Fazemos acontecer

A cor maravilha de Artur Xexéo

Publicado na Revista Monte Alegre | 14ª Edição | Junho | 2013

Impelida a tirar a dúvida do colunista do Jornal O Globo, Artur Xexéo, em matéria do dia 1º de maio, intitulada ‘50 tons de branco’ é que escrevo este artigo para a Revista Monte Alegre.

O amigo reclama do sumiço da cor maravilha de nosso vocabulário, justamente o nome da cor que ele tanto admirava na infância. Xexéo foi buscar no Aurélio a seguinte definição: “carmim de um rosa arroxeado brilhante” que, na verdade, chamamos hoje de magenta.

A primeira pessoa a descrever essa cor da mesma forma que o do nosso dicionário e a utilizá-la como  cor primária para produzir seus pigmentos para tingir  fios foi o artista francês, tapeceiro e colorista Chevreiul, ainda no século 18. Ele publicou sua Escala Cromática Brilhante desafiando a todos a criar qualquer roxo, lilás ou violeta a partir da mistura de azul e vermelho como era ensinado e, infelizmente até hoje o é em lugares pouco esclarecidos. Logo em seguida Goethe, seu amigo alemão e grande filósofo, também publica um tratado sobre a cor no qual critica a primeira teoria da cor elaborada um século antes pelo físico Isaac Newton, por seu excesso de cientificismo. Ali se desvendava a verdadeira natureza das cores como raios eletromagnéticos contidos na luz branca. Embora as críticas não procedessem, Goethe também levantou a hipótese de se utilizar a tal cor ‘rosa arroxeada’ como cor primária de pigmentos. Newton apenas apresentara ao mundo as três cores primárias de luz: vermelho, verde e azul/roxo (RGB do sistema de cor/luz) como os extremos  e o centro do espectro da luz (resultado da sua decomposição).

Apenas em meados do século 20, com o apoio de pesquisas para a fotografia colorida, é que a ciência comprova algumas questões pendentes e apresenta ao mundo os dois sistemas de produção de cores: o ADITIVO (para cores/luz), no qual a soma de todas reproduz o branco; e o SUBTRATIVO (para cores/pigmento), no qual uma mistura carregada de todas as cores chega ao preto, pois subtrai totalmente a luz. É aí que a tal cor maravilha, que também tinha tantos outros nomes (só no Brasil era também chamada de fúxcia, rosa-profundo, rosa-choque e até pink do inglês) precisou ter um novo nome adotado internacionalmente. Foi feita uma enquete mundial na qual venceu o nome magenta, originalmente atribuído a uma cidadezinha italiana em cujos arredores se travou sangrenta batalha na neve. Garibaldi teria descrito sua visão de uma cor inesquecível (fusão do vermelho do sangue derramado na neve com os raios mais arroxeados do sol de meio-dia). Ainda na mesma cidade conta-se que em visita do rei de Espanha as flores ‘maravilha’ desabrochavam por tudo e os cidadãos colocaram seus panos da mesma cor em suas sacadas, dando ao ilustre visitante a noção da Cor de Magenta.

Como pesquisadora apaixonada por cor, militante de educação, arte e cultura e autora do livro Da Cor Magenta - Um Tratado Sobre o Fenômeno da Cor, da Editora Synergia-RJ, achei oportuno esclarecer essa questão. Afinal, escrevo bastante nesta coluna sobre o assunto e recebo perguntas e valiosas colaborações dos leitores. Devo acrescentar que, como Xexéo, também sempre tive e ainda tenho verdadeiro fascínio pela cor maravilha, hoje chamada de magenta!!!  Até pelo que ela hoje representa: o desvendar de aspectos importantes de uma das teorias mais interessantes da nossa natureza.

Ainda encerro aqui com uma informação para acrescentar à hilariante argumentação de Artur Xexéo sobre os modismos e a profusão de nomes atribuídos ao branco, o que deu o título de sua coluna. Lembro que entre os esquimós são identificados não apenas 50 e, sim, mais de 100 diferentes tons de branco para a neve que os circunda. Afinal sua sobrevivência depende daquelas pequenas diferenças!

 

Re Fernandes é piracicabana, mora no Rio, é artista multimídia, designer, professora e pesquisadora das linguagens artísticas. É autora do livro Da Cor Magenta – Um Tratado Sobre o Fenômeno da Cor e Suas Aplicações, pela editora Synergia, RJ.

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