Fazemos acontecer

Sob o sol de São Luís

Publicado na Revista Monte Alegre | 14ª Edição | Junho | 2013
Foto: Lívia Telles

História, cultura e arte se misturam à paisagem incrível da capital maranhense

Era madrugada, quase 4h30 quando chegamos a São Luís do Maranhão. Entre o aeroporto e o hostel, quase não deu para decifrar a paisagem escondida na penumbra e pela pressa do taxista.

Foi acordar pela manhã e sair para a porta do albergue pra começar o meu encantamento. O hostel (albergue da juventude) Solar das Pedras  está localizado no centro histórico, próximo a todas as casas ornadas com os famosos azulejos, às cores e amores dali.

São Luís é a única cidade brasileira fundada por franceses, em 1612. Posteriormente foi invadida por holandeses e, em seguida, colonizada pelos portugueses. É daí que vem um dos maiores símbolos da região: o azulejo português, que reveste as construções históricas.

Outro ícone da cultura maranhense é o bumba-meu-boi. A tradicional festa resgata a lenda de Catirina, que ouvimos contada pelo guia na visita à Casa de Nhozinho (artista popular maranhense que, mesmo com sua doença degenerativa, construiu um belo acervo de bonecos, caixinhas de costura, entre outros). Grávida numa fazenda, Catirina deseja comer a língua de um boi de estimação. Pai Francisco, ao querer realizar o desejo de Catirina, descobre o sumiço do boi. Curandeiros são chamados para ressuscitar o boi e salvar o escravo que havia sumido com ele. A festa funciona e todos comemoram o milagre num bumba-meu-boi. A atual apresentação da tradição é dividida em alguns sotaques principais: de Matraca, de Zabumba, de Orquestra, de Baixada e de Costa de Mão.

Caminhar pelo centro histórico da Ilha do Amor não me cansava. O local é repleto de arte, artesanato, cultura, história e personagens em cada esquina; nativos vendendo seus cigarros, doces, água de coco, batucando, cantando...

Visitamos diversos atrativos culturais por ali: Casa de Nhozinho; Museu de Artes Visuais, com uma linda exposição no primeiro andar de azulejos portugueses, ingleses, franceses e alemães dos séculos 18 a 20; Centro de Cultura Domingos Vieira Filho, também conhecido como Casa da Festa, reúne material dos ritos e folguedos tradicionais; Convento e Cafua das Mercês, todos com a marcante arquitetura da época colonial e da escravidão.

Outros importantes pontos turísticos são o Teatro Arthur Azevedo, a Igreja Matriz da Sé e o Palácio dos Leões. No miolo do centro histórico é possível se perder nos sabores, encantos, diversidade e simplicidade da Casa das Tulhas ou Feira da Praia Grande. Na construção em formato circular do século 19, as banquinhas oferecem os produtos mais típicos da região como doces, licores, cachaças, temperos e utensílios. A Tiquira é a cachaça mais típica, feita da mandioca e com coloração arroxeada. O turista pode levar os mais diversos tamanhos.

Outra bebida popular maranhense encontrada em todo lugar é o famoso Guaraná Jesus, refrigerante de coloração rosa e sabor um pouco diferente do guaraná tradicional, um pouco mais adocicado.

Uma dica para refeição típica no centro histórico é o Restaurante Crioula’s. No self-service pode-se experimentar diversos sabores regionais como o arroz-de-cuxá, carne de siri, carne de sol, vatapá, pirões. A decoração é simples e típica, e a Dona Crioula te atende no balcão com um belo sorriso. Para acompanhar, pode pedir um guaraná Jesus ou suco de fruta regional. Os meus preferidos foram os de bacuri e cajá.

Num de nossos passeios, atravessamos a ponte José Sarney para chegar à chamada ‘parte nova’ da cidade, onde é possível visitar as praias. Fomos à praia de Calhau e almoçamos no Cabana do Sol, um restaurante bem conhecido também de São Luís.

Mas o meu encanto mesmo na capital maranhense foi o centro histórico. Por lá comprei CD de blocos ‘afro’ tradicionais, literatura do nativo Josué Montello, vi as palmeiras de Gonçalves Dias (minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...), desci e subi os charmosos becos (o mais famoso deles, o Beco Catarina Mina), ouvi o reggae em alto volume nas caixas de som de cada boteco. São Luís é a terra do reggae.

Também participei de um Tambor de Crioula. Foi uma das noites mais inesquecíveis da viagem. Na dança característica, os três tocadores aquecem os tambores na fogueira. Quando o batuque começa fervoroso, as dançarinas se aproximam dos tocadores com suas saias nos passos tradicionais e ritmo intenso. A cantoria é puxada por Mestre Amaral, um dos mais conhecidos mestres de Tambor de Crioula, a quem tive o prazer de conhecer. Naquele dia, a homenagem era para Santo Antônio. O Tambor aconteceu nas escadarias de um dos becos do centro histórico. Conheci também Ana, uma das melhores dançarinas e mestre em simpatia que já vi. Os suores escorriam no calor da cidade e os sorrisos brotavam em cada um que se aproximava. A sensação é de que a alegria mora em São Luís! É ver para crer.

Lívia Telles é publicitária, pós-graduanda em artes visuais, intermeios e educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e coordenadora de criação do MBM Escritório de Ideias.

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