resolveu experimentar uma receita de pão-de-mel. “Deu tão certo que já estou aceitando encomendas”, conta. Por isso, queria ampliar seus conhecimentos sobre doces, embora também se dedique a pratos salgados, principalmente à base de berinjela. Ethiene Sanches veio conhecer o curso, por isso não disfarçava a expectativa. “É a minha primeira vez. Eu sempre trabalhei com recursos humanos, mas agora estou parada. Gosto de fazer de tudo em cozinha. Acho que tenho talento para a área, e espero descobrir logo como colocar isso em prática.”
Para Marília de Toledo Dedini Risi, a Lila, a decisão de dedicar-se aos doces também começou há pouco tempo. Foi perto do Natal do ano passado, quando ganhou da avó, Norma Dresselt Dedini, recentemente falecida, um livro de receitas com todos os seus ‘segredos’. “É lindo, porque os livros mais antigos não têm apenas a receita, eles contam a história dos pratos”, conta.
Norma já incentivava a neta a gostar de cozinhar desde bem antes, quando datilografou em fichas as receitas de doces que ela mais apreciava. “Sou uma ‘formiga’. Sempre gostei muito de doces e não concordo muito com quem acha açúcar um veneno. Eu acho que para tudo você precisa ter equilíbrio”, conta Lila, que formou-se em arquitetura pela PUC de Campinas, mas estava sem exercer a profissão por conta do nascimento das duas filhas. O marido, o médico Umberto Risi, é outro grande incentivador.
Hoje ela divulga seu trabalho, com o nome Lilla Vanilla, principalmente pelo Facebook, e aceita encomendas. O subtítulo, As Coisas Doces da Vida, já deixa claro qual é a especialidade. “Eu gosto mesmo de doce. E não tem essa de que só faço, eu experimento e gosto. Para mim, fazer doce tem um lado diferente, tem essa coisa da brincadeira, da festa”, conta Lila, que antes teve uma franquia da loja Imaginarium no shopping.
O doce cardápio de Lila inclui brownie, vários tipos de cupcake, com destaque para o caipira, feito à base de fubá e com cobertura de goiabada, cuja inspiração é Piracicaba. Ela também faz de brigadeiro, Nutella, vanilla e o red velvet, bem vermelho e mais suave. E os biscoitos (de vanilla, de limone e decorados, além de cookies de chocolate) têm o lado divertido: muitos deles vêm com formatos engraçados ou românticos. (por Ronaldo Victoria)