Aos 84 anos, Cid Moreira não pára. Ele poderia dar-se ao luxo de viver apenas da fama que conquistou em mais de 60 anos de carreira. Durante anos, Cid foi a voz do Brasil ao apresentar o Jornal Nacional ao lado de Sérgio Chapelin. Muita gente respondia, do sofá, seu ‘Boa Noite!’ . Terminada sua participação no JN – “tudo é fase”, ele admite nessa entrevista - , descobriu a narração de textos bíblicos. E foi essa atividade que o levou a participar do CD do cantor Janu (veja matéria na página 25) e a se apresentar em Piracicaba.
Eu e o Janu temos um amigo em comum, o jornalista Fermino Neto. E ele é amigo de infância do presidente do Sindicato dos Metalurgicos de Piracicaba, José Luiz Ribeiro. A ideia da parceria surgiu do José Luiz, que conhece bem Piracicaba, é fã do Adonai. e que já promove eventos. Achou bem legal fazer alguma coisa comigo, com o Janu e com o Adonai num CD que fale de amor, de boas coisas, que anime as pessoas, inspire e fortaleça a fé.
Eu gostei muito do repertório. Já havia gravado Desiderata há 30 anos e foi um grande sucesso que repercutiu durante muitos anos. Agora, com música e um pessoal tão bacana cantando, me animou muito. Os outros textos também são sensacionais. Acredito que vai agradar muito.
Olha só, perdi a conta. Comecei fazendo Sermão da Montanha num clipe para o Fantástico, na década de 70. Daí vieram inúmeros trabalhos para as Irmãs Paulinas. Também gravei O Novo Testamento da Bíblia para uma empresa de São Paulo. Foram 33 dias árduos de gravação, seis horas por dia. Foi um grande sucesso! Depois desse bom resultado, não parei mais. Logo em seguida fui convidado para fazer narrações de trechos da Bíblia. A ideia, que depois passou a ser adotada por muitas editoras e empresas de distribuição, era encartar os CDs, um a cada semana, nos principais jornais do país e vendê-los a preços bem acessíveis. Entusiasmei-me pelo projeto, apesar de que, naquela época, eu tinha muito pouco conhecimento do conteúdo dos livros. Eu só havia gravado o Novo Testamento e os Salmos. Fiz mais pela novidade, por causa de um trabalho daquele porte, pela experiência que ganharia, enfim, pelo desafio da proposta. Acontece que a aceitação desses CDs foi de um estrondoso sucesso.
Passei a viajar de norte a sul do país distribuindo autógrafos e falando da proposta. Inicialmente seriam 12 CDs com as passagens bíblicas, que reuniriam os mais conhecidos trechos das Escrituras Sagradas. Mas, devido à grande aceitação, foram gravados os outros trechos dos livros sagrados para completar a coleção, que foi distribuída rapidamente em alguns meses. Uma boa parte do sucesso que obtive nesse projeto devo creditar ao fato de ter deixado a bancada do JN naquela ocasião. Foi uma forma carinhosa de os telespectadores mostrarem a aprovação pelo meu trabalho de uma vida inteira, pelos meus anos invadindo as salas das casas e levando as notícias. Junto com isso, considero o fato de a Bíblia estar presente na vida de quase todos os brasileiros, enfim, de ser um dos livros mais lidos do mundo. Recentemente gravei a Bíblia completa, de Gênesis a Apocalipse, que já está em MP3 e até em pen drive. Além disso, fiz uma experiência em vídeo o ano passado, lancei um DVD com uma série de salmos e deu muito certo.
No começo era pelo prazer de exercer minha profissão. Mas, aos poucos, o conteúdo da Bíblia foi me comovendo e transformando a minha vida. Tenho um respeito profundo por Jesus, que considero meu Salvador. E desejo falar do Evangelho para todas as pessoas até o fim da minha vida.
De jeito nenhum. Tudo é fase. Estou com 84 anos. Uma hora teria que parar mesmo! E chegou essa hora. Para dizer a verdade, esse trabalho bíblico me dá muito mais alegria e sentido à vida que qualquer sucesso que a televisão poderia me proporcionar. Apesar de que tenho muito a agradecer. Por causa de me tornar conhecido na TV, as pessoas me ouvem hoje, nesse trabalho tão especial que faço.
Tenho 45 anos de TV Globo e 65 anos de profissão.
Já estive nesta região somente a passeio. Por causa dos amigos. (por Ronaldo Victoria)