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Asfalto: o vilão do calor

Publicado na Revista Monte Alegre | 13ª Edição | Março | 2013
Foto: Alessandro Maschio / MBM Ideias

Pesquisa mostra que a pavimentação asfática retém as altas temperaturas até a noite

Sabe aquele calor insuportável que, mesmo depois do sol se por, continua a incomodar os piracicabanos? Pois é, a origem desse desconforto todo está, em grande parte, no asfalto. É o que mostra pesquisa realizada pelo Departamento de Ciências Florestais da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), divulgado recentemente.

Com a ajuda de uma câmera termal, os pesquisadores constataram que a pavimentação asfáltica é a grande responsável por reter e propagar o calor, que é sentido pela população até as 20h30, em média. “Descobrimos que as áreas urbanas mais quentes no horário noturno eram as ruas da cidade. Elas ganharam de outras superfícies como prédios, muros e telhados que estão mais distantes das pessoas”, afirma o professor doutor Demóstenes Ferreira da Silva Filho, que desenvolveu o estudo em parceria com Jefferson Polizel, doutor do Centro de Métodos Quantitativos da Esalq. O estudo, feito no final de 2012, é inédito porque as imagens de satélite, até então, não conseguiam identificar tais características.

Portanto, a dica é ficar longe do asfalto, pois, quanto mais próximo da superfície que possui a maior concentração de temperatura, obviamente, mais calor você sentirá. “O asfalto é o mais quente e corresponde à área mais baixa da cidade, responsável por transmitir o calor para todas as camadas de ar, o que causa desconforto térmico a toda população”, diz Silva Filho.


LUZ VERMELHA

A melhor forma de combater o calorão é arborizar as ruas para impedir que o sol chegue diretamente ao asfalto. “Este trabalho justifica a arborização viária no município”, afirmou o professor da Esalq.

A notícia ruim é que os índices de arborização dos bairros piracicabanos giram entre 5% e 20% e o pior deles está na região do Bairro Alto, relata o departamento da universidade local. Bairros como Nova Piracicaba, Santa Rita e Cidade Jardim têm melhor cobertura arbórea, também informa a Esalq. Desta forma, a pesquisa aponta urgência do plantio de árvores de grande porte nas margens das ruas.


DISCUSSÕES

Mas se a solução para as ondas de calor é bem conhecida, por que o problema não é solucionado? O engenheiro florestal e paisagista Thiago André lembra que a receita de plantar árvores nem sempre é compatível com a realidade. “Na prática, temos a realidade da estrutura da cidade que não permite o plantio de indivíduos grandes em todos os lugares. Tradicionalmente, o que se vê quanto ao calçamento são espaços que nem sempre permitem o uso de árvores de grande porte.”

André se refere aos espremidos passeios públicos e a entraves físicos, como fiação aérea de energia ou telefonia e redes de drenagem ou esgoto. Acima ou abaixo, as grandes árvores ´brigam` com a infraestrutura da cidade e os prejudicados, muitas vezes, são os proprietários das casas defronte à calçada, bem como os pedestres.

“É muito comum de se ver árvores de grande porte estourarem calçadas estreitas porque não conseguem desenvolver suas raízes na sua forma estrutural. Ao ganhar altura, a raiz mal formada não cresceu proporcionalmente para sustentar seu peso e pode tornar-se um risco quanto à sustentação da sua massa.”

A saída, segundo o especialista, é investir em espaços como parques e canteiros alargados. “Nessas áreas podemos e devemos ter o capricho quanto à arborização porque, apesar da lógica da Esalq estar corretíssima, a realidade da urbanização brasileira é bem outra.”

Outros caminhos propostos por André para reduzir os efeitos das ilhas de calor são as coberturas verdes para telhados e topos de prédios, e jardins verticais para paredes. Uma ideia de estruturas como túneis revestidos de trepadeiras para cobrir as ruas também é discutida na área do paisagismo e uma opção para driblar os problemas quanto à falta de espaço urbano.

“Temos espécies de trepadeiras que crescem e ficam enormes. A cobertura verde é uma solução que não só faria sombra nas ruas, mas também cobriria as paredes refletoras de calor. Amenizaríamos, por exemplo, o efeito das ilhas de calor até mesmo no período diurno, como num final de tarde, quando as altas temperaturas geralmente implicam na formação das tempestades violentas”, destaca o engenheiro florestal.


EVENTO

O assunto arborização urbana é foco da Conferência Internacional Protected Areas and Place Making, coordenada pelo professor da Esalq/USP, Demóstenes Silva Filho. O evento ocorre de 21 a 26 de abril, em Foz do Iguaçu (PR). “Vamos pensar em novos métodos e alternativas de pesquisa para planejar o verde urbano”, acrescentou Silva Filho. O engenheiro florestal e paisagista Thiago André observa que a contribuição da academia tem grande peso no sentido da colaboração do melhor uso de coberturas verdes urbanas. “Temos muito que evoluir e, principalmente, muito que observar. A natureza nos entrega tudo de bandeja para copiarmos.” (Cristiane Bonin)

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