Uma história regada à religiosidade, cultura e tradição. É o que revela a criação da Capela de São Pedro, erguida no bairro Monte Alegre há mais de 75 anos. Parte desta história pode ser conferida em um vídeo, elaborado pelo fotógrafo e cineasta Paulo Heise, e por Wilson Guidotti Junior, o Balu, hoje proprietário do local.
Com quatro minutos de duração, o vídeo que pode ser assistido no You Tube (referência Capela Monte Alegre) ou no Facebook. O trabalho tem uma entrevista especial com Hélio Morganti, filho de Lino Morganti, o dono da Usina Monte Alegre, que teve a ideia de fazer uma capela para os moradores do bairro, a maioria trabalhadores da Usina Monte Alegre.
“O Monte Alegre chegou a ter, por volta de 1936, 1937, umas 3.000 pessoas. Isso se deve ao fato de o plantio e a colheita da cana-de-açúcar ainda serem totalmente manuais naquela época”, lembra Morganti. E essa gente trabalhadora, a maioria de ascendência italiana, tinha o catolicismo fervoroso como uma das características mais marcantes. “Dávamos muita importância à parte religiosa. Por isso que foi erguida no bairro a mais bonita igreja pequena do Brasil”, diz.
Hélio Morganti destaca que o projeto foi feito pelo arquiteto Antonio Ambrote, o mesmo que idealizou o Teatro Municipal de São Paulo e vários casarões paulistanos da época. A capela é uma espécie de réplica de uma igreja localizada em Bozano, na Toscana italiana. O diferencial foram as pinturas de Alfredo Volpi, artista em início de carreira e chamado para decorar o templo. Segundo Morganti, Volpi e seus colaboradores - Mario Zanini e Adroaldo Marchetti - passaram mais da metade do ano de 1937 e quase todo ano de 1938 cuidando dos detalhes ligados ao trabalho.
Paulo Heise editou o vídeo, apresentado pela primeira vez em setembro do ano passado, durante a festa que marcou os 75 anos de inauguração da capela. O material pesquisado foi uma gravação de duas horas do programa Arte Final Variedades, apresentado em 1992 pela TV Beira Rio.
“Transformamos (o filme) em quatro minutos, com as informações essenciais, mostrando a visão de alguém que acompanhou toda essa história”, conta. Morador do bairro há três anos, Heise se considera um apaixonado pelo local. “Agora estou trabalhando aqui também em parceria com o Balu, nem preciso sair mais. Aqui é um lugar que se respira história, e a capela é um dos pontos mais expressivos”, define.
É nesse tesouro escondido (já que a capela ainda não é conhecida como merece), que Balu quer investir. “Já estamos apresentando projeto a empresas para conseguir apoio da Lei Rouanet”, conta. Dono do espaço há dez anos (que sempre foi particular, desde a época de Morganti, e nunca pertenceu à Diocese), Balu revela que tem cuidado da capela desde essa época. “Compramos do Silva Gordo quando foi colocada à venda, e na época havia interesse de uma igreja evangélica pelo espaço. Deixamos a capela fechada um tempo por conta do desgaste e má conservação, e também pelas obras como a restauração da cúpula que tivemos de fazer”, explica.
Agora, como define Balu, a capela vai retomando a sua programação religiosa. “Os casamentos já foram liberados e tivemos umas dez cerimônias desde agosto do ano passado. Estamos fazendo toda a parte do paisagismo, a cargo do engenheiro agrônomo José Flávio Leão, que vai fazer um jardim italiano no entorno da igreja”, afirma Balu, que também destaca a compreensão e o apoio da comunidade. (por Ronaldo Victoria)