A realização do sonho de um grande empreendedor, que sentia saudade de sua terra. O comendador Pedro Morganti, quando mandou construir na Usina Monte Alegre, em Piracicaba, uma capelinha no mesmo estilo da capela de São Frediano, em Lucca, na Itália, não poderia imaginar que um dia ela seria tão reverenciada.
A Capela de São Pedro ainda está lá, imponente, respeitada e amada! É, e sempre será, o símbolo não apenas de um bairro, mas de toda uma cidade.
A capelinha de Monte Alegre, fotografada, copiada, citada, musa de pincéis ansiosos por reproduzirem emoções, estética e estilo, nas telas, paredes, e até em um simples papel... “Com cinco ou seis retas é fácil fazer”... a capela!
Cantada em versos, em prosa, por poetas e escritores que nela foram batizados, tiveram suas primeiras lições sobre a criação, confessaram seus segredos, coroaram a Senhora das Graças, juraram fidelidade, disseram suas secretas mágoas.
“... a Virgem parece sorrir, sinto-a pertinho de mim,
solto a voz, parece que não vou alcançar...
Termino o canto, deslizo os dedinhos, coloco a coroa...
... a igreja fica vazia, mas um canto ao longe ecoa,
rainha, formosa e boa, é Monte Alegre quem vos coroa!”
(MARILDA DE LUCCAS SAMPRONHA- trecho do poema “Coroação”)
“Lembro-me ainda menino, quando minha mãe colocou uma fita branca em meu braço, e me mandou para a Igrejinha, onde ainda hoje tenho laços...”
(VINÍCIUS CARLOS RODRIGUES - trecho do poema “Mãe”)
Quantas melodias foram nela entoadas, principalmente por um de seus mais diletos tenores, Venésio Clemente Rodrigues: Ave Maria (Gounod ou de Somma), os noivos podiam escolher!
Tatuada por um jovem artista plástico, o qual lhe deu abrigo, espaço e tempo, para assim delinear, expressar e descobrir seu verdadeiro talento: Alfredo Volpi.
Ela chama a atenção, tem luz própria.
O que muitas pessoas não sabem é quem se preocupou com sua preservação como patrimônio histórico. Um jovem que, vindo trabalhar na usina, na empresa Monte Belo S/A - Açúcar e Álcool, de propriedade do Grupo Ometto na época, mais ou menos entre 1976 e 1977, se apaixonou por ela, pela sua arquitetura e, notando a exuberância de seus afrescos, teve uma surpresa: eram de Alfredo Volpi.
Que fascinante descoberta para ele, Eduardo Pacheco Giannetti, um grande amigo de trabalho, que já tinha essa preocupação maior com o coletivo. Não era de muito falar, mas agir, e o fez.
Ávido por preservar sua memória, foi em busca de sua mais remota história. Escalou montanhas de burocracias, procurou comprovar sua originalidade com outros artistas plásticos ou críticos de arte, tendo como álibi a marca registrada do artista: as figuras geométricas dos barrados de suas obras. E, já muito distante dessa ‘terrinha’, conseguiu seu objetivo: o tombamento deste ícone remanescente de um tempo que não volta, mas que será preservado para sempre!
Ela, a capela, está lá, sempre estará, mas só, completamente só. Sua aura ainda resplandece. As vozes em preces emudeceram, mas ninguém dela se esquece.
Seus moradores, os antigos ou os novos, querem acordar aos domingos e ouvir o ressoar dos sinos. Não querem relembrar apenas passados, e sim ouvir os sinos no presente! Querem cantar as Ave Marias novamente!
Monte Alegre quer renascer! Seu passado glorioso pode ser transmutado, e tem que ser reiniciado por ela, a capelinha quem sabe!
E, gostaria de terminar este tributo, citando um texto que vi e gostei do que li na revista Monte Alegre, em sua primeira edição, escreveu seu diretor Bruno Fernandes Chamochumbi. Justamente o neto de Eduardo Fernandes Filho, que também fez sua parte dessa história, e que surpresa agradável, pois percebi o empenho de seu neto, em desejar reconstruir esse pedacinho de paraíso: “... nossas páginas falam de um Monte Alegre que cresce sem precisar aumentar de tamanho, que se desenvolve sem agredir a vida, que harmoniza tecnologia com meio ambiente, e história com futuro...”
Que assim seja feito.
Ave Capela de São Pedro... Ave!
Maria de Fátima Rodrigues é secretária-executiva, nasceu no bairro Monte Alegre e mudou-se aos 19 anos de idade, mas trabalhou na Monte Belo S/A - Açúcar e Álcool de 1975 a 1982 neste bairro. Escreve crônicas e poemas, publicadas nos jornais da cidade desde 1989.