Fazemos acontecer

Mandalas (ou terapia ocupacional)

Publicado na Revista Monte Alegre | 04ª Edição | Setembro | 2011

Terminado o Carnaval, quando me diverti muito participando do projeto Corações em Roda, de danças circulares, na linda e florida cidade de Holambra, interior de São Paulo, e tendo ainda sido jurada do concurso de fantasias do Baile das Marchinhas no Clube de Campo de Piracicaba, voei de volta para o Rio, onde vivo.

Minha filha Carolina precisava de mim, estava vivendo séria crise de um casamento de 15 anos!

Eu andava solta na vida, marido trabalhando no Pará e o casamento também em crise. Eu havia postado no Facebook esta frase: “Sinto-me um avião planando sem plano de pouso.”

Jantei com Carolina, trocamos muitas confidências num restaurante japonês escondidinho do Leblon e foi aí mesmo que tudo começou. Minha barriga começou a inchar.

Uma semana depois de muitas agruras e romarias médicas, estávamos estarrecidos diante do terrível diagnóstico: câncer nos ovários já com invasão no peritônio e intestino. Nível três (de cinco)!!! Grave, muito grave!!!

E aí, como sempre se faz numa hora como esta, fiz a pergunta: “Deus, isso então também podia acontecer comigo???”

De lá para cá, felizmente conseguindo ser tratada pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer), o melhor hospital público do Brasil, venho passando por todos os sofrimentos que essa doença e seu tratamento impõem.

Após três séries de quimioterapia, sem esquecer as várias paracenteses (extração de líquido do abdômen) iniciais, fui submetida à cirurgia de extração do útero, dos ovários e alguns linfonodos.

A químio maltratou muito, mas, em compensação funcionou de forma espantosa. Permitiu que, ao se tirar as partes afetadas e se fazer as biópsias, todo o material já estivesse negativado!

Sem perda de tempo, apenas 21 dias após a operação, já voltei a novas séries de quimioterapia. Hoje estou na quinta, caminhando para a sexta e última aplicação com intervalo de 21 dias entre uma e outra. Falta só mais uma! Ufa!

A boa notícia mesmo eu recebi no dia primeiro de agosto, dia em que, se vivo fosse, meu pai, Eduardo Fernandes Filho, cidadão piracicabano, completaria 98 anos de idade junto com o aniversário da nossa Piracicaba! O médico informou solenemente, durante a consulta, que eu estou curada do câncer, livre da doença que tem todas as chances de nunca mais voltar, se Deus quiser! Os níveis tumorais caíram vertiginosamente. Parece um milagre para mim. E é.

Final feliz, claro! A doença indo embora, o que mais posso querer?

Entretanto, como tudo tem seu preço nesta vida, tenho agora que lidar com sequelas complicadas como ansiedade, medos, insegurança e até uma insidiosa depressão contra a qual estou lutando.

Sei que as orações que recebo dos tantos e muito queridos amigos me ajudaram a superar a doença e a alcançar essa graça da cura. Agradeço a todos, um a um, pois nessas horas nossa fé baqueia e precisamos de todo o reforço possível. Fé na cura é importantíssimo, pois nos predispõe a colaborar com o tratamento. Obedeci tudo à risca, até comendo sem a menor vontade, afinal grande parte do sucesso da quimioterapia se deve à alimentação.

Mas ainda faltando uma série de quimioterapia, como fazer para superar o trauma, o susto e as sequelas psicológicas e físicas? Tanto tempo presa ao hospital ou ao apartamento me sugaram muita energia. Dores variadas, efeitos colaterais, mal-estares, angústias, perda de cabelo, como conviver com isso?

Recebi sugestões de todo tipo de amigos presenciais ou facebookianos. Segui todos os conselhos à risca: pintei, escrevi, cantei, até dancei! Fiz a terapia da 5ª. Sinfonia de Beethoven, colocando a caixa de som no abdômen todos os dias!

E por sugestão da querida Zazá (Zahira Neder), que me visitou no Rio, estou fazendo uma mandala por dia. Sem técnica nem nada, só do meu jeito e isso também ajuda bastante!

Quero minha saúde, vitalidade e energia para criar! De resto, a vida vai se encarregar de mim!

Graças a Deus.


Rê Fernandes é piracicabana, mora no Rio, é artista multimídia, designer, professora e pesquisadora das linguagens artísticas. Éautora do livro Da Cor Magenta – Um Tratado sobre o Fenômeno da Cor e Suas Aplicações, pela Editora Synergia, RJ.

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