Aquele que sonhei imortal e para quem imaginei o papel de um novo Moisés, conduzindo seu povo, que não é pequeno, a um mundo novo e promissor, sem dor, sem mortes, sem tristezas, faria 100 anos em 1º. de agosto próximo! Meu pai, Eduardo Fernandes Filho, piracicabano por opção, naturalizado brasileiro, nascido em Buenos Aires, filho de Eduardo Rafael Fernandes, espanhol de Málaga que chegou a Piracicaba com seus equipamentos artísticos, e da vovó Adelina, filha de italianos, mulher forte e determinada.
Escrevi para ele um dia, de algum exílio onde me encontrava, cheia de saudade da família, que, em minha opinião, no final desses tempos difíceis ele estaria aqui, resistindo bravamente a todas as vicissitudes como sempre fez. Lá estaria ele a nos proteger, a sorrir seu sorriso maroto, a distrair as crianças com suas imitações de animais, encontrando a palavra certa para reduzir nossas ansiedades. Poderia também estar muito bravo com tantos desmandos e injustiças ou até um pouco sem paciência com a barulheira da criançada em seus momentos de leitura e informação.
Homem feito por si, com estudos de guarda-livros apenas, Eduardo Fernandes Filho foi uma pessoa à frente do seu tempo. De contador foi se transformando em grande administrador de empresas, se especializando em usinas de açúcar e processos falimentares. Sua presença e discursos sempre impressionaram a todos, como aqueles junto ao Instituto do Açúcar e do Álcool quando já propunha o uso do etanol como combustível, surpreendendo a todos.
Meu pai teve com minha mãe Mariquinha, sua mulher amada e tão cantada em prosa verso e canções, oito filhos. Juntos, os dois ainda ajudaram a criar mais três netos! Tempos difíceis aqueles. Garantir a todos uma educação de qualidade, universidade, música, línguas, artes em geral, esse foi o grande legado desse lindo casal. Homem romântico que, até bem velhinho ainda era do tipo que mandava flores! Trovador, cantor, ele levava sempre mamãe aos saraus, sua musa, que soprava as letras das músicas em seu ouvido afinado! Era muito divertido de ver e dava muito prazer em ouvir!
Em justa homenagem, uma rua de Piracicaba levará seu nome: Eduardo Fernandes Filho. Como homem público que foi, sempre interessado no bem comum, participou da fundação de importantes grupos representativos da cidade como a Associação Comercial, a Escola de música de Piracicaba, o Clube de Campo, o Lions Clube, entre outros. Jamais, entretanto, aceitou cargo político por orientação de minha mãe, mulher avançada, professora, educadora mesmo! Ela percebia desde cedo os sinais nefastos dos rumos que a política brasileira vinha tomando, visíveis diante de tanta corrupção e desmandos tão presentes nos dias de hoje.
Impecável em sua atitude ética e moral, meu pai Eduardo, este homem digno a quem homenageamos neste seu centenário de nascimento, é grande exemplo para as gerações atuais e futuras a quem ele deixa muita saudade e admiração.
Quero aqui não apenas dar parabéns a meu pai e a todos que o amaram e respeitam sua memória. Preciso, sobretudo, dizer a todos do tamanho imensurável do meu amor por ele. Quero dizer com toda a minha emoção que tenho o maior orgulho de ser sua filha. Que sinto sempre sua presença nas horas boas e nos momentos difíceis, sempre me estimulando a ir adiante e além, e a testar e utilizar todas as minhas forças e potencial para fazer a minha parte na direção de um mundo bem melhor e mais justo.
Homens como meu pai, Eduardo Fernandes Filho, é que fazem a vida sempre valer a pena!