Quem estudou no Grupo Escolar Monte Alegre não se esquece. Hoje a escola permanece para várias gerações apenas de forma física, como um prédio. A grande sorte é que este prédio, tombado pelo patrimônio histórico e cultural, mantém as suas características.
À frente, uma fileira de dez palmeiras centenárias que, contam os mais antigos, estão lá desde o começo. O edifício, onde já funcionou o Instituto Rumo, ganhou nova utilidade. Vai servir de sede para a Casa da Floresta, empresa que atua na área ambiental, que manteve o estilo e pintou em cores fortes, despertando a atenção na paisagem do Monte Alegre. Em agosto, o local foi também palco de apresentações teatrais, com a peça Marias.
Para quem estudou lá é uma boa notícia. Mas a saudade vem do convívio com os amigos. O empresário Fernando Retamero, 53, frequentou a escola no período que se chamava primário, o que hoje seria o primeiro ciclo do ensino fundamental. “O que eu me lembro daquele tempo era o fato de o ensino ser muito rígido. Mas acho que era assim em todo lugar. Só que para mim complicava, porque minha mãe, Cinira, era merendeira, depois servente, e se aposentou como inspetora de alunos”, conta.
Isso garantia um par de olhos atentos em tudo o que ele fizesse na escola. Fora isso, ele revela que a relação entre os alunos era boa, não havia brigas, mas não se pode dizer que a turma era unida. “Na verdade, o Monte Alegre nunca foi um bairro muito unido. Sempre houve diferenças, de acordo com o lugar em que você morava. Quem morava no Açude ou no Limoeiro não era muito bem visto”, destaca.
Já os professores, segundo Retamero, só podiam receber a definição de ‘linha-dura’. “Eu já cheguei a ganhar uns tapas, uns ‘coques’ na cabeça, mas não fiquei traumatizado. Era outro tempo”, define. Ele se lembra de todas as professoras. “Eu estudei com dona Elionete, Neide, Cida Pacheco e Terezinha. Naquele tempo, tinha duas classes para cada série, uma forte e uma fraca, dependendo do aproveitamento dos alunos. Eu sempre estive na forte”, conta o empresário, que fez depois o curso ginasial na escola estadual Sud Mennucci. “Eu não diria que o que sinto é saudade. É lembrança. É recordar um tempo especial. Afinal, que ser humano não se lembra com carinho dos seus oito anos?”
O aposentado José Luiz Tonin, 70, também dono de um dos maiores acervos fotográficos sobre o Monte Alegre, frequentou o antigo curso primário até 1955, e de lá saiu para o Senai (Serviço Nacional da Indústria), e de lá para a usina do bairro. “Eu nasci aqui no Monte Alegre, nunca saí daqui e minha referência de escola foi o grupo escolar”, diz.
Tonin conta que o ensino era rígido, mas os alunos tinham liberdade. Só que o jeito de educar era bem diferente. “Todo dia, antes de entrar, a gente fazia a formação em fila, no pátio, e tinha de cantar o Hino Nacional”, conta.
As professoras, de acordo com suas lembranças, eram criaturas doces. Lembra-se de Dona Niobe e de Alice, irmã do famoso compositor Erotides de Campos, artista que hoje dá nome ao teatro do Engenho Central. “Mas o ensino era diferente. A gente não fazia prova todo mês, como acontece hoje, só havia o exame final. Então, você não tinha muita ideia de como estava, a não ser no fim”, conta.
O relacionamento entre os alunos também era tranquilo, e Tonin conta que não havia nada que pudesse ser parecido com bullying. Porém, uma vez ele precisou mostrar uma certa valentia. “Tinha um rapaz que era tido como valentão no recreio. Provocava todo mundo e sempre se dava bem. Uma vez ele implicou comigo. Mas acontece que eu tinha uma turma da Vila Odila e a gente costumava brincar de boxe. Dei um susto nele, que depois disso nunca mais mexeu com ninguém”, revela.
De tudo, o que fica para Tonin é a saudade dos amigos. “Tem muita gente que foi embora e nunca mais voltou”, conta. Ele guarda até hoje exemplares do Jornal da Usina, que circulou entre 1942 e 1955, e separava um espaço para o Grupo. Lembra-se do inspetor, ‘seu Luís do Grupo’, “que de vez em quando dava uns cascudos na criançada”, dos diretores Luís Grosso e Wilson Stolff, e da professora Ernesta Colli. “É também lembrança de um Monte Alegre diferente, e que passou”, completa Retamero. (por Ronaldo Victoria)