Sábado sim, sábado não, o dentista Miguel Arcanjo Pavilhão, 49 anos, está a postos no consultório do Centro Comunitário do Monte Alegre, desde as 7h30. É um trabalho que ele desenvolve no bairro há quatro anos. E voluntário, sem receber nada por isso.
Para Pavilhão, é uma espécie de retorno que ele oferece ao bairro. Afinal, ele é cria do Monte Alegre e sua família tem raízes profundas no lugar. “Eu nasci lá, meu pai também, meu avô também, e meu bisavô veio da Itália há mais de 100 anos para ficar aqui. O Monte Alegre está no meu sangue”, define.
Formado há 27 anos pela FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ele tem uma rotina agitada. Logo que se formou, se casou e deixou seu lugar de origem. Hoje mora em Piracicaba, mas não mais no bairro dos ancestrais. “Tenho o meu consultório particular em Limeira e também sou funcionário público da Prefeitura Municipal de Iracemápolis. E ainda encontro tempo para esse trabalho, que é muito gratificante”, conta.
Por causa de seus outros compromissos, o dentista não pode ter uma agenda mais ampla, mas acredita que o intervalo quinzenal das consultas tem se revelado suficiente. Para ele, o trabalho tem um sentido maior, de retribuição. “Eu conheço boa parte dos moradores. Então, a consulta quase nunca fica aquela coisa formal. Se eu não sei quem é a pessoa, sei que ela é filha de fulano ou neta de sicrano”, conta. A cada sábado, ele atende em média seis pessoas, com um horário médio de 30 minutos para cada consulta.
Pavilhão se colocou à disposição do Centro Comunitário ainda na gestão de Renato Sunhiga e logo deu início ao trabalho, ainda em 2009. “Não tive problema nenhum com meus pacientes desde então. Ao contrário, pois antes de serem pacientes, muitos deles são meus amigos de longa data”, afirma.
De acordo com o dentista, a cárie e a doença periodontal (da gengiva) são os casos mais frequentes que ele trata. “São os problemas mais comuns que enfrentamos em clínica odontológica de maneira geral, e em nível nacional, e no bairro não seria diferente”, ressalta.
Ele diz que a higienização bucal ainda é um problema. “Não é só no Monte Alegre, em todo lugar as pessoas não têm muita paciência para fazer uma escovação como se deve, com movimentos suaves e curtos, e durando no mínimo dois minutos. E o fio dental, que é fundamental, ainda é pouco usado”, revela. Porém, mesmo assim, aquele ‘medo de dentista’, que chegava a paralisar muita gente, já é coisa do passado. “Hoje eu acho que não é mais assim. Dentista deixou de ser ‘bicho-papão’, em que a gente via as pessoas sentando na cadeira com aquela cara de medo. Hoje mudou a técnica e, principalmente, mudou a forma de atendimento, que ficou mais humana”, explica.
A atuação dele é mais ambulatorial. A Unidade de Saúde de Monte Alegre, que fica no Centro Comunitário, é hoje um PSF (Programa de Saúde da Família). “Sendo assim, os casos mais complexos são encaminhados ao CEO (Centro de Especialidades Odontológicas)”, explica.
Pavilhão conta que seu trabalho é de prevenção. “Meu trabalho tem sido no sentido de orientar a higiene bucal, com escovação obrigatória depois de cada refeição e uso de fio dental corretamente. Também oriento sobre o uso de enxaguantes bucais para a prevenção das doenças que citei como as que mais aparecem entre a população”, conta. (por Ronaldo Victoria)