O encantador de cavalos
Publicado na Revista Monte Alegre | 06ª Edição | Dezembro | 2011
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Foto: Alessandro Maschio / MBM Ideias
Osvaldo Fagionato, o Dinho, conta as histórias de quando era amansador de cavalos na Usina Monte Alegre
Aos 80 anos, Osvaldo Fagionato, o Dinho, tem amor pelo Monte Alegre, onde morou quase sempre, a não ser na juventude, pois nasceu em Santa Isabel e foi para o bairro ainda criança. Compartilha um amor de maturidade com a esposa Cynira, da mesma idade, com quem se casou depois de ambos ficarem viúvos. Mas há um amor que, de acordo com o próprio Dinho, começou bem antes: pelos animais.
“Eu nunca fiz outra coisa na minha vida a não ser cuidar de cavalo. Nasci para isso”, define. Cynira, que está com ele há 36 anos, é testemunha dessa relação especial. “Eu me lembro que uma vez a gente foi para uma fazenda. Assim que ele chegou, saiu da caminhonete e começou a fazer um barulho com a boca, parecido com ‘onnnn onnnn’. Os cavalos saíram do mato e foram aparecendo”, lembra.
Dinho diz que essa interação sempre foi natural. Essa comunicação com os animais é algo espontâneo, desde que se entende por gente. “Eu falo com os cavalos”, garante. Costuma usar expressões como ‘oaaaa’ para reprimir alguma rebeldia e conta que uma boa afagada pode fazer milagres. “Durante toda a minha vida, muita gente ficou boba ao ver que alguns cavalos ou burros só se deixavam ser montados por mim. Mas não sei explicar isso. Acho que é dom mesmo”, afirma.
Durante tantos anos se dedicando a adestrar cavalos, conta que teve poucas experiências negativas, ou seja, animais que não seguiram seu comando. “Lembro de uma égua chamada Piedade que não teve jeito. Tem uns que são selvagens e não adianta.”
Dinho trabalhou mais de 30 anos como campeiro, aquele que amansa os cavalos, para a Usina Monte Alegre. Ficava não apenas na sede, mas percorria todas as fazendas que o grupo mantinha nas cidades da região: Santa Isabel, Bela Vista, Santa Joana, São Carlos, Santa Rita, Taquaral (onde hoje fica a Unimep), Marabá, São Pedro e Recanto. Toda fazenda tinha administrador e ajudante, com quem Dinho trabalhava. E tinha de levar os animais de uma para outra fazenda e receber os que chegavam de outras cidades.
“Era um tempo difícil, a gente não tinha conforto. Voltava, às vezes, à noite dessas fazendas e não encontrava nem um bar aberto para comer”, lembra. Era também uma época em que ser sertanejo, trabalhar com animais, montar e laçar cavalo, ainda era sinônimo de caipira. “Hoje é diferente, tem tecnologia e os rodeios são grandes shows”, diz.
Outros tempos
Ele viveu outros tempos. Os rodeios eram feitos em picadeiro, e também havia circos. “Eu participava desde moleque, com meus amigos Quinzó e Nelson Grizotto, que já morreu. Era tudo rodeio pequeno, feito nas fazendas, e a gente recebia de prêmio pouca coisa. A gente ia sempre, mas só em lugares aqui perto, Santa Bárbara, Rio das Pedras e no bairro da Batistada”, conta.
Dinho acha exagero a tendência atual de ser contra rodeio, evento onde supostamente haveria maus-tratos a animais. “Isso é bobagem. Nunca teve. Não machucam o boi aquelas provas em que ele pula. O pessoal faz um pouco de ‘carnaval’. E antes havia muito menos”, recorda. O campeiro aposentado (há 30 anos) afirma que não se amansa cavalo só com doçura. Às vezes é preciso lidar com o instinto selvagem do animal.
A casa dele, na principal rua do Monte Alegre, guarda marcas dessa trajetória. Na sala há troféus, antigos e novos, e fotos dos tempos de cavaleiro. No quintal, o destaque é para uma charrete elegante, para duas pessoas, toda em amarelo e preto. Mas a maior parte das lembranças fica no quartinho dos fundos. Há selas, pelegos (aquele tecido que fica entre o lombo do animal e a sela), arreios, troféus e vários outros materiais, como facas e lampiões. “Aqui é como se fosse um museu que conta a minha história”, compara. De tudo ficou uma certeza: “Eu aprendi nesse tempo todo muito mais com os animais do que com as pessoas. Em muitas coisas, o animal dá de dez a zero no homem”, garante. (por Ronaldo Victoria)
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