Fazemos acontecer

Produzir no Monte Alegre

Publicado na Revista Monte Alegre | 10ª Edição | Setembro | 2012
Foto: Alessandro Maschio / MBM Ideias

Aos 62 anos, Julio Piatto trabalha há mais de duas décadas na fábrica de papéis localizada no Monte Alegre, onde hoje é presidente. Ele passou por quatro mudanças desde o início de sua carreira em Piracicaba, e a fábrica completa em outubro um ano de gestão comandada por um grupo japonês. Já a adaptação de Piatto a Piracicaba foi ainda mais tranquila. Nascido em São Bernardo do Campo, a família tem raízes na cidade e voltar a viver aqui pareceu algo natural.

Nesta entrevista, Piatto detalha a grande variedade de papéis produzida atualmente na Oji Papéis Especiais. O grupo hoje comanda o setor de papéis térmicos e tem 100% do mercado nacional de loterias. Foi a Oji que desenvolveu o comprovante de débito na cor amarela para dificultar a falsificação, e hoje é a única a fazer na cor azul. A fábrica é tão relevante no mercado que, a cada dez vezes que você passa seu cartão, há possibilidade de nove vezes o comprovante ter sido feito em Piracicaba.

 

Revista Monte Alegre - Como o senhor analisa esse primeiro ano da presença da Oji Papéis Especiais?

Julio Piatto - A fábrica mesmo existe desde 1953, está indo para 60 anos. E a Oji completa um ano dia 1º de outubro.

Como foi essa mudança?

Quando a Fibria vendeu, foi uma operação muito bem-sucedida porque esse ‘casamento’ veio após um ‘namoro’ de muitos anos. Desde 1988, temos muito contato com o Japão na área de tecnologia de papéis auto-copiativos e térmicos.

Até porque a Oji é gigante nesse ramo, não?

A Oji é a empresa que tem maior capacidade de produção de papéis especiais do mundo e a primeira em volume. No mundo todo, a Oji produz 6 milhões de toneladas ao ano.

E quanto produz aqui?

Aqui é pequeno porque a Oji tem muitos setores. Ela faz papel jornal, papel couchê, papel cartão para embalagem. Somos a primeira empresa 100% Oji no Brasil e ela tem ações na Cenibra (Celulose Nipo Brasileira) há mais de 30 anos.

A transição da Fibria para a Oji foi natural?

Muito tranquila. E outra coisa importante é que nós já nos conhecíamos, tanto as pessoas quanto as empresas. Tínhamos relações comerciais há muitos anos.

Não houve trauma, corte de pessoal?

Não teve troca porque o ponto importante dessa negociação foi reforçar ainda mais a participação da Oji no mercado. Era uma empresa que eles conheciam.

Que tipos de papéis são produzidos na fábrica do Monte Alegre?

Vários tipos. Fazemos o papel térmico, que tem uma infinidade de aplicações. No Brasil, o papel térmico começou com o fax.

Ainda se produz papel de fax?

Ainda se produz, mas é muito pouco. Alguns setores ainda utilizam, principalmente despachantes, que usam remessas de documentos. Mas a tendência é sumir. O principal da produção são todos os papéis de comprovantes bancários. Chamamos de linha printer. Os primeiros a desenvolver os papéis amarelos fomos nós. Não existia papel térmico colorido. Nós desenvolvemos o amarelo porque tinha um problema muito sério no Brasil, no passado...

A falsificação?

Exatamente. Com o papel branco isso se tornava mais fácil. Por isso desenvolvemos o amarelo, para evitar que o pessoal tire fotocópia e falsifique. Nós desenvolvemos o amarelo e o mundo inteiro copiou. E só nós é que fazemos o azul.

Qual a porcentagem dos papéis térmicos da Oji?

O azul é 100% e o amarelo próximo de 75%.

Isso significa na prática que de 10 vezes que eu passo o cartão, em nove o comprovante foi feito em Piracicaba...

Sim. E temos 100% dos papéis da loteria. Hoje a lotérica faz tudo, é um mini-banco, você paga contas, faz apostas. E em todas as operações feitas, o papel é nosso. Estamos há sete anos e antes não existia um papel que pudesse preservar a segurança das apostas.

Mais uma vez evitar risco de falsificação.

E também de evitar danos no bilhete. Hoje o papel de loteria tem uma resistência a café, a gordura.

Por que a pessoa precisa guardá-lo para receber o prêmio.

Você não pode correr esse risco. É um papel especial que passa três vezes na máquina. A primeira para o impermeabilizante, a outra para a tinta e a terceira é uma camada de proteção. Temos também o papel printer que é usado para cupom fiscal, voto eletrônico, recibos em geral.

Como é feito o papel do voto eletrônico?

É um papel que a gente faz e vai dentro da urna. Ele não pode dar problema, e a gente simula aqui todas as condições ambientais, do Brasil todo, quando é muito seco, muito úmido. É o mesmo papel, mas ele se adapta a todas as condições de clima. Se você coloca um papel que enrosque, vai perder registro.

Então vocês estão em tudo, no banco, na urna, na loteria?

De todos esses processos de alta tecnologia a gente participa. Hoje produzimos de papel térmico em torno de 48 mil toneladas ao ano.

Tem previsão de mais investimento?

Temos previsão para chegarmos, no final de 2013, a 60 mil toneladas. Temos também papéis para extratos, códigos de barras, ticket para contas de luz e de água, ingressos de espetáculos, comprovante de embarque e o mais antigo, que é o especial para fax. Esses são os térmicos. Temos o couchê para revistas, rótulos (as páginas internas da revista Monte Alegre são feitas em papel couchê da OJI).

E como é a relação da fábrica com o Monte Alegre?

Com o Monte Alegre a gente tem uma relação histórica muito forte. São muitos anos e essa fábrica começou como uma usina fazendo papel, como uma extensão da usina de açúcar e álcool. E a comunidade do Monte Alegre ajudou a construir essa fábrica.

Quantos funcionários são do Monte Alegre?

Não sei o número exato, mas sempre foi grande. Mesmo depois de o Silva Gordo vender, aí veio a Simão que era uma empresa familiar. Depois a Votorantim, a Fibria, e agora a Oji. Muda quatro ou cinco vezes e continua no mesmo lugar.

Como são os projetos sociais da empresa?

Temos parceria com a Fundação Avistar e o Projeto Formar. O que a gente busca é sempre participar de projetos que sejam sustentáveis. Hoje está na moda falar em sustentabilidade, mas isso vem para nós há tempos. A maneira como você coloca sua responsabilidade social em projetos que sejam duráveis e auto-sustentáveis. Nossa participação em projetos comunitários não é para financiar eventos e sim financiar projetos que consigam sobreviver depois.

E isso traz retorno para a própria empresa, não?

Claro. A Oji, os valores que ela pratica, são muito parecidos com o que a Votorantim e a Fibria praticavam. Não tivemos muita mudança de roteiro, trabalhamos na mesma sintonia.

O senhor é nascido aqui?

Sou cidadão piracicabano. Estou aqui há 24 anos. Nasci em São Bernardo do Campo, mas meu pai nasceu aqui. Voltei porque tinha parentes aqui. Estou todo este tempo na fábrica.

O que Piracicaba tem de especial?

Sou piracicabano por tabela, visito a cidade desde que nasci. Já sabia por que queria voltar. Quando vim, a Simão fazia as entrevistas de recrutamento e já disse que mudaria para cá. Minha casa já estava pronta, e tinha a certeza de que nunca mais sairia daqui. Tenho duas filhas que não nasceram aqui. Mas são mais piracicabanas do que eu. Aqui tem muito calor humano. Você se adapta muito rapidamente com as pessoas. Tenho facilidade para me relacionar. Quando chego, rapidamente me adapto. Piracicaba é assim, é fácil. (por Ronaldo Victoria)

Revista Monte Alegre Ver todas


Index Soluções
MBM Escritório de Ideias.
Avenida Independência, 1840, sala 814 - Edifício Head Tower - Bairro Alemães   CEP 13419-155   Piracicaba SP  Fone 19 3371 5944  contato@mbmideias.com.br