Um refúgio, um recanto e um local de inspiração. Tudo junto e misturado. É assim que Paulo Heise e Marina Henrique vêem o Monte Alegre. O casal escolheu a vida montealegrina quando já tinha voltado para Piracicaba, optou por ter filhos, mas não criá-los na capital. Ele, um "multimídia" (fotógrafo, produtor, iluminador de teatro e etc), e ela, atriz, poderiam não ter chances em Piracicaba e só conseguir trabalhos na cidade de São Paulo, mas o desejo de ter filhos era grande... E a volta para o interior era uma condição para poder criá-los, não pela escola ou pela babá.
Por isso vieram e, depois de um tempo em Piracicaba, optaram pela vida no bairro do Monte Alegre. O namoro já era antigo, vinha de Heise desde a época de adolescente, quando morava na cidade e ainda pleiteava a vaga na Faculdade de Imagem e Som em São Carlos, curso que concluiu na graduação. Para Marina, também piracicabana de coração e uma itinerante entre São Paulo e Piracicaba, a admiração também já existia e foi se consolidando, inclusive por se tornar, antes de seu lar, o local do seu segundo lar: o palco. Marina estreou a peça Marias no antigo teatrinho do bairro e fez temporada de dois meses com casa cheia, inclusive tendo o cenário como parte integrante da dramaturgia. “Foi ótimo! Fazer temporadas no interior já é algo difícil, num bairro afastado do Centro mais ainda. Mas nós fizemos e tivemos casa cheia por toda a temporada.”
Com o sucesso da peça, o bairro foi se transformando no melhor dos mundos: era a possibilidade de engatar projetos culturais e também o local ideal para criar os filhos, brincando nas ruas mesmo, sem ter que ser num local fechado por grades e podendo conviver com todas as classes sociais. Enfim, seria a qualidade de vida.
A peça Marias foi o início, mas o casal teve o bairro como piloto para outros projetos. Foi lá que começou o Cine Piano, projeto que inclui a projeção de filmes de Charles Chaplin e do Gordo e o Magro acompanhados de um piano. O Cine foi um sucesso e hoje roda o Estado, bem como a peça Marias. “O Monte Alegre auxilia na inspiração para os projetos”, afirma Heise.
Também é no Monte Alegre que ele desenvolve seu lado historiador e ‘garimpeiro’. Apaixonado por memórias, vai interagindo com a comunidade, fazendo um trabalho de resgate por meio de um vídeo, projeto que desenvolve junto com o empresário Balú Guidotti, também morador do bairro. “Assim a comunidade vai me trazendo material que eu digitalizo e que vai para um blog. O Monte Alegre é prato cheio para um trabalho de resgate de memórias”.
Marina também vai acalentando seus sonhos: pensa ainda em fazer um teatrinho, um espaço cultural no bairro. Um local para trazer peças do país todo e também produzir os próprios espetáculos. “Meus amigos atores quando vêm para cá salientam o atributo cênico do bairro”.
O refúgio que se transformou o bairro tem muito a ver com a vida do casal e da família, que inclui Raul e Gabriel, filhos de 5 e 3 anos, têm. Marina continua atuando em São Paulo e não vê a hora de chegar no seu cantinho no Monte Alegre para viver a tranquilidade que o local proporciona. Heise tem uma produtora na cidade, além dos projetos paralelos, mas quer sempre voltar para o seu refúgio, local perfeito para a criação. As crianças estudam e brincam no bairro e vão tendo o direito a uma infância bem com cheirinho de interior, com tudo de bom que isso pode ter. (por Sabrina Rodrigues Bologna)