Recanto da Felicidade: Um Natal em Monte Alegre
Foto: Rê Fernandes
Em 1975, eu estava grávida da minha terceira filha Renata e já tinha as duas primeiras, Mônica e Carolina e, como vivia e vivo até hoje no Rio de Janeiro, costumávamos vir a Piracicaba para passar o Natal com meus pais.
Naquele ano, a Argentina estava praticamente falida. Era uma grande pechincha viajar para lá, mais barato que qualquer outro lugar do Brasil. Por ter meu pai nascido em Buenos Aires (e naturalizado Piracicabano, como dizia ele), sempre quis conhecer aquela cidade.
Arranjamos passagens e hotel baratos e lá fomos nós, meu marido e eu (Hoje ex), passar uns poucos dias por lá, descansando da correria do dia a dia, comendo muito bem, visitando uma das mais civilizadas cidades da America Latina. As pessoas que lá conhecemos estavam deprimidas com o regime de recessão vigente, mas como passeio e experiência a viagem valeu. Para isso tivemos que deixar as duas meninas com meus pais em Piracicaba.
Ao voltar, já às vésperas do Natal, nós dois fomos surpreendidos com um grande churrasco de confraternização de todos os funcionários e respectivas famílias da então Usina Monte Alegre. Meu pai, Eduardo Fernandes Filho, que fazia parte da diretoria da usina, era quem gostava de organizar essas coisas. Ele fez questão de levar os próprios filhos e netos para o evento.
Eu, nascida na própria fazenda, não tinha na memória lugar tão lindo, bem à beira do Rio Piracicaba, com árvores frondosas, clareiras, pássaros exóticos e recantos paradisíacos. A paisagem era realmente muito linda.
Montaram lá, na ocasião, grandes churrasqueiras e barracas com mesas e bancos enfeitando tudo com muitos laços e bolas vermelhas de Natal. Durante a festa, as crianças (que eram muitas) corriam e brincavam aos gritos de alegria. Havia um grupo regional tocando e cantando aquelas músicas tão piracicabanas. O dia perfeito com uma luz maravilhosa brindou a todos com uma temperatura agradável, até mesmo ideal, embora fosse Dezembro, quando Piracicaba chega a arder de calor.
Lá pelas tantas, depois de muita fartura e diversão, apareceu, não vi de onde, o Papai Noel, todo paramentado, com muitos ajudantes carregando sacos de presentes que foram devidamente distribuídos a todas as crianças lá presentes, cujos olhinhos brilhavam atônitos de felicidade.
A saudade daquele dia é grande, mas também é com muita ternura e orgulho que me lembro dele. Ver no rosto das minhas filhas e sobrinhos, e de todas aquelas crianças, a alegria mais pura é como se eu tivesse filmado em idílica película um pedacinho de mundo perfeito ! E sei que Mônica e Carolina que então tinham 5 e 6 anos e hoje 40 e 41, também têm esse mesmo filme no acervo de suas memórias.
Isso faz parte do que considero felicidade. A tão sonhada felicidade por que todos procuram! E eu pude viver isso! Não sei ao certo a razão daquele local se chamar Teixeirada, mas para mim, certamente, poderia se chamar: “O Recanto da Felicidade”.
Rê Fernandes é piracicabana, mora no Rio, é artista multimídia, designer, professora e pesquisadora das linguagens artísticas. É autora do livro Da Cor Magenta – Um Tratado Sobre o Fenômeno da Cor e Sua Aplicações, pela Editora Synergia, RJ.
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