Nada mais romântico que uma lembrança da infância. A maneira como guardamos uma memória e como a distorcemos é fenomenal. Quem não se lembra da casa onde cresceu? Sempre mais ampla e mais especial que em nossa memória. Mas é exatamente aí que reside o romantismo. Uma vez revisitada, só nos resta a decepção de cômodos menores e jardins menos floridos. Porém há sempre exceções.
Desde criança ele era apaixonado por um prédio antigo, um monumento histórico situado na vila onde cresceu, a 15 km de Roterdã. Apesar de habitar com a esposa e os dois filhos uma casa moderna no centro da cidade, com mais de 350 metros quadrados, não resistiu quando numa visita aos pais notou o antigo prédio a venda. A decisão foi rápida e radical. A família estaria se mudando em menos de seis meses para o novo endereço com estilo e metragens diferentes.
Com um espaço limitado – mais de 100 metros quadrados a menos! – e a mudança arquitetônica radical, a seleção dos móveis que seriam reaproveitados foi dolorosa. Somente as peças de maior valor sentimental formariam a base do novo interior. Uma cadeira antiga da avó em toile de jouy azul e branco impresso à mão, a poltrona vintage Lounge Chair de Charles e Ray Eams, e algumas antiguidades foram os únicos móveis a sobreviverem à mudança.
A tapeçaria em ponto cruz emoldurada, retratando o Sagrado Coração de Jesus, data do mesmo ano em que o prédio foi construído – 1885 – é herança de família e foi ponto de partida para as cores utilizadas na decoração.
Com carta branca dos proprietários, toda a área do living recebeu piso de madeira maciça em espinha de peixe estilo búlgaro (em que as tiras de madeira são mais largas e maiores) e todas as paredes receberam papel de fibra natural de seda, reforçando o estilo monumental do prédio.
As cortinas em seda branca são da empresa francesa Elitis e dão um ar moderno ao ambiente. Os armários, todos feitos sob medida em madeira de carvalho, com acabamento em wengé e laqueado, foram concebidos à volta do sofá da italiana Living Divani, revestido em tecido de linho e seda. A mesa de centro, também sob medida, salienta o espaço estreito na área de televisão. No living tudo gira em torno da lareira em mármore preto, original. A cozinha foi alterada com a construção de um anexo para acolher a mesa de jantar e, desta forma, utilizar o espaço original da sala de jantar como sala de televisão.
A ilha também em madeira de carvalho com acabamento em wengé abriga fogão, forno e lava-louças, e foi posicionada no centro do espaço com vista para o jardim, fazendo uso inteligente do espaço restrito. Com as portas abertas no Verão, a sensação é de cozinhar ao ar livre.
O armário onde se encontram a geladeira, a máquina de café e os livros de receitas separa a cozinha da copa, de onde se tem acesso ao jardim dos fundos.
Apesar da mudança de estilo, a decoração oferece um ambiente moderno, agradável e atual, respeitando idade e tradição. O monumento histórico que na infância parecia inacessível para o garoto pequeno hoje faz parte da história de sua própria família.