Se os muros cobertos de musgo dos velhos casarões, as ruínas da usina desativada, as pedras que revestem as ruas do bairro Monte Alegre pudessem falar... Certamente, trariam à tona algumas das melhores histórias guardadas no ‘baú de memórias’ de Piracicaba.
Essa mistura feliz de tradição, arquitetura e natureza exuberante, que responde pelo nome de Monte Alegre, além de sofrer as consequências da desativação da usina, andou por um bom tempo sem muitas perspectivas de recuperação ou revitalização. Até que surgiram dois empreendedores piracicabanos, dispostos a apostar no renascimento do bairro mais charmoso que Piracicaba já teve e continua tendo. Marco Antonio Guidotti e Wilson Guidotti Júnior - o Balú, se instalaram no local há alguns anos e puseram-se a projetar um novo futuro para o Monte Alegre.
Tudo começou com a implantação de um condomínio de alto padrão – o residencial que leva o nome do bairro, que obedece aos mais rigorosos padrões de sustentabilidade. Mas eles garantem que há muito ainda a ser feito.
Nesta entrevista, Marco Antonio e Balú falam dos planos que ainda têm para o Monte Alegre, dos desafios que enfrentam para concretizar seus projetos e do potencial que o bairro carrega.
Marco Antonio Guidotti - Acredito que cada pessoa deva ter uma ideia diferente do que venha ser o paraíso, mas se o paraíso é um lugar onde as pessoas podem viver em harmonia com seus vizinhos, em contato com a natureza, usufruindo de uma infra-estrutura que permita a prática de atividades físicas de maneira saudável e ainda com uma linda vista da natureza que envolve o rio Piracicaba, sim aqui é o paraíso. Quanto à perfeição... Bem, infelizmente isso só depende do Poder Público, pois o acesso ao bairro é um verdadeiro purgatório (risos), mas temos razões para acreditar que em breve isso esteja resolvido.
Balú - Na minha visão, o maior apelo do bairro é sua arquitetura, que nos conta um pouco da sua história. Foi um bairro que foi inteiro pensado e construído ao redor de uma usina (a usina Monte Alegre). Prédios que ‘nasceram e morreram’ por conta da usina. Tudo que foi feito, construído neste bairro (escola, igreja, comércio, residências) foi planejado em função do funcionamento da usina. A prova disso é que com sua desativação, 90% do que era Monte Alegre deixou de funcionar. É o único caso de implosão demográfica de Piracicaba.
Marco Antonio - É difícil de definir, pois (o bairro) é uma somatória de coisas. É a fotografia fiel de um momento histórico, misturado com a ação do tempo e temperado com a riqueza da natureza local. Enfim, a exclusividade.
Marco Antonio - O principal desafio tem sido desenvolver projetos que não impactem de forma negativa o contexto social, arquitetônico e ambiental aqui existente. Pelo contrário, que valorizem a arquitetura e o meio ambiente com propostas inteligentes. Vamos valorizar também a comunidade local.
Marco Antonio - Sim, entre os projetos estão sendo contemplados vários espaços comerciais.
Marco Antonio – Sim, estes estabelecimentos e outros mais. Hoje não há praticamente nada de comércio no bairro, mas não adianta imaginar que alguém vá abrir qualquer comércio se não houver consumidores. O que estamos criando, em síntese, é um mercado consumidor que propiciará a implementação de atividades com foco nesse público.
Balú - A área da usina é um complexo de vários projetos e que deverá nos absorver pelos próximos anos. Pretendemos nos concentrar 100% neste projeto para que realmente ele venha a se transformar em uma referência de ocupação urbana, onde a natureza, a arquitetura, a história e tanto a comunidade local quanto a que venha a ocupar os espaços, se integrem de forma harmônica.
Marco Antonio - Estamos iniciando o desenvolvimento de um projeto que será muito importante para Piracicaba, que, sem perder de vista o contexto social local, revitaliza-rá espaços urbanos deteriorados por meio da implantação de um projeto urbanístico e de uma arquitetura contemporânea, através de projetos multifuncionais implantados de forma a valorizar sobremaneira o meio ambiente.
Marco Antonio - Não só. Me refiro também a função habitacional e industrial. O importante é que tudo seja feito de forma a não gerar conflitos. A ideia é que as pessoas possam morar, trabalhar e se divertir no mesmo bairro. (por: Cristiane Sanches)