Aos 86 anos, Luiza é viúva, mora com o filho mais velho e adora os grupos de Terceira Idade. Isaura ficou viúva com pouco mais de 40 anos, e com oito filhos para criar, e deu conta do recado. Roseli tem um filho de 28 anos, com necessidades especias, e até hoje totalmente dependente dela. E a mãe não reclama um minuto. Vivian teve dois filhos, com diferença de menos de um ano, e deixou a profissão para cuidar dos meninos.
Em comum, essas mulheres não têm apenas o endereço, já que todas moram no Monte Alegre. Elas comungam esse sentimento da maternidade, que parece dar a cada uma delas uma coragem e uma resistência acima do comum.
Foi assim com Isaura Pinto, hoje com 73 anos. Ela teve oito filhos, mas um morreu ainda moço. Quando se sabe que ela os criou praticamente sozinha – o marido morreu há mais de 30 anos -, Isaura não acha coisa do outro mundo. “Acho que hoje é mais difícil criar filhos. Eu vejo pelos meus netos. Eles cobram muito dos pais, querem toda coisa, e a mãe às vezes não pode”, afirma.
A vida de Isaura e do marido, Orlando, era simples. Eles moravam no sítio, nas fazendas do Monte Alegre. Passaram pela Santa Isabel, Taquaral e Santa Rita. Até que ele morreu, com menos de 40 anos.
Aí Isaura tomou as rédeas da casa e passou a trabalhar na usina. Ia de sol a sol e, quando chegava em casa, ainda lavava roupa. Quem ficava com as crianças menores era a filha mais velha, Aparecida, hoje com 55 anos. Ela teve de aprender, aos 12, como cuidar dos irmãos menores e também da casa. Pensam que critica o destino por ter perdido parte da infância? “Imagina, eu nunca pensei assim. Sempre fiz o que achava certo fazer”, diz Aparecida.
Por isso, Isaura, hoje aposentada (ganha pensão de um salário mínimo do INSS) garante que sua missão foi vitoriosa. “Graças a Deus tive sorte com meus filhos. Nenhum saiu ’torto’, deu trabalho. E sou como a galinha mãe, que quer ter os pintinhos todos em volta”, conta Isaura, que tem 12 netos e três bisnetos.
Luiza Pavilhão, 86, enviuvou há apenas sete anos. Participou sempre da vida dos três filhos. O mais velho, João, tem 60 anos. Maria Luiza está com 57, e o caçula, Miguel, fez 47. Ela conta que teve muita sorte com a prole. “Hoje eu acho que ser mãe é uma coisa muito mais difícil. Porque há muito mais perigos. Antigamente você podia deixar os filhos saírem de casa, agora é muita preocupação”, define.
Nascida no bairro rural Água Santa, Luiza mora no Monte Alegre há 73 anos. “Aqui era uma maravilha no tempo da usina. A gente viveu um período muito bom. Torço para que melhore”, conta Luiza, que esbanja disposição e frequenta um grupo de Terceira Idade. “Outro dia mesmo a gente foi à Praia Grande e foi muito legal”, conta.
A definição da dona-de-casa Roseli Aparecida Thomaz de Oliveira, 51, sobre a experiência de ter um filho especial – Daniel, com 28 anos – é direta: “É uma coisa muito emocionante”, garante. Daniel é um rapaz que é pura animação, canta sucessos sertanejos do momento e dança ‘Ai se eu te pego’; é seu companheiro de todas as horas.
“Os médicos descobriram quando ele tinha sete meses, porque ele não reagia quando a gente chamava. Pensamos que ele era surdo, mas o exame mostrou que ele tem um pequeno atraso”, diz Rose. Daniel, o caçula de quatro filhos - ela também tem Daniele, Graziele e Joel – é sempre alegre, ela garante. Rose leva o filho todos os dias à Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), que fica na Vila Industrial, bem distante de sua casa. Nada que chame de sacrifício. “Ele é muito bom. É sempre amigo meu e do pai dele, que é pescador”, revela.
Aos 26 anos, Vivian Mendes Marchetti já experimentou a sensação da maternidade duas vezes. São dois meninos: Enzo, de quatro anos, e Enrico, de três. “Foi rápido, mas é uma experiência maravilhosa. Mas no começo me assustei um pouco, porque descobri a gravidez do segundo quando o primeiro tinha só oito meses”, lembra.
A sensação de ser mãe, garante Vivian, é maravilhosa, mesmo nos momentos mais difíceis. “Mesmo quando eles aprontam e nisso eles são iguais. A única diferença é que o mais velho inventa e o mais novo vai atrás”, diz Vivian, que deixou a função de gerente de loja para cuidar dos dois meninos. Coisas que mãe entende. (por Ronaldo Victoria)