Depois de toda a digitalização da sociedade, o consumidor agora quer se sentir protegido, como se sentia quando criança. Depois de produzirmos, fotografarmos e exibirmos nossas vidas em quase todas os mídias sociais do planeta, 24 horas por dia, ao vivo e em bilhões de cores, queremos privacidade. Um paradoxo interessante.
Na era virtual em que vivemos já é quase impossível imaginar nossos dias sem nossos i-phones, i-pads, i-macs e i-tv’s. Uma i-vida carregada de tecnologia, ligações wi-fi e telas de toque. Quem não gosta?
Dessa necessidade de privacidade, porém, nasce o respeito pela tradição e pelos chamados antigos valores sociais. Nada estranho nossa atual paixão pela década de 50, quando nossos lares invadidos pelo mais novo fenômeno da época, os eletrodoméstico, simbolizavam o porto seguro de uma sociedade avançando com o progresso. A dona de casa, sempre bem vestida e comportada, tinha estilo, sabia cozinhar de tudo e ainda educava os filhos com precisão suíça. Hoje ela trabalha e depende da babá digital (leia-se i-Pad). O progresso avançou e nossos eletrodomésticos foram digitalizados junto com nossas contas bancárias, nossas fotos, nossas lojas e nossos amigos. Tudo virtual para o nosso conforto.
E como resposta a essa overdose de mega, giga e terabites, o retorno romântico aos tempos passados quando tudo era mais pessoal. Mais humano. Hoje o chique é fazer seu próprio pão, ter uma costureira só pra você, conhecer o dono da mercearia (sim, até a mercearia!), sentar para conversar (mas no chat não vale!) e tudo o que é feito à mão (ou pelo menos que pareça ter sido feito à mão). Um ‘dejá vu’ sentimental num paradoxo necessário.
A única diferença é que desta vez estamos aprendendo o significado e a importância dos antigos valores, da tradição e da qualidade. Não me canso de enfatizar a importância da qualidade. Sem qualidade não há produto que sobreviva. E qualidade nasce do respeito pela tradição. Sem tradição não há passado, não há cultura, não há país. É só comércio, consumismo e nada mais. Como nos anos 50.
Em tempos incertos como esses em que vivemos, nada mais promissor que a certeza da qualidade adquirida pela tradição e respeitada como cultura.