A água é uma das substâncias mais corriqueiras dentro das necessidades humanas e assume uma importante posição na consciência ambiental. Agora, ela também se sedimenta nos patamares do luxo junto ao vasto leque de opções dos menus regados a destilados, fermentados e outros tantos drinques.
Já existem no país restaurantes com trechos deste menu dedicados exclusivamente às águas. Trata-se de uma realidade anunciada. Uma tendência que tornará comum esse tipo de opção nos próximos anos.
E para que você não congele diante de uma carta de águas no próximo restaurante, vamos esmiuçar melhor este assunto que não tem nada de insípido, inodoro ou incolor.
A verdade é que as muitas variedades de água sempre estiveram por aí. A novidade consiste na maior exposição que vemos hoje. Tudo isso acontece graças a uma modernização do mercado, a uma maior exploração das fontes e a um grande investimento em design, embalagem e marketing, além, é claro, do surgimento de especialistas que ajudam a difundir o conhecimento sobre o tema.
O sommelier Paulo Nicolay, também especialista em águas, revela que além da condição de ser gasosa ou sem gás, existem diversos tipos de águas minerais. Elas são classificadas segundo a composição química, origem da fonte, temperatura e gases presentes. São esses aspectos que determinam a finalidade da água que pode servir para banhos terapêuticos, para acompanhamento de determinados pratos e, finalmente, para o tão necessário consumo diário.
O também especialista em águas Gilvan Assenço destaca que existem no mercado de águas envasadas basicamente três tipos liberados à comercialização: as águas minerais naturais, as mineralizadas ou adicionadas de sais e as potáveis de mesa ou naturais. Ele identifica como uma premissa da filosofia gourmet diferenciar beber água de saborear água, e enfatiza que saborear a água e seu significado é uma verdadeira arte.
Em relação a outras bebidas, á água pode ajudar a corrigir o pH do estômago que costuma ficar ácido em função do álcool. Nesse caso, uma água alcalina ajudaria a dimiuir a sensação de azia.
Já na combinação com alimentos, a água unifica o paladar e limpa as papilas de resíduos e sabores, o que ajuda na harmonização dos pratos.
Gilvan ensina que poderíamos partir de pontos básicos de separação de água em grupos de diferenciação, pela estrutura e quantidade de sais, como: levíssimas, que são indicadas para serem consumidas no dia-dia e para sucos, cafés e chás; leves, que são ótimo acompanhamento para massas, pizzas, peixes e molhos brancos; meio encorpadas, indicadas para carnes vermelhas do tipo filés e grelhados magros; e as encorpadas para para carnes gordas,queijos e embutidos.
Além disso, como é o caso das outras bebidas, a água também passa a ter um copo específico para uma melhor degustação, o copo long drink, que agora tem duas versões, uma com a borda fechada, para as versões gaseificadas, e uma de borda aberta para aquelas sem gás. Além de manter o gás, essa diferenciação evita que o garçom complete o copo com um tipo diferente de água da que estava sendo consumida.
O consultor sensorial de alimentos e bebidas Renato Frascino ainda lembra que a água tem um prazo de validade médio de 180 dias e que, ao ser consumida, sua temperatura deve estar entre 8 e 12 graus. Não é recomendado colocar gelo no copo, a não ser que seja feito com a mesma água. O ideal é refrigerar na geladeira ou até mesmo em um balde de gelo.
E Renato garante que, com o crescimento da cultura enogastronômica, a água passou a ter seu lugar nesta mesa do bom gosto e sabedoria, potencializando o prazer da qualidade de vida.
Águas gourmet são consideradas aquelas que possuem um teor maior de bicarbonato, geralmente acima de 100mg por litro. É justamente em função dessa estrutura mineral que elas contribuem para potencializar o sabor de alimentos e bebidas e favorecer a digestão.
“A água gourmet é aquela que unifica o paladar e limpa as papilas dos resíduos dos sabores da comida. O gás potencializa a produção de saliva e excita as papilas gustativas. Por isso, a maioria
entra na classe gourmet”, conta Paulo.
Dessa forma, consumir água transcende a simples necessidade fisiológica de hidratação e passa a ser um momento de prazer, relaxamento e grande sofisticação. Afinal, não é só o conteúdo das garrafas que importa: nas águas gourmet a embalagem e a aura em torno do produto também têm um papel fundamental.
Do Japão, a água Fiji, com sua famosa garrafa quadrada, carrega águas puríssimas de um aquífero que corre sob a floresta do Vale Yaqara, nas ilhas Fiji, e se tornou um objeto de desejo em muitos lugares.
Já a mundialmente famosa marca francesa Evian vem de um aquífero formado apenas pela chuva e pela neve que vem dos Alpes franceses, e tem uma série de embalagens diferenciadas, incrivelmente sofisticadas, além da mais usual. Possuindo alto investimento em marketing, elas têm o design de suas edições limitadas ligado ao mundo fashion com embalagens desenhadas por Christian Lacroix, Jean Paul Gaultier e Issey Miyake.
A marca européia Voss também tem um diferencial nas embalagens que mais parecem vidros de perfumes descolados, além do conteúdo, vindo direto de poços artesianos do sul da Noruega.
Ainda temos a Elsenham que é ligada à marca Chanel, e a mais cara, a Bling H2O que criou uma garrafa customizada exclusiva com 6.500 cristais Swarovski, e que custa mais de U$ 1.500. Também da França é famosa a água mineral Perrier. A marca se formou no fim do século 19 e sua fonte, conhecida hoje como Manacial de Vergéze, é ainda mais antiga, tendo sido descoberta pelos romanos na localidade de Vergéze, próxima à cidade de Nimes. A água é tão famosa que chegou a ser a única aceita pela família imperial inglesa e sua pequena garrafinha verde é inconfundível. (por Giovanna Baccarin)