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Os ’Olhos’ do Monte Alegre

Publicado na Revista Monte Alegre | 04ª Edição | Setembro | 2011
Foto: Maurício Gil

Nascido e criado no Monte Alegre, José Luiz Tonin passou boa parte de seus 69 anos colecionando imagens do bairro. E hoje quarda 25 mil negativos sobre o lugar de sua paixão

Aos 69 anos, José Luiz Tonin se define como ‘montealegrino da gema’.  E não é exagero,  já que nasceu no bairro e vive até hoje por lá. A paixão é tanta que ele a traduziu em aproximadamente 25 mil negativos de fotografias que guarda em sua casa. De todos, apenas uns 10%, calcula, não têm o Monte Alegre como inspiração.

A vontade de fotografar o bairro de sua vida vem de longe, desde 1964, quando começou a conciliar o trabalho na Usina Monte Alegre com as aulas de fotografia que fez, por meio de um curso por correspondência em São Paulo.  Nos anos 80 chegou a trabalhar no setor de microfilmagem da empresa, mas que foi logo desativado.

“Eu sempre tive curiosidade. E também sou persistente. Se a pessoa não tiver persistência no que se propõe a fazer, não consegue nada”, define Tonin para explicar a paixão. “A fotografia sempre me atraiu, primeiro foi um hobby, mas acabei fazendo dela uma profissão também. Antes eu gostava de fazer pintura em azulejo, mas logo percebi que fotografando ficava bem melhor”, conta.

O olhar dele como fotógrafo sempre esteve voltado mais para o bairro. “Eu sempre fui ligado no Monte Alegre e acho que a fotografia é meu vício. Tudo que eu olho eu penso em fotografar. Tenho até umas imagens guardadas no meu cérebro que ainda não consegui passar para foto”, diz.

Com tantas imagens guardadas, Tonin garante ser difícil escolher as favoritas, mas adianta que gosta demais das que mostram as antigas locomotivas.Tem  guardadas fotos de todos os cenários locais, com destaque para a usina e a casa dos colonos, a igreja, a praça e as estátuas de Pedro e Joaninha Morganti, e muitos outros recantos.

Apaixonado pela arte fotográfica, Tonin não se classifica como saudosista. Há algum tempo ele aderiu à câmera digital e se confessa   entusiasmado com as novas possibilidades tecnológicas trazidas pelo equipamento. “No tempo em que eu usava apenas a máquina com filme, eu sonhava com um filme que tivesse umas 3.000 asa, que é a medida da sensibilidade, para po

der captar tudo o que eu queria. De certa forma, com o digital eu consegui isso. Eu não sou de negar a evolução. Essa é a tendência natural da vida”, destaca.


Muito  trabalho

Aposentado pela usina, Tonin trabalhou 40 anos no mesmo lugar. Começou adolescente, como cortador de cana. Logo depois entrou para uma das primeiras turmas da empresa que faziam curso no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que àquela época também era recente em Piracicaba. Com a instalação da estação mecânica na usina, ficava seis meses do ano na empresa e outros seis no Senai, mas não conseguiu conciliar.

Voltou para atuar como empacotador de açúcar e depois ficou mais dez anos na destilaria de álcool. Foi daí que acabou sendo transferido para um laboratório de microfilmes da empresa, onde permaneceu entre os anos de 1977 e 1985. Ali, de certa forma, pode ‘unir o útil ao agradável’, já que no mesmo período estava em plena atividade como fotógrafo amador. A atuação no laboratório fez com que fizesse um curso de especialização na Kodak de São Paulo, que define como ‘bastante proveitoso’.

Porém, em 1985, a Monte Alegre extinguiu o setor de microfilmes, àquela altura já considerado de pouca valia para questões trabalhistas, e Tonin terminou por atuar no arquivo da empresa, onde se aposentou.

Tonin nunca teve vontade de sair do Monte Alegre, onde já viveu em várias casas. Para ele, o bairro é de fato o seu chão. Hoje vê que o local passa por mudanças, mas, fiel ao seu estilo, evita o saudosismo. “O bom é que nós que ficamos no bairro, fomos nos adaptando aos novos tempos. Não tem como frear a modernidade”, diz. De acordo com sua visão, Monte Alegre tem como sinônimo uma palavra: família. “A gente se conhece e aqui estão as minhas raízes. Vem desde os meus avós, que vieram da Itália para fazer a vida. Eu sou uma continuidade do veneziano Angelo Tonin e do calabrês Donato Colasanti”, conclui. (por Ronaldo Victoria)

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