O Coletivo Monte Alegre foi criado para deixar o bairro com ar mais cult. É o que esclarece a atriz Marina Henrique, que faz parte do grupo ao lado do marido, o editor Paulo Heise, e de outro casal, formado pela cantora Pa Moreno e o músico Zé Rubens. “Não é que a gente queira trazer agito para o Monte Alegre. Nós moramos aqui, amamos este lugar. No dia em que essas ruas de paralelepípedos virarem uma cópia da (avenida) Carlos Botelho, com carros passando e fazendo barulho, pode acreditar que eu já me mudei”, afirma Marina.
O objetivo do grupo não é o agito pelo agito. “O que desejamos é promover eventos culturais que tenham uma referência de qualidade, que acrescentem ao público”, explica.
Marina e o marido já residem no Monte Alegre há três anos e a ideia de montar um grupo surgiu quando Pa e Zé Rubens também se mudaram para o bairro, no ano passado. “Foi quando o Paulo dirigiu o clipe da Pa, da música Saudade, gravado no trailer da Vandeca, que a proposta começou a ficar mais clara”, conta.
Primeiro os laços entre os dois casais, que já eram amigos há algum tempo, se estreitaram com a convivência quase diária, e a proximidade. “Nós temos a visão de que vivemos num lugar especial, por tudo o que representa, pelo lado histórico, a arquitetura, o astral que se vive por aqui”, detalha Marina, sem esconder a paixão.
Por isso, as primeiras conversas sobre um espetáculo a ser apresentado, no Casarão do Marquês, ou a antiga sede do Grupo Escolar Marquês de Monte Alegre, passaram por esse lado. “Em conversa com a Pa, chegamos à conclusão de que o nosso ‘bode’ contra o sertanejo é apenas uma resposta a esse modismo que se convencionou chamar de sertanejo universitário e que, na verdade, pouco ou nada tem de sertanejo. Aí começamos a pesquisar e vimos o riquíssimo material que existe na chamada música de raiz”, afirma.
Assim nasceu o espetáculo História do Vento, que vem sendo ensaiado no local todos os finais de semana e que tem data provável de estréia no dia 3 de maio. A união entre teatro e música está representada por uma dupla (Pa e Zé Rubens) cantando antigas músicas (sucessos eternos de Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, Cascatinha e Inhana), enquanto uma velha senhora, interpretada por Marina, vai desfiando histórias ligadas às canções e convidando o público a interagir.
Existe até a ideia de que os espectadores sejam recebidos com um café ‘passadinho na hora’ ou um bolo de fubá preparado pela velha senhora. “Nós percebemos que para conseguir a adesão dos moradores do bairro, teríamos de passar também pela memória afetiva. E essas canções representam exatamente isso”, completa Marina. (por Ronaldo Victoria)